Acabei de ter mais uma aula de francês. Como tenho muita dificuldade na pronúncia do R, estava pensando nas dificuldades de aprendizagem em relação a constituição identitária. No meu caso, analisando minha história pessoal, é possível entender o porquê desta dificuldade, que não se trata apenas de um desconhecimento do fonema, mas algo que está diretamente ligado a um trauma infantil com a pronuncia deste mesmo R. Sem entrar em grandes detalhes em relação a essa história, penso também em histórias de outras pessoas (adultos e crianças) e suas diversas dificuldades no aprendizado de línguas e/ou de conteúdos diversos (matemática, história, etc).
(Vale lembrar que no Podcast sobre Ensino de Língua Inglesa – que tem duas partes, eu a Prof. Dilma falamos um pouco sobre a questão identitária e como ela interfere no aprendizado de línguas. E hoje quero escrever um pouco mais sobre o assunto, porque acredito que a questão da identidade está ligada a qualquer aprendizado, suas possibilidades e seus limites).
Quando vejo uma criança com dificuldades na escola, em qualquer matéria, tento entender de que forma a dificuldade pode ser não só de conteúdo, mas de algo que não é “visível”, ou seja, uma dificuldade prática que é reflexo de um dificuldade psíquica, ligada à questões de construção identitária mesmo. Faço o convite a essa reflexão: que cada um de vocês pense sobre uma dificuldade especifica no aprendizado de qualquer coisa, e como isso pode estar ligado a questões internas, traumas, dificuldades emocionais, etc. Não é tão fácil perceber essas ligações quanto se imagina. Porque não necessariamente elas acontecem no nível consciente. Mas continuem ai pensando…
Para a Psicologia, falar em identidade é falar da noção de sujeito. Segundo Lacan (1966) “o desejo do homem encontra seu sentido no desejo do outro, não tanto porque o outro detém as chaves do objeto desejado, mas porque seu primeiro objeto (do desejo do homem) é de ser reconhecido pelo outro”. O sujeito, ou a identidade, são então construídos através de oposições, conflitos e negociações, permanentemente inventadas por estes sujeitos em um processo aberto, inacabado. A identidade aqui é compreendida com uma construção, fundamentada numa concepção de sujeito caracterizado pela fragmentação. Ao contrário de perspectivas que apontam o homem como um sujeito racional (movido fundamentalmente pela razão) ou como um ser produto do social (determinado pela sua origem sócio histórica), a identidade do sujeito pós-moderno pode ser caracterizada pela fragmentação: suas características, atitudes e valores são situados em contextos singulares.
Assim, não dá pra pensar uma disciplina ou uma linguagem sem pensar no sujeito que está ali aprendendo. A idéia e criar um o objetivo olhando os sujeitos envolvidos, porque todo processo de aprendizagem provém de alguém que tem suas marcas identitárias específicas que o localizam na vida social e que o posicionam nas situações de aprendizagem de um modo singular assim como seus interlocutores.
A construção da identidade, para a psicanálise, é um processo que passa pela língua, que, representando para o sujeito a dimensão simbólica, cria a possibilidade de que haja identificação. Ao falarmos de identidade e sujeito, falamos, portanto, de língua e de sujeitos, já que entramos no espaço do simbólico, de uma mediação simbólica que permite a produção-compreensão de uma língua. Essa imersão no simbólico que possibilita ao sujeito colocar-se na língua. (leia mais aqui)
Portanto, supor que as dificuldades de um sujeito em relação a um disciplina ou língua está situada somente no consciente, no lado racional e prático é ignorar toda uma série de relações que influenciam aquele sujeito e sua história.
Deixo vocês com essas reflexões, e trago alguns vídeos do Café Filosófico, com o programa tema “O que forma o sujeito hoje?. São vários vídeos, mas vale a pena refletir um pouco sobre essas questões.
não da pra ver o vídeo, preciso muito!!!