O número de pessoas que tenta se matar, todo dia, é enorme. A maioria dessas pessoas acaba indo parar em PS, com médicos plantonistas e Clínicos Gerais despreparados. E ai é que a coisa piora.
Na faculdade de medicina, nos cursos de enfermagem e auxiliar de enfermagem, a disciplina psicologia parece só ainda estar presente por insistência dos conselhos de Psicologia espalhados pelo Brasil. A verdade é que 99% dos estudantes da área de saúde hospitalar ou não entendem ou não gostam de estudar as coisas da psique. O mais perto que chegam dessa área são aqueles que vão para a psiquiatria ou para neurociências. Mas quem está no PS para receber esses muitos depressivos que chegam ao hospital, depois de uma tentativa de suicídio, estão longe das especialidades acima.
Por outro lado, temos muitos tipos de suicidas, e nem que eu quisesse poderia falar de todos eles. Mas, basicamente, os de primeira viagem são os que costumam ir parar no PS. Esses depressivos estão tentando se matar, mas ainda não sabem bem como ou por que. Então eles tentam aquelas coisas famosas, como beber remédios, cortar os pulsos, e afins. Em geral dá errado, porque eles não morrem, e vão parar no hospital, onde são recebidos pelo pessoal que eu falei no parágrafo acima. Esse pessoal tem na cabeça que gente depressiva é gente que não tem mais o que fazer, e o correto é fazê-los sofrer bastante, para que eles parem de encher a fila do hospital, que tem gente doente de verdade, com problemas de verdade, morrendo de verdade. Dai todos os funcionários (desde o médico à auxiliar) tratam o depressivo da pior forma possível: se for fazer lavagem, usam o tubo mais grosso, se tiver que fazer qualquer procedimento, fazem da forma mais dolorida. Enfim, fazem de tudo para o depressivo sofrer bastante, pensando que isso vai resolver alguma coisa.
Não quero aqui crucificar ninguém! Eu realmente acho que as pessoas que fazem isso, no hospital, acreditam ajudar o depressivo. E por outro lado o depressivo passa por questões que são realmente difíceis para uma pessoa, que não tem um pouco mais de conhecimento em psicologia, entender. Então qual a solução?
Em primeiro lugar, vale dizer tudo isso, e passar adiante. Tudo isso que vocês, pessoal do hospital, fazem com o depressivo, não adianta. Só vai ensinar pra ele que, numa próxima tentativa de suicídio, ele faça direito. Dali do hospital ele vai sair 99% das vezes se sentindo pior ainda, e vai então fazer o que não fez antes: estudar como se matar direito. Vai entrar na internet, em sites que ensinam como se matar, sem erro, e vai conseguir o que não conseguiu das primeiras vezes. E mesmo que ele não faça isso, mesmo que ele não tenha tanta coragem assim para levar a fundo um suicídio, no mínimo vai voltar pra casa e continuar pensando nisso, se sentindo mal, e mais depressivo.
Outro caso que em geral acontece, é que quando o depressivo vai ao PS, e ainda não chegou ao ponto de tentar o suicídio, ele dá de cara com um médico, que rapidamente lhe prescreve um antidepressivo. Em alguns casos o remédio serve, o paciente fica então anestesiado pelo efeito do remédio, e só joga o problema mais pra frente, que é quando o remédio acabar. Das duas uma: ou ele fica viciado no remédio, ou vai ficar mais deprimido ainda depois que o remédio acabar. Uma outra hipótese é que o paciente não esteja simplesmente deprimido, pode ser bipolar, e o antidepressivo prescrito pelo médico só vai piorar sua situação, acelerando a depressão ou mania.
Resumindo: depressivo que vai parar no hospital em 99% dos casos tá fudido. E obviamente os hospitais não estão preparados pra receber doentes da alma no hospital. Então, qual solução?
Para ler:
Modernidade líquida de Z. Bauman
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