O destino é um dos temas centrais do filme Slumdog Millionaire. Nele, desenvolve-se a idéia de que estamos marcados por um destino, que guia nos ações baseado em um futuro que já está escrito, predestinado. Tudo que escolhemos fazer, na verdade não seriam escolhas, seriam, na verdade, seguir o caminho do destino que está traçado para nós.
Em Lost, na última temporada que foi ao ar, fica a grande questão: será possível mudar o futuro, ou tudo que os personagens decidem fazer de formas diferentes, na verdade seria fazer exatamente o que está previsto?
No dia-a-dia na clínica, somos apresentados a questão do destino diversas vezes: será que os sujeitos que recebemos no consultório estão destinados a ser sempre errantes, sempre prisioneiros de seus sintomas, ou podem mudar? Existe mudança, ou estamos trilhando um caminho já marcado, traçado pelas nossas decisões e experiências passadas?
Quanto mais abordamos a questão do destino, menos respostas temos, mas temos muitas perguntas. E isso é bom, ter perguntas mostra que estamos caminhando. Mas uma questão muito defendida pela psicanálise é que somos sujeitos de nossa vida. Isso quer dizer que somos capazes de decidir o que fazer de nossa vida e de nós mesmos. Dessa forma, não existiria um futuro já traçado e pré-definido, e mesmo se aparentemente houvesse, nós poderíamos mudá-lo sempre que acharmos necessário. A verdade é que, na prática, as coisas acabam não funcionando desse jeito. Mas, na maioria das vezes não é por causa de um destino, e sim porque é muito difícil mudar. É mais fácil acreditar que nossa vida toma um rumo porque está escrito, do que admitir que tomamos uma decisão que foi errônea, e não tivemos coragem de mudar.
Perceber que estamos caminhando em direção a uma vida que não nos agrada e mudar não é nada simples. Pede uma reestruturação interna grande, pede uma avaliação de nossos desejos, de quem somos, para onde vamos e o que queremos. Pede uma apropriação da vida, onde somos os únicos culpados pelos erros que cometemos e continuamos cometendo. E vamos dizer que esse é um peso que nem todo mundo gosta de carregar nas costas.
Claro que a gente pode dizer que tudo está traçado, e que a vida dá sinais disso o tempo todo. Podemos acreditar que tudo está nas mão de Deus, que os erros são culpa de nossos pais, ou da falta deles, enfim, motivos para justificar uma vida que caminha aparentemente por si só, temos muitos. Mas, e se exercitássemos a responsabilização? Se todo dia, a cada escolha, a cada erro, e a cada vitória, pensássemos qual a nossa responsabilidade em tudo isso, e o que estamos fazendo para que as coisas continuem exatamente da mesma forma, ou com mudanças? Será que somos escravos de um destino, de uma vida onde não somos sujeitos ativos, no qual podemos ser donos de nossas escolhas? Será mesmo?
Aline,
adorei sua reflexão. Não acreditar na possibilidade de mudança tira todo o sentido do nosso trabalho, seja na clínica ou em outros lugares. Parabéns pelo blog, não conhecia e estou adorando. =)
Carla, Obrigada pelo comentário!
Segundo Einstein, se a gente pudesse ver nossa vida de fora do espaço-tempo, ela seria como um rolo de filme de cinema, em que cada frame teria um pedaço da nossa vida.
Se quiséssemos viajar para o futuro ou o passado, bastaria olhar dentro de um frame desses.
Isso também quer dizer que toda a história do mundo já está escrita desde o big bang, e também que a nossa vida já está escrita.
Então não temos controle de nossas vidas? Não é bem isso, mas cabe uma reflexão que um só comentário não suporta 🙂
A questão é, como a sua vida lhe mostra isso? Parece-lhe que voce já sabe o que vai acontecer na sua vida? O que Deus quer lhe mostrar com isso? É uma escolha já feita? Hoje eu acredito que sim, a nossa vida já está escrita e os problemas também, mas são para a sua evolução espiritual. Hoje sinto-me livre, feliz, mesmos com todos os problemas que tenho, mas tenho a certeza que Deus está comigo pois ele sempre me livrou do males maiores da vida. Acho que o livre arbitrio está aí, nessa escolha, de acreditar que ele realmente controla a sua vida e que mesmo com os problemas ele quer o seu bem. Seguindo-o de fé até o final da sua vida voce terá o seu premio. A salvação da sua alma, o seu crescimento espiritual e partindo para um mundo que realmente voce quer viver.
(alguns podem achar que sou louco, mas a minha vida é bem melhor assim.)
Talvez o que eu vou dizer fuja um pouco do assunto ou não faça sentido mas eu penso o seguinte, que mesmo que voce fuja do seu destino de uma forma ou outra, haverá varias opções que te levará ao mesmo fim, é meio complicado explicar, quase o mesmo que alguem que a vida toda sonhou por algo e que num certo momento algo a impediu de seguir seu rumo mas depois por “ironia do destino “acontece algo que muda tudo e leva essa pessoa ao caminho que ele sempre quis traçar e que a vida toda ela mostrou ser seu unico destino provavel. Como exemplo alguem que adorasse estudar idiomas mas nasceu num estado pobre do Brasil sem muitas expectativas e mesmo a vida a distanciando do seu sonho em algum momento da sua vida tudo o que ela quis desde o inicio começa a acontecer e essa pessoa começa concretizar o seu destino ate antes improvavel. Como se voce conseguisse cogitar o destino de uma pessoa desde a mais tenra idade, sei lá…
Eu neste momento estou a viver um conflito de pensamentos… se nasci com tudo planeado, sem direito a decidir direita ou esquerda, para que nasci? Se ja estava decidido a minha profissão, o marido que vou ter… porque nasci… qual o motivo de tantas dores, de tantas disilusões. Se gosto de uma pessoa e essa pessoa gosta de mim… o porque de não poder ficar com ela para o resto da minha vida??? Porque ja estava decidido… a vida é de fantoches? Somos quem querem que sejamos??