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A inclusão e nossos limites pessoais

As pessoas têm seus limites. Acredito que elas fazem o que podem, diante das situações, e por isso sempre fazem o seu melhor. O melhor delas pode não ser o que se espera que façam, mas isso não siginifica que não estão se esforçando. Analisar as ações do outro baseados na nossa realidade e no nosso pré-julgamento não adianta nada nesses casos. O nosso máximo esforço pode ser muito diferente do máximo esforço do outro, e ao nossos olhos pode parecer que os outros não se esforçam. Mas isso é sempre um engano. As pessoas sempre dão o melhor de si, mas o melhor de cada um é sempre muito diferente.

Quando lidamos com criancas com deficiências, rapidamente entramos em contato com os nossos limites, e nossa habilidade de julgar o outro baseado na nossa realidade. E por isso que a inclusão é tão dificil, e por isso tem sido tão falha. Como podemos entender a realidade do deficiente visual, quando enxergamos perfeitamente? Como podemos entender as dificuldades diárias, nas atividades do dia-a-dia, nas atividades escolares, quando nossa vida é completamente diferente?

Alguns profissionais desenvolveram cursos e materiais que possibilitam uma espécie de vivência. Os pais, professores e interessados passam o dia com olhos vendados ou com um óculos que simula a forma como eles enxergam. Se colocarmos no papel o número de interessados em fazer esse curso, em relação as pessas que trabalham com educação e deficiência visual, o número desanima. A verdade é que nem todos estão dispostos a sair de seus confortáveis lugares e passar um dia que seja vivendo a realidade de outro, e suas dificuldades. Isso tudo mexe muito na psiquê de cada um, e nem todos aguentam o tranco.

Tudo isso nos faz voltar ao início de tudo, que é, cada um faz o que pode, cada um faz o seu melhor, mas não necessariamente esse melhor é o melhor para o outro. As minorias têm que se adequar a todo um mundo diferente e muito mais difícil do que a realidade delas.

A inclusão não funciona, porque ela não é só externa. Não é só a forma como o professor age com o aluno, como a escola disponibiliza ou não material didático para os alunos. A inclusão começa dentro de cada um. E isso não é fácil pra ninguém. Abandonar concepções que muitas vezez acompanham a pessoa por toda uma vida não é nada fácil, quando se tem tantas certezas, e poucas dúvidas, questionar parece muito dolorido e desnecessário.

Para incluir, temos que julgar menos, temos que sair da nossa zona de conforto, sofrer um pouco, questionar mais, se colocar mais no lugar do outro, mas não partindo da nossa realidade, e sim partindo da realidade do outro. Quando fazemos esse movimento, não obtemos muitas respostas, mas construimos mais perguntas, e assim começamos vagarosamente a mudar algo dentro de nós mesmos. Essa é a pequena semente, do começo de um processo que poderá se tornar inclusivo.

Utópico? Na realidade social de hoje parece que sim. Mas quando olhamos o trabalho de centenas de pessoas que lidam com a questão da inclusao por paixão (ou necessidade), ai percebemos que nada é impossível quando se quer. O duro é querer. E ainda não temos a capacidade de fazer o outro desejar os nossos desejos. E isso também não nos dá direito de julgá-lo. Só nos coloca numa posição delicada. Ter empatia é muito difícil, super delicado, e por vezes frustante, porque não tem nada a ver com justiça.

Tenham em mente: incluir não é só encher a escola de materiais novos. também não é somente aumentar letras e disponilibizar livros em braile. Não se trata de empurrar para frente o aluno deficiente, no sentido de fazer menos para que ele passe mais fácil. O aluno deficiente visual é tão inteligente quanto qualquer outro aluno, só precisa de uma outra realidade para se desenvolver. A inclusão começa quando nos interessamos em descobrir quais são as diferenças do outro, como eles lidam com isso, e se tenho interesse em ser algum tipo de facilitador para seu processo de aprendizagem/desenvolvimento.

Querem nos calar

Querem nos calar

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Na internet todos temos  direito de expressar nossas opiniões. Ou deveríamos. Por isso tivemos explosões de blogs/ páginas pessoais, redes sociais. Todo mundo queria falar alguma coisa sobre qualquer coisa. Todo mundo queria ser ouvido. Até que as pessoas começaram a se ler, ou melhor, ler o que os outros estavam dizendo por ai.

Com tantas opiniões diferentes, a moda agora é discordar. É apontar no discurso do outro todas as falhas que ele deixa transparecer, seja sobre sua personalidade, seu caráter, ou sobre qualquer outra coisa menor. Se você é a favor do Lingerie Day, um bando de gente vai apontar o dedo, criticar, rir da sua cara, dizer que você é menos humano, burro ou ingênuo. Se você é contra o Lingerie Day, outra patotada de gente vai dizer que você é menos humano, burro ou ingênuo. Se você é a favor do Polanski, vão querer te convencer que você está errado. Se você é contra, outra metade vai dizer que você não é ponderado. Resumindo: ter uma opinião e divulgá-la na internet te torna uma pessoa com problemas. Ser contra ou a favor de algo te coloca na berlinda.

Outra moda é falar mal da classe média. Eu e o Rodrigo (@cheapo) estávamos conversando sobre isso outro dia. A culpa é da classe média por tudo: ela é culpada pelo trânsito, pela fome, por pagar seus impostos em dia ou atrasado, por não colocar seus filhos na escola pública e lutar pela educação, etc, etc. Antes era moda falar mal da classe alta, e antes disso da classe baixa. Mas o fato é que a culpa sempre ter que ser só de uma parte das pessoas, nunca de todas. (Esqueci que somos divididos entre mocinhos e vilões, e alguém tem que ser o vilão para que eu possa ser o herói ou a mocinha.)

O fato é que não podemos ter uma opinião, principalmente se ela for diferente da de alguém. Há o grupinho das pessoas que querem te calar, porque a verdade é que ninguem gosta da diversidade. Ninguem gosta de opiniões contrastantes. Deveriamos ser todos iguais. E tem um bando de gente ai na internet pra encher teu saco se você é diferente e insiste em argumentar sobre isso.

A internet reproduz o que acontece na sociedade já faz tempo: felizes são aqueles que se calam, pois esses não são julgados, não são usados como símbolo do mal/bem, não são atacados/idolatrados ou almadiçoados/abençoados. Feliz é aquele que não tem opinião, ou não tem coragem de defendê-la. Mais felizes ainda são aqueles que ficam no computador, sentados, esperando alguém divulgar uma opinião e defendê-la. Estes estão sedentos por alguém para apontar, criticar, rir e julgar. Desses e dos quietos temos muitos.

Ter opinião não é fácil. É necessário crítica pra não entrar na dos outros sem nem saber porque. Mas, precisa ter peito mesmo é pra dizer sua opinião e sustenta-la. Mais peito ainda para, eventualmente, perceber que estava errado e voltar atrás. Num mundo onde muitas pessoas estão antenadas para quem será o proximo alvo a ser apontado, você  que sustenta sua postura e assume seus erros, você pode ser a próxima víitima.

Obs.1: Somos divididos em rebanhos, não é mesmo? Há o rebanho dos sem opinião (ou sem coragem) e o rebanho do vamos apontar dedos e falar mal disso agora. Nao querer participar de um rebanho te deixa sozinho, e isso te deixa vunerável.

Obs 2: Ninguém é totalmente inocente: quantas vezes nós mesmos entramos  no rebanho dos que não aceitam opiniões diferentes, e ficamos apontando as falhas do outros? A mudança sempre começa em casa, por nós mesmos.

O diferente que incomoda

cavalo ideal

O imperativo de gozo da nossa sociedade capitalista é um dos maiores causadores do nosso sofrimento “contemporâneo” (se é que há algo de contemporâneo nisso). Você deve comer tudo que se vende nos melhores restaurantes, andar no melhor carro, ter os melhores aparelhos eletrônicos que te fazem passar o dia sentado numa cadeira e depois ainda têm que ser magros como as modelos anoréxicas da tv. Querem te fazer acreditar que vê pode um dia ser um cavalo, mas a verdade é que isso nunca vai acontecer. Somos diferentes.

A casa dos mortos

Assisti esse vídeo pelo blog Psicologia dos Psicólogos, e me sinto na obrigação de passar adiante.

O Filme

Bubu é um poeta com doze internações em manicômios judiciários. Ele desafia o sentido dos hospitais-presídios, instituições híbridas que sentenciam a loucura à prisão perpétua. O poema A Casa dos Mortos foi escrito durante as filmagens do documentário e desvelou as mortes esquecidas dos manicômios judiciários. São três histórias em três atos de morte. Jaime, Antônio e Almerindo são homens anônimos, considerados perigosos para a vida social, cujo castigo será a tragédia do suicídio, o ciclo interminável de internações, ou a sobrevivência em prisão perpétua nas casas dos mortos. Bubu é o narrador de sua própria vida, mas também de seu destino de morte.

Indicação de Leitura

Da sexualização das meninas

“.: Há este livro chamado Senhorita Else, escrito por Arthur Schnitzler e publicado em 1924. Não é um romance, exatamente, pois sua forma condensada o aproxima mais da novela. Trata-se de um relato, em primeira pessoa, de uma jovem, Else, que está numa espécie de hotel (ou colônia de férias, já não me lembro dos detalhes), onde se reúne a alta burguesia austríaca, e recebe uma carta de seus pais com um pedido e algumas instruções. Seu pai está falido e precisa de dinheiro, e cabe a ela recorrer a um homem rico, conhecido de seu pai. Else obedece, procura o homem, e ele impõe uma condição: que ela se mostre nua para ele. Estou prestes a contar o final: ela aceita, porque se vê completamente sem saída, com o futuro da família nas mãos, e entre o êxtase, a raiva, o desespero, ela vai salão de festas, onde estão todos – inclusive seu "salvador" – , vestida apenas com um casaco de peles, e despe-se. Escândalo, susto, horror…”

Continue lendo aqui.

Nunca completo. Sempre faltará algo.

Este blog está sempre em construção. Costumo ter idéias o tempo todo. Em geral, se deixo de escrever por falta de tempo, ou porque a idéia ainda não está muito clara, acabo nunca escrevendo. Isso é fato. As coisas nunca ficam perfeitas do jeito que queremos, até porque isso não existe.

Assim, escolhi escrever sempre, mesmo que a idéia ainda esteja confusa, mesmo que o texto tenha ficado muito denso, mesmo que a gramática não esteja no seu melhor. A idéia é que todos podem dar suas opiniões, críticas e sugestões. Estou aqui aberta para isso.

Obrigada por ler! Até mais.

Vendemos nossa alma para o Capitalismo

Quando começou a briga entre Rede Globo e Rede Record, ficou difícil tomar partido. A Rede Record tem por base uma igreja criada por um homem de grande má fé, e a Rede Globo por anos manipulou as noticias, entre tantas outras coisas. Sempre pensei que o jornalismo e os meios de comunicação não poderiam ter fins lucrativos, porque só assim ficariam livres de sempre querer vender uma história, um político, uma religião, uma idéia.

No jornalismo de papel sempre foi a mesma coisa. Por mais que os jornalistas se considerem livres para falar de noticias, eles ainda estão sujeitos ao dono do jornal que trabalham, que podem vetar matérias, ou influenciar temas. Enfim, todo o meio de comunicação, pelo menos no Brasil, parece ser vendido, tem um pé na merda.

Em tempos de avanço da tecnologia, surgiram os blogs. Parecia ser a revolução da era da noticia, já que, uma vez que não tinham rabo preso, poderiam falar do que quisessem, quando quisessem e como quisessem. E ai muitos o fizeram, criticando abertamente produtos, empresas, idéias. Até que alguns perceberam que isso podia dar dinheiro, e a coisa voltou toda pro começo. Grandes bloggers blogueiros começaram a ser pagos para falar bem de produtos, ou começaram a colocar anúncios que, em 70% das vezes são anúncios de produtos que o próprio blog critica.

Falei de tudo isso pra chegar nesse ponto: pelo que parece, todos se vendem, em algum momento da vida. As pessoas “pequenas”, que poderiam fazer diferença, e tanto criticam os “grandes”, na primeira oportunidade de ganhar dinheiro fazem exatamente a mesma coisa que antes criticavam. Será que é tão utópico querer defender nossos valores pessoais, ou será que andamos tão preguiçosos para insistir no que acreditamos?

…

Na internet, as pessoas têm buscado cada vez mais ser relevantes naquilo que fazem, sejam elas boas ou não. E o que tem acontecido é que muitas pessoas sabem fazer marketing pessoal, ou seja, fazer com que outras pessoas pensem que ela realmente é aquilo tudo que ela quer ser. O problema disso é que, em geral, as pessoas que realmente são boas no que fazem não estão preocupadas em se vender como imagem. Elas estão preocupadas em fazer o seu trabalho direito. Porém, em terra de brasileiro, todo marqueteiro é rei. E dai que as pessoas que são consideradas relevantes, em geral não o são. Mas acabam convencendo a grande massa disso, e realmente passam a vender idéias como ninguém. E isso se torna um ciclo vicioso, porque, quanto mais marqueteiras são, mas são reconhecidas, e mas são vendidas. Enquanto que, quem está de fora vendo tudo isso, mais acha horrível e mais quer distância dessa realidade. Então hoje, o que temos na internet, é o mesmo movimento que já vinha acontecendo com a noticia: quem é responsável por noticiar, criticar, refletir, são pessoas que tem rabo preso.

(O próprio Lula, passou anos lutando por um ideal, e quando percebeu que não estava conseguindo a sua maneira, contratou pessoas de rabo preso para fazer sua campanha, e ao chegar na tão desejada presidência começou a fazer exatamente o que ele criticava. E pior, passou suas duas candidaturas não vendo as coisas a sua volta. Não querer ver o que está na nossa frente é pior do que ver e não fazer nada.)

Todos temos que pagar nossas contas do final do mês. Posso parecer utópica, mas acho que sempre é possível fazer isso com um mínimo de dignidade. Somos uma sociedade que padece de doenças da alma, afinal, como podemos ir dormir a noite, quando passamos o dia ganhando dinheiro indo contra aquilo que acreditamos? Ou pior, vendendo para outros algo que sabemos não ser bom. Enchemos nossos bolsos fazendo com que os outros gastem o seu em porcaria. Pagamos nossas contas com dinheiro de valores vendidos, morais tortas, e enganando pessoas que acreditam estar sendo bem influenciadas. Depois nos perguntamos por que nossa sociedade anda sofrendo tanto do psicológico.  São as doenças do ser, porque pelo ter, estamos deixando de ser.

Se parece não haver outra forma de pagar nossas contas, então estamos caminhando pro lado errado. É nossa obrigação achar uma forma nova, se a que existe obviamente não satisfaz. Qual? Bom, podemos começar dando o primeiro passo, que é não vender nossa alma por qualquer cem reais, por mais difícil que isso seja.

Rápidas

Logo sai o podcast que eu venho prometendo desde o ano passado!

Também vai sair do papel um projeto de um documentário sobre Baixa Visão (ou visão subnormal). Portanto, se tiver idéias e/ou quiser colaborar, podem mandar um email pra mim!

Tenho usado o Google Reader, e achei muito interessante compartilhar notícias e afins. Portante se você já usa, me acha lá, e se não usa, procure saber e experiemente! (alinesieiro@gmail.com)

O destino está escrito?

O destino é um dos temas centrais do filme Slumdog Millionaire. Nele, desenvolve-se a idéia de que estamos marcados por um destino, que guia nos ações baseado em um futuro que já está escrito, predestinado. Tudo que “escolhemos” fazer, na verdade não seriam escolhas, seriam, na verdade, seguir o caminho do destino que está traçado para nós.

Em Lost, na última temporada que foi ao ar, fica a grande questão: será possível mudar o futuro, ou tudo que os personagens decidem fazer de formas diferentes, na verdade seria fazer exatamente o que está previsto?

No dia-a-dia na clínica, somos apresentados a questão do destino diversas vezes: será que os sujeitos que recebemos no consultório estão destinados a ser sempre errantes, sempre prisioneiros de seus sintomas, ou podem mudar? Existe mudança, ou estamos trilhando um caminho já marcado, traçado pelas nossas decisões e experiências passadas?

Quanto mais abordamos a questão do destino, menos respostas temos, mas temos muitas perguntas. E isso é bom, ter perguntas mostra que estamos caminhando. Mas uma questão muito defendida pela psicanálise é que somos sujeitos de nossa vida. Isso quer dizer que somos capazes de decidir o que fazer de nossa vida e de nós mesmos. Dessa forma, não existiria um futuro já traçado e pré-definido, e mesmo se aparentemente houvesse, nós poderíamos mudá-lo sempre que acharmos necessário. A verdade é que, na prática, as coisas acabam não funcionando desse jeito. Mas, na maioria das vezes não é por causa de um destino, e sim porque é muito difícil mudar. É mais fácil acreditar que nossa vida toma um rumo porque está escrito, do que admitir que tomamos uma decisão que foi errônea, e não tivemos coragem de mudar.

Perceber que estamos caminhando em direção a uma vida que não nos agrada  e mudar não é nada simples. Pede uma reestruturação interna grande, pede uma avaliação de nossos desejos, de quem somos, para onde vamos e o que queremos. Pede uma apropriação da vida, onde somos os únicos culpados pelos erros que cometemos e continuamos cometendo. E vamos dizer que esse é um peso que nem todo mundo gosta de carregar nas costas.

Claro que a gente pode dizer que tudo está traçado, e que a vida dá “sinais” disso o tempo todo. Podemos acreditar que tudo está nas mão de Deus, que os erros são culpa de nossos pais, ou da falta deles, enfim, motivos para justificar uma vida que caminha aparentemente por si só, temos muitos. Mas, e se exercitássemos a responsabilização? Se todo dia, a cada escolha, a cada erro, e a cada vitória, pensássemos qual a nossa responsabilidade em tudo isso, e o que estamos fazendo para que as coisas continuem exatamente da mesma forma, ou com mudanças? Será que somos escravos de um destino, de uma vida onde não somos sujeitos ativos, no qual podemos ser donos de nossas escolhas? Será mesmo?

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