Quem sou eu pra ter teorias sobre as coisas, mas lá vou arriscar meu palpite.
Acho que os adultos andam mais infelizes principalmente por causa da tal “liberdade”. Esse momento em que a tecnologia nos liberou de diversos padrões de comportamentos, nos mostrando que nem sempre o que era uma regra precisava ser, mexe mais com a geração que viveu isso diretamente. Explico melhor. Antes, você crescia pensando que tinha que fazer algo por sua vida, para garantir o futuro. Para isso eles aprenderam que tinha que trabalhar, ter uma carreira e ganhar dinheiro. Para isso nem sempre faziam o que gostavam de fazer, as vezes nem sabiam do que gostavam. Dizia-se também que era necessário constituir familia, em determinado momento da vida, já que uma pessoa precisava continuar seu legado, com uma esposa e filhos. (Será?)
Dai veio a modernidade, a tecnologia e a quebra de paradigmas. Nego pode ter trinta anos e ainda não ter se decidido por uma carreira, e dai? A pessoa pode ter seus trinta e poucos anos e ainda não pensar em garantir futuro, ela quer viver o agora e pronto. Quem disse que as pessoas precisam casar e ter filhos? Pra ter filhos não é preciso casar, e se a pessoa quiser morrer solteira, ela que o faça, ele não precisa ter ninguem pra caminhar com ela, ela pode muito bem caminhar sozinha se assim o desejar. Com tanta liberdade, o que acontece com nossos quarentões e sessentões?
1. Eles olham tudo que construiram, dinheiro, carreira, familia, e não sabem o que fazer com isso. O dinheiro não tem sentido, tanto dinheiro mas não sabem gasta-lo, porque aprenderam que o dinheiro tinha que ser ganhado e guardado. (Pra que, pra morte, pros filhos? Eles que façam seus proprios dinheiros!!!) A carreira, em 70% dos casos, se torna um fardo, porque eles não veem sentido em continuar fazendo algo que nunca gostaram ou que não são mais valorizados pela idade (avançada, quando se trata de mundo profissional, eles podem ser bem cruéis). A familia, cada um segue seu caminho, os filhos fazem coisas que eles jamais pensaram que podia fazer quando jovens, e fica uma mistura de pudor moral, vergonha, e também de inveja.
Nesses casos, eles tem várias saidas, mas muitos não tem coragem de mudar depois de tantos anos vivendo do mesmo jeito. E dai ficam doentes mais cedo, desenvolvem mil e quinhentas psicossomáticas, atazanam a vida dos filhos, reclamam de tudo. Ou procuram os remedios. Mas poderiam muito bem largar tudo e começar de novo, abrir uma empresa, descobrir algo que gostam e voltar a estudar, pegar o dinheiro e viajar. Alguns conseguem fazer isso e vivem bem, mas infelizmente a maioria não.
2. Alguns veem a liberdade que tem e dai se afundam nela. Voltam a ser adolescentes, e vivem aquilo que não puderam viver em suas épocas. As mulheres usam todos os cosméticos e cirurgias possiveis, trocam seus guarda-roupas, se enfiam no consumismo do nosso capitalismo, passam a sair de balada, se separam de seus maridos, mudam tudo, a vida vira uma festa. Os homens vão pra academia, malham pra ficar bombados, compram carros esportivos e saem paquerando menininhas de 18 anos (quando não de 16 no Brasil…). Se separam e começam a namorar a mais novinha gatinha do pedaço. Saem de balada e exibem seus corpos, carros e dinheiro. Alguns entram numa banda de música pra mostrar como são descolados. Outros compram todos os aparelhos tecnologios mais modernos, e equipam a casa com coisas que nem conseguirão usar.
Isso melhora a sensação anterior? Nem sempre. Em parte porque continuam se sentindo um pouco deslocados em relação a sociedade, a familia e aos colegas de trabalho. E porque nada disso tampona um fato: eles já são adultos, não importa o quanto tentem viver o que não viveram, isso não é possivel. Eles podem viver novas experiencias, mas as do passada jamais serão revividas. E, geralmente depois do auge disso, vem a tristeza, a sensação de desconforto, de não pertencer aos papeis que a vida exigem que ele viva, entre outras coisas.
Pra mim, é por isso que o suicido aumentou dessa faixa dos 40 aos 60. Porque o encontro com a vazio ficou mais evidente. Porque a vontade de entender o sentido da vida por ela mesmo fica frente a frente com eles, pedindo uma resposta, uma solução? Como viver o que nao vivi, como mudar o que não quero mais?
Se o sujeito se conforma e nada muda porque tem medo, ou porque nao sabe como mudar, deprime. Se o sujeito joga tudo pro alto e faz a festa, deprime quando volta pra casa, e sozinho, não se sente confortável consigo mesmo. Então, como fazer?
Cada um encontra sua resposta, não existe uma fórmula mágica. Mas o segredo de tudo na vida, é ter paciencia consigo mesmo, aprender a se perdoar, aprender a se dar a chance de tentar. Com calma o sujeito pode tentar se redescobrir e aos poucos se retirando desse lugar estereótipado, seja ele qual for. E nós, fruto da geração tecnologia devemos prestar mais atenção neles, tentar ajudá-los a se achar, seja conversando, seja parando de nos colocar como os filhos, netos chatos que só criticam ou ridicularizam. Nós podemos ajudá-los a achar o meio termo frente a tanta liberdade (falsa liberdade, por vezes, mas ainda sim liberdade de ser o que quiser ser).
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