Já escrevi outros textos sobre a formação do analista, como este, mas o assunto sempre volta, principalmente nesses dias em que o Estado quer regulamentar a profissão dos Psicanalistas.
Sou contra, e não estou sozinha nessa luta. A população em geral não costuma entender o porquê, e acham que costumamos gostar do certo ar misterioso que envolve a psicanálise e tudo que deriva dela. Não é nada disso! Freud, lá longe, já comentava sobre a estranheza que a psicanálise causava nas pessoas! Não ficaria surpreso em ouvir que a psicanálise, que se preocupa em revelar essas forças ocultas, tornou-se assim estranha para muitas pessoas por essa mesma razão
Como saber quem é mesmo psicanalista e quem não é? Como é essa formação que não tem regras pré estabelecidas? Quem pode se dizer analista, se Lacan disse que os analistas se autorizam? Quais as garantias que tenho que vou ou não me tornar analista, se a formação não tem data de começo e fim?
Enfim, muitas perguntas como esse aparecem, tanto para as pessoas fora do meio psicanalítico, quando para estudantes que estão começando a se enveredar por esse caminho.
Não regulamentar a profissão tem seus lados positivos e negativos. O grande lado negativo, por exemplo, é que hoje temos um número muito grande de instituições e pessoas que se dizem psicanalistas, ou formadores de psicanalistas, e nem de perto o são. Mas, em dias de Google, dar uma pesquisada para descobrir quem são essas pessoas e essas instituições já ajuda. Pesquisar na plataforma Lattes também pode ajudar um pouco.
Estou falando tudo isso, e deixando mais perguntas do que respostas, para apresentar o novo livro do Antonio Quinet, A estranheza da Psicanálise, a escola de Lacan e seus analistas.
Esse é o livro mais recente, de um série de livros que abordam questões fundamentais da psicanalise e da formação do analista, e vem discutir porque nao somos a favor de uma regulamentação da profissão, e porque esclhemos a causa analítica pelas mãos de J. Lacan.
Agora que a dica foi dada, deixo um gostinho do livros para vocês!
Como nossa civilização atual, e consequentemente o seu mal-estar, advém das Torres Gêmeas, uma representando o capitalismo e a outra o discurso técnico-científico (…) A Escola não pode se deixar dominar pelas neurociências, pela industria farmacêutica, pela política dos resultados, pela lógica foraclusiva do mercado
Não há formação do analista, há formação de Inconsciente. Essa frase do Lacan remonta a impossibilidade de padronização generalizada de formação analítica para habilitar o analista à prática. O processo de formação analítica, que não deixa de existir, é necessariamente desregulamentado, pois só há formação individual, cuja responsabilidade cabe ao analista, e não tutela por parte de um grupo, Sociedade, Escola ou Estado. (…) A tendência a regulamentação está dentro da lógica atual da sociedade escópica, com a espionagem – a presença do olho do Outro, o Estado, por exemplo – e com o controle generalizados que invadem a vida privada, a pretexto de uma pretensa segurança justificada pelo bioterrorismo, e a ampliação da religião em seu aspecto mais fundamentalista. (…) A tendência a formar grupos, ou seja, uma massa comandada por um líder, é impulsionada pela negação da falta no Outro, fazendo o sujeito criar e acreditar em Um Outro sem falta personificado pelo ideal do eu, onde ele situa o líder, Um Pai, que responde a suas interrogações.
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