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Fernando Pessoa III

Tenho pena e não respondo

Tenho pena e não respondo.
Mas não tenho culpa enfim
De que em mim não correspondo
Ao outro que amaste em mim.

Cada um é muita gente.
Para mim sou quem me penso,
Para outros --- cada um sente
O que julga, e é um erro imenso.

Ah, deixem-me sossegar.
Não me sonhem nem me outrem.
Se eu não me quero encontrar,
Quererei que outros me encontrem?

                  Fernando Pessoa

Fernando Pessoa II

Não, não é cansaço...

Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar.
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.

                     Álvaro de Campos

Fernando Pessoa

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

                      Álvaro de Campos

Uma mente brilhante

Eu choro toda vez que assisto esse filme. Alias, chega uma hora que não paro mais de me emocionar. É muito bonito ver o trabalho de uma pessoa tentando se livrar de seu sintoma, de suas loucuras.

O filme fala de uma esquizofrenia, mas é possivel fazer um paralelo com o trabalho de análise. Como ele, chegamos num ponto em que sabemos do nosso sintoma, mas simplesmente não conseguimos nos livrar dele. Porque sempre tem algo bom junto. A cena que ele se despede do amigo e da menina e diz: Olha, você foi um grande amigo, mas não vou mais conversar com você. Essa cena mostra o exato momento no qual ele decide não mais se deixar levar pelas coisas boas do seu sintoma. Mas o sintoma não o deixa. Continua com ele ate o fim da vida. E assim é também a análise. O Sintoma nunca nos deixa, fica sempre junto com a gente. O que fazemos e não nos deixar enloquecer por ele.

Uma outra cena, em que ele insistentemente vai para a faculdade, e todos o acham estranho, todos tiram sarro dele. Mas mesmo assim ele persiste. E não é assim com todos nós, quando vamos procurar um psicólogo, as pessoas a nossa volta não entendem, não concordam e acham isso estranho. Mas insistimos para que algo de bom aconteca no final.

Me emociono toda vez que vejo esse filme porque acho bonita a luta dele contra ele mesmo. E isso também é muito bonito de se ver em análise. Brigramos o tempo inteiro com coisas que estão dentro de nós mesmos. E como é dificil essa luta. E como é bonita e recompensante no final.

O que tem nos seus Feeds?

Tenho uma lista de sites e blogs que leio diariamente, ou semanalmente, ou melhor ainda, sempre que possível. Dai que leio coisas muito legais, e fico pensando que todo mundo devia ler também. Dai fiquei com essa pergunta: quais são as coisas que lemos e que gostariamos que os outros lessem também?

Bom, vou contar aqui um pouco do que leio na semana, quem sabe interessa a alguém. E gostaria de saber também o que gostam de ler, tô precisando ler umas coisas diferentes.

1. Zeca Camargo http://colunas.g1.com.br/zecacamargo/

Se você acha os meus textos grandes, então você ainda não está preparado para o Zeca. Os textos dele, além de grandes, são ótimos, e aconselho. Toda segunda e quinta ele fala sobre qualquer assunto, com mais preferencia para Musica, Filme e Livros.

2. Contardo Calligaris http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2003200829.htm

Ele é um psicanalista que escreve toda quinta para a Folha. Escreve sobre tudo, sempre dando sua opinião e pitadas de psicanálise. Pra ler ele tem que ser assinante uol ou folha, ou comprar a folha toda quinta.

3. Post Secret http://postsecret.blogspot.com/

Esse blog tem uma proposta que acho fantástica. A idéia é que as pessoas contem seus segredos mais intimos em um cartao postal e mandem para eles. Dai eles publicam os melhores. Atualizam todo domingo.´Eu acompanho a mais de um ano e acho fantástico.

4. Te dou um dado http://tedouumdado.blogspot.com/

Quer saber das noticias do mundo das celebridades e fofocas de um jeito muito engraçado? O pessoal do tdud escracha as noticias de uma forma hilária e as vezes até pesada, mas é impossivel não ler. Atualizam sempre que sai alguma noticia interessante sobre alguma celebridade.

5. Leonardo Ferrari http://leobelferrari.blog.uol.com.br/

Ele é um psicanalista que fala de tudo, principalmente de politica e economia do Brasil e do mundo, sempre com comentários psicanalíticos.

6. Ana Maria Bahiana http://www.bloglog.globo.com/anamariabahiana/

Ela conta sempre as novidades e fofocas do mundo do cinema de Hollywood.

7. http://casal10.evonblogs.com.br/

Esse blog é de uma jornalista que conheci quando fiz meu ensaio na Criativa. Na verdade o blog é dela e do marido. Eles postam sobre Games, Coisas Nerd em geral, mas também sobre algumas noticias e algumas coisas politicas. Recomendo.

8. Tiul http://tiulskingdom.blogspot.com/

Ele é um gay hilário, e no seu blog conta histórias da sua vida. As histórias não podiam ser mais engraçadas. Pra quem gosta do mundo gay, vai se divertir muito com as histórias.

9. Legendado http://tv.globo.com/ENT/Colunas/0,,5473,00.html

Pra quem é viciado em series de tv, esse site te conta tudo sobre isso. Comenta os episodios, fala sobre series novas ou canceladas, enfim, tudo sobre séries.

10. Diario da Prô http://diariodapro.blogspot.com/

Esse é o blog de uma amiga do meu marido, lá ela conta histórias de sala de aula mas também fala da sua vida pessoal.

11. Binário http://binario.thechip.net/

Esse é o blog do meu marido, ele fala de coisa de Nerd e tecnologia. Olha que eu não sou fã dessas coisas, mas sempre gosto de ler, e não é porque é meu marido.

Agora to querendo variar, alguém indica ?

Os relacionamentos e o Sintoma

Quando recebemos um sujeito em análise, este vem com um pedido. Por exemplo: Quero aprender a não ser tão dependente das pessoas; Tenho muito medo de andar sozinho na rua de noite e isso me prejudica, quero não ser mais assim; Sou muito ciumento e isso preudica meus relacionamentos, quero aprender a me controlar. Enfim, muitos são os pedidos dos sujeitos quando estes procuram uma análise. Se procuram uma análise é porque algo os incomoda e eles querem fazer algo a respeito daquilo. Assim, dizemos que todo sujeito vem com uma demanda, um pedido. Isso é o sintoma, o que se apresenta no inicio de uma análise endereçada como um pedido ao analista, na forma de uma demanda.

Mas nada é assim tão simples. Por que, Freud ja dizia isso a cem anos, nem sempre a demanda é o problema de verdade. Nem sempre o sintoma coincide com aquilo de que o sujeito se queixa. Em 99% dos casos é preciso investigar, ir mais além da queixa inicial pra realmente se descobrir qual é o sintoma, que é onde tudo começou. Por exemplo, um sujeito que vai buscar análise porque tem medo de andar sozinho a noite. O Sintoma principal deste sujeito não está em andar a noite, o medo de andar a noite é só a forma como o sintoma aparece. Mas dai precisamos entender de onde vem isso, como começou, e muitas vezes vamos lá longe na infância pra descobrir uma coisa que hoje aparece no medo de andar a noite. E muita vezes encontramos muitos outros sintomas atrelados a este, que também precisam ser trabalhados.

Todo sujeito tem um sintoma mestre. Aquele sintoma que é responsável por todos os pequenos sintomas em sua vida. Esse é dificil de trabalhar, porque geralmente tem um bem secundário muito grande. Freud dizia que, se o sintoma é tão ruim, então porque os sujeitos os levam por uma vida toda? Porque não conseguem sozinhos se livrar deles? Porque junto como sintoma, está o bem secundário. É como se toda coisa ruim tivesse atrelada a uma coisa boa, e por isso ficaria tão dificil se livrar do ruim. Por exemplo: Se tenho medo de andar de noite no escuro, então meu marido sempre me busca de carro no trabalho. Isso era a mesma coisa que meus pais faziam, me buscavam na escola, na casa dos amigos, e é tão bom porque me sinto protegida, querida, e também porque ficamos mais tempo juntos, já que em casa a gente nunca tem tempo de conversar. Entenderam o exemplo? Esse simples exemplo as vezes leva meses pro sujeito perceber o que de bom tem no seu sintoma, e por isso também não quer se livrar dele. Todo sintoma tem seu bem secudário. Por isso damos mil desculpas pra não deixar de ter o sintoma, mas no fundo o bem secundário é uma das grandes dificuldades, entre outras claro, de se livrar de um sintoma.

Alias, o sujeito se livra de seu sintoma? Segunda Lacan, não. O sintoma estã tão atrelado a nossa vida e existência que não existe uma forma de extingui-lo. Então pra que servem os anos e anos de analise? Pois é, servem pra muitas coisas. Primeiro pra identificar o sintoma e o bem secundário, e esse trabalho já demora, porque até você chegar no seu sintoma mestre, você passa por varios pequenos sintomas antes, e dai vai descobrindo que ainda sempre o buraco é mais embaixo. E quando você finalmente chega no seu sintoma mestre (se chega, porque o caminho é doloroso e muitas pessoas abandonam a análise), dai sim você vai pensar como dar conta dele. Lacan defende que, o que o sujeito pode fazer com seu sintoma é torná-lo um estilo de vida, fazer dele algo de bom, ou seja, continua-se com o sintoma mas se aprende a lidar com ele na vida, de forma que isso não pejudique mais o sujeito, e sim se torne algo construtivo para ele. Dificil né? Eu sei, nada é fácil mesmo.

Mas porque estou falando tudo isso? Porque isso se aplica nos relacionamentos. Quando escolhemos alguém para namorar ou casar, escolhemos alguém baseados no nosso sintoma. É um casamento de sintomas, na verdade. E por isso ocorrem muitas separações, ou muitos namoros não dão certo. Dando um exemplo bem simples (nada é tão simplista como escrevo aqui, só o faço para ilustrar as situaçãos ok?) Maria gosta de cuidar de pessoas, tipo maternalmente mesmo. Gosta de mandar e ser obedecida. É obcecada por estudos e gosta de ensinar o tempo todo. Paulo é um eterno bebê, sempre esteve embaixo das asas da mãe, essa que fez tudo pra ele, nao o ensinou a ser adulto e assim Paulo tem grande dificuldade em tomar decisões e ir atras de um futuro pra si. Maria e Paulo se conhecem e se apaixonam loucamente. Um completa o sintoma do outro. ´Tudo vai dando certo, e pode dar certo até o fim da vida. Ou em certo momento da vida, Maria ou Paulo não estão mais satisfeitos com a pessoa que são. Maria percebe que os beneficios de ser mãezona e de cuidar são poucos em comparação com o cansaço que ela fica por ter que decidir tudo sempre. Ou se não ela, Paulo percebe que é muito imaturo, e acha que está na hora de cuidar de si mesmo, e assim não deseja mais alguém que cuide dele. Conflito. Os sintomas não se completam mais!!!

Isso acontece bastante quando um do casal faz análise, mas nem precisa fazer analise pra isso acontecer, muitas vezes acontece de forma natural na vida dos sujeitos mesmo. Os sintomas acabam não se mostrando suficientes para viver. Os bens secundários não são assim tão bons, e o sujeito quer mudar. Muitas vezes simplesmente muda o sintoma de lugar, ou, no caso da analise, dá outro caminho pra seu sintoma, e ai?

(É por isso que tendemos a escolher sempre o mesmo tipo de parceiro na nossa vida, já pararam pra perceber que, no fundo, todos nossos parceiras eram muito parecidos em pelo menos uma coisa?)

Bom, dai que se o casal ainda quiser ficar junto, é preciso se ajustar. Se o sintoma que os prendia já não cabe mais, não serve mais porque nao esta mais presente pra uni-los, é preciso que esse casal consiga achar outras formas de continuar unido, de continuar juntos. Eles podem se adaptar a um relacionamento diferente do que tinham antes, e pode dar muito certo, pode dar mais certo do que antes. Porque pode se tornar um relacionamento no qual de fato ambos estão juntos por um sentimento, e não só por um sintoma. Mas o que acontece em grande maioria dos casos é que só um consegue lidar com a mudança, e o outro, ainda preso em seu sintoma, não entende porque tudo mudou, e continua sua jornada buscando outras pessoas que possam preencher seu sintoma.

Por isso relacionar-se é tão complicado. Porque além de ter um sentimento que os una, o casal precisa ver também a quantas anda seu sintoma, que de fato está o tempo todo mudando, então o casal tem que ir se adaptando o tempo todo. E nem todo casal consegue isso. E não só nos casais, mas em todo tipo de relacionamento, como os familiares, pais e filhos, como também no trabalho, amigos de trabalhos e seus chefes, enfim, essa questão do sintoma cabe a tudo isso.

Sou uma pessoa muito a favor dos relacionamentos. Acredito que relacionar-se é uma necessidade fundamental dos seres humanos. Aprendemos muito nos relacionamentos, não só de nos mesmos, mas dos outros também. E vejo a beleza que é as pessoas sempre tentando superar suas dificuldades, sempre acreditando que encontrarão alguém a quem se sentirão mais próximas, as vezes casando vários vezes pra isso, outras vezes casando com um só homem e tentando dar conta das mudanças, enfim, relacionar-se não é pra qualquer um. É belo, e dificil, um caminho que vai se construindo ao mesmo tempo em que se vai vivendo.

Por isso defendo tanto a bandeira contra o excesso de tecnologia e seus vicios atrelados, porque ela, quando usada de forma errada (como acontece hoje em 90% dos casos) tira e encurta isso que temos de melhor em nós: a capacidade de se relacionar de forma profunda com outros seres humanos.

A busca da felicidade*

*texto baseado em uma palestra maravilhosa do Prof. Dr. Alberto Luis Hanns

A busca da felicidade nasceu a pouco tempo. Será que veio junto com o capitalismo? Vamos pensar um pouco. Cem anos atrás, quando os pais tinham filhos, perguntávamos a eles: “O que desejam para seus fihos?” Entre as respostas mais comuns estavam: “Quero que tenha um bom emprego”, “Quero que tenha um bom casamento e filhos”, “Quero que consigam uma boa casa e dinheiro”. Quase nenhuma, pra não dizer nenhuma das respostas era sobre felicidade. Hoje, quando se nasce um filho, uma das primeiras coisas que os pais desejam é “Que sejam felizes”.

Olhando mais de perto a sociedade de cem anos atrás, o que podemos dizer dela? O que era esperado de uma pessoa? Em geral, era esperado que, se fosse homem, continuasse os negócios do pai, e se este não tivesse negócio, que o filho conseguisse um bom emprego, um emprego que desse dinheiro,e melhor ainda se gerasse riqueza. Era também esperado que ele arranjasse uma boa mulher, e tivesse filho. No caso da mulher, era esperado que ela arranjasse um bom casamento, conseguisse ter filhos, e fosse uma boa dona de casa. E a felicidade? Bom, se sobrasse tempo, ou se tivessem sorte, daria tempo também pra ser feliz. Quem sabe a esposa além de ser boa podia despertar uma paixão, ou quem sabe o emprego além de dar dinheiro pudesse ser legal. Mas isso não era importante. O importante era passar pela vida, sobreviver e seguir as regras sociais.

O que mudou? O lugar do desejo, eu diria. Antes, podiamos desejar o quanto fosse, mas jamais colocariamos ele em primeiro lugar. Primeiro sempre a obrigação, as responsabilidades, as regras sociais, a sobrevivência, e depois quem sabe se der tempo o desejo. Mas, com a mudança das condições de sobrevivência do mundo, a liberdade de pensamento e opiniões, e com a mudança da sociedade, a gente passou a poder pensar no nosso desejo. Os filhos, quando cresciam, não precisavam mais trabalhar no que desse dinheiro ou na empresa dos pais. Eles podia escolher uma profissão que os agradasse. Esse foi o primeiro grande momento em que o desejo passa a ser colocado em primeiro lugar. Mesmo os mais pobres passaram a tentar trabalhar para ganhar dinheiro sim, mas em algo que gostassem. Na sequência, as mulheres não precisavam casar com o homem de bons dotes, poderiam permitir-se apaixonar e escolher o marido com quem iriam passar o resto da vida. Novamente ai o desejo vindo em primeiro lugar. E assim muitas outras pequenas coisas foram nos permitindo desejar e ir atrás dos nossos desejos.

O que eu quero dizer com tudo isso é que a idéia de felicidade é cultural. Em alguns lugares ainda hoje se pensa desta forma, e em outros existe o culto do desejo. Ser feliz é algo que surgiu com a nossa cultura. E no momento vivemos o excesso da felicidade. Nossa sociedade capitalista e líquida (Leiam Bauman) prega a hiperfelicidade. Só que essa felicidade é idealizada, se faz uma idealização de uma vida a ser vivida. Não é a toa que se fala tanta em depressão. Porque essa felicidade que se vende não é real, não está ao nosso alcance, ela não existe. Vou explicar melhor.

O que é ser feliz hoje, segundo nossa sociedade? Bom, a lista é grande, mas entre os principais itens estão:

– Ter um emprego que eu goste.

– Que este emprego me dê dinheiro suficiente pra eu fazer tudo que quero e preciso.

– Ter uma casa boa.

– Que esta casa seja num bom bairro.

– Ter um marido (esposa) que eu seja apaixonada(o).

– Ter filhos saudáveis e bonitos.

– Que meus filhos estudem numa boa escola.

– Que eles sejam inteligentes.

– Ter saude, ou seja, estar sempre em dia com meus exames e médicos.

– Ter um corpo bonito saudável e sarado.

– Portanto, ter tempo de ir na academia todo dia.

– Ter um bom carro, pra me locomover com segurança.

– Ter uma dieta saudavel, rica em proteinas e vitaminas.

– Ter uma empregada para cuidar de minha casa e roupas, ou ter tempo para eu mesma fazê-lo.

– Que meus pais e sogros tenham saude.

– Ter tempo para desenvolver projetos pessoais.

– Praticar esportes.

– Que eu tenha tempo pra me divertir com meus hobbies.

– Sempre conversar com meus filhos e brincar com eles.

– Acompanhar a educação dos meus filhos, indo a escola nas reuniões e ajudando nos deveres de casa.

– Ter qualidade de tempo com meus filhos e com minha esposa(marido).

– Viajar com a familia em feriado ou férias.

– Estudar para ser um melhor profissional do meu trabalho.

– Dormir tempo suficiente para meu corpo descansar.

etc…

Bom, a lista pra sermos felizes está grande né? E olha que nem coloquei detalhes pertintentes a cada singulariade de cada sujeito…

A idéia que quero transmitir é que esta felicidade que se vende nas tvs, nas novelas, nas propagandas e nos outdoors não existe, é impossivel. Só que a sociedade nos vende essa idéia, e nós, não percebendo a furada, nos sentimos um peixe fora da ninho. Sim, porque nos somos os iditoas, os otários que não conseguem ter essa felicicade, então que raio de porcaria somos não? Assim a gente se sente bem excluido, bem longe dessa realidade. Mas as propagandas insistem em nos dizer que para ter essa felicidade é só ir atrás. Basta fazer curso xyz ou arrumar emprego na empresa abc ou ter o celular 78787d. Ai o que a gente faz? A gente acredita, e vai lá e faz o que nos venderam. E o que acontece em 99% dos casos? Não dá certo. Nada do que compramos nos traz a tal felicidade, então passamos a nos sentir incapazes, frustrados, deprimidos, porque simplesmente não nos sentimos capazes de obter tal felicidade. E pra piorar, a sociedade pega aquele 1% que consegue ter essa felicidade (que alias nem sempre são felizes também, vide casos como Britney Spears), porque é dificil e raro mas acontece, e fica te comparando com ele, mostrando como você é incapaz. Dificil ser feliz assim não é mesmo? Isso explica o numero gigantesco de depressões e frustrações?

 

Pra ilustrar um pouco mais, vou contar a história da plantinha. Ela vivia quietinha no seu canto da beira da estrada, tinha seus 20 centimentos de altura e poucas folhas, vivia na sombra mas estava satisfeita com sua vida. Até que um dia passa um bichinho e conta pra ela que logo adiante na estrada as plantas como ela são muito mais bonitas, pois o terreno é mais valorizado, bate sol, é lindo, uma beleza. As plantinhas de lá crescem muito mais, chegam a ter cerca de um metro de altura e com muitas folhas. O bichinho comenta ainda que ela devia se esforçar pra pegar um pouco de sol,quem sabe também nao é capaz de crescer e ficar tão bonita como as outras. A plantinha fica lá se esforçando pra pegar um sol que nunca bate ali, pois a região onde ela esta plantada não bate sol. É uma caracteristica do local onde ela nasceu. Assim ela fica triste. Percebe que as condições que nasceu não ajudam para que ela desenvolva sua beleza e fique como as outras. Mas vendo que nada pode fazer, desanima e fica triste. Tempos depois o bichino volta, e diz que as plantas estão mais felizes do que nunca, porque agora além do sol lindo que bate lá elas estão também dando frutos, e muitas outras plantinhas estão nascendo lá. O bichinho conta pra plantinha que não é muito longe de onde ela etsá, quem sabe ela se esforçando para arrancar suas raizes e ir andando até lá consegue chegar. A plantinha fica toda animada e começa a fazer um grande esforço para arrancar suas raizes do solo e se arrastar até lá. Vendo que por mais que esforce, não consegue nunca, fica deprimida, ansiosa, com a auto estima rebaixada. Fica também com raiva e inveja.

 

A midia, a educação, os livros, as músicas, tudo hoje nos vincula uma ideia que é facil e barato viver, e ser feliz, e a verdade não é bem assim. Viver é dificil mesmo, pra grande maioria. E a felicidade não está em coisas e nem desejos. Viver com essa sociedade nos comparando uns com os outros o tempo todo é duro, não somos capazes de ter autonimia psiquica. A gente passa a querer essa idéia de felicicade e tudo em alinhamento. Que a nossa lista feita lá em cima aconteca tudo ao mesmo tempo. E quando isso não acontece, doi, machuca, se faz presente de uma forma gigantesca.

Felicidade é possivel? Sim, com certeza. Mas não essa hiperfelicidade pregada hoje. A verdade é que simplesmente não dá pra ser bom em tudo o tempo todo. Não dá pra ter aquela lista perfeita o tempo inteiro.

 

 

Generalizando, os caminhos ocidentais e orientais pra felicidade são diferentes. Estou generalizando porque no mundo de hoje ocidente e oriente já estão tão misturados um no outro que não dá pra fazer essa divisão de forma ingênua. Vou ser simplista, não porque não sei a complexidade de cada um, sim para poder tentar passar um idéia geral do assunto.

A visão budista oriental, bem a grosso modo, diz que a relização do desejo não traz feliciade. E por isso as pessoas estão sempre atras de coisas e objetivos para ser feliz e nunca são. Fora que a probabilidade de se conseguir o que se deseja sempre é muito pequena. Então, segunda essa visão, o problema é desejar. Portanto, o que eles acreditam é que é necessário não desejar. Se despir de desejos. Como eles conseguem isto? Não é fácil. Eles começam tentando de desprender das coisas, abdicando de coisas materiais e também simbolicas, como as relações familiares, relações amorosas etc. Se desligar do desejo signifca se tornar indiferente ao desejo. Não ligar. Viver o aqui-e-agora. Assim a ligação com o desejo vai inexistindo, e isso traria uma serenidade. Portanto, felicidade seria igual a serenidade. Tudo que preciso esta dentro de mim. Isso é um caminho, esvaziar o desejo.

A visão socrática-freudiana ocidental parte do principio que nos somos seres de conflito o tempo inteiro. Esta tradição parte do principio que devemos cultivar nossos sentimentos e desejos, mesmo pagando o preço no final. Não existe prazer sem desprazer, portanto todo desejo trará consigo um desprazer. Tudo tem um preço. E a visão ocidental aceita pagar esse preço para poder desejar. O que Freud acresenta a isso é que não podemos ser ingênuos. Vale a pena desejar, ir atras do desejo, mas podemos resistir ao desprazer que vem com ele. É preciso entender também que o barato da vida não é desejar e ter o desejo assim pronto, o legal é o caminho que se percorre atras do desejo. Isso é que tras felicidade, a sensação de que estamos indo atras do nosso desejo. É o processo, e não o fim.

 

Assim, o segredo pra ser feliz cada um acha o seu. Mas nao da pra ser feliz do jeito hiperfeliz que nossa sociedade nos vende. Então, não da´pra ser bom pai, bom profissional, bom esportista, sarado, saudavel e inteligente. Não da pra ter aquela lista todo o tempo todo. Então a partir do momento que aceitarmos esta castração, podemos escolher no que dá pra ser feliz. Bom, eu posso ser um bom pai, mas ser um mediano profissional. Ou posso ser um bom profissional e bom pai, mas meu corpo vai ser meio gordinho. Enfim, cabe a cada um ver no que dá pra ser excelente e no que terá que ser mediado, porque a nossa vida simplesmente não nos permite se excelente em tudo. É uma questão prática. Cabe a cada um lidar com isso ou continuar tentando ser excelente em tudo e continuar frustrado por nao conseguir….

 

Um adendo

Já perceberam o tipo de coisa que a midia vincula e a gente passa a acreditar e sofrer? Exemplo: Noticia de hoje, primeira página do globo.com >> Britney Spears aparece com buraquinhos nas pernas. Noticia de outro dia, também no mesmo site, primeira página: Daniela Sarayba na praia, deixa a mostra suas pernas com celulites. Um pouco antes disso no mesmo local: A queridinha da américa Jennifer Love na praia, mostra que já não esta tão em forma como antes, com seus quilos a mais e celulite.

E eu digo: WHAT THE FUCK? Isso é noticia digna de primeira página? Que toda mulher chega uma momento da vida que engorda e tem celulite todo mundo sabe. Alias, todo mundo sabe não, todo mundo vive isso. E dai? Elas são humanas, não são bonecas.´É natural que tenham imperfeições. E qual é o problema disso? Qual é a novidade que deve ser colocada em primeira página?

Pior ainda, pegam essa tal de Solange Frazão, com 45 anos e saradissima, e colocam como modelo de mulher. Noticias e reportagens perguntando qual o segredo, etc etc. Quando eu trabalhava no banco, um dia estava ela lá, no caixa eletrônico. Dez minutos e ela não saia de lá. Fui lá. Ela, indignada, e linda (é verdade) dizia: ah, essa máquina está quebrada, não consigo tirar dinheiro, o que acontece? Ai fui ver. E te conto. O que acontece é que era uma máquina do Banco 24 horas, e antes de começar qualquer operação ele perguntava: Essa operação custará 2,30 você deseja continuar? E imagina o que ela estava ha dez minutos fazendo? Apertando a tecla não, e esperando continuar…. Sem comentários.

Enfim, cada um escolhe no que quer ser bom e no que quer ser mediano. E quando isso não é bom pra midia, quando isso não vai de acordo com a hiperfelicidade que eles vendem, eles vão lá e quebram o pau. Mostram como você é uma Et porque tem celulite, ou porque anda com uma roupa de um estilista desconhecido. Cada um escolhe seu caminho, qual o seu?

O mundo devia ser livre

Faço minhas as palavras do Calligaris, nesta Folha de Quinta Feira.

É proibido viajar

A modernidade, que começou com a livre circulação, acaba proibindo a viagem

NO EPISÓDIO dos jovens pesquisadores brasileiros barrados em Madri, as autoridades espanholas agiram como se o cônsul-geral do Brasil contasse lorotas para facilitar o trânsito de imigrantes ilegais. O desrespeito justifica a “retaliação” brasileira.
No mais, a cada dia, as fronteiras do mundo (não só do primeiro) barram alguém que tenta viajar, sobretudo se for jovem, solteiro e sem as aparências de uma “vida feita”.
Ao atravessar uma fronteira, o passaporte prova que estamos em paz com a Justiça de nosso país. As outras nações devem decidir se somos hóspedes desejáveis. Nas últimas décadas, as “condições” para ser desejável se multiplicaram. Hoje, no caso da Espanha: 1) 70 por dia de permanência planejada; 2) passagem de volta marcada; 3) reserva de hotel, já pago; 4) para quem se hospedar com parentes, formulário preenchido pelos mesmos; 5) quem se desloca para trabalhar deve dispor de um contrato assinado. Normas muito parecidas valem na maioria dos países.
O escândalo é que essas condições podem nos parecer “aceitáveis”. Afinal, qualquer Estado quer proteger o emprego de seus cidadãos impedindo a chegada de imigrantes não-autorizados, não é? Pois é, Michel Foucault é mesmo o pensador para os nossos tempos: o sistema social e produtivo dominante ordena nossas vidas furtivamente, convencendo-nos de que não há opressão, mas apenas necessidades “racionais”. Se achamos essas regras “aceitáveis”, é porque já adotamos a idéia de que, no nosso mundo, só é legítimo ter moradia fixa e profissão estável.
As pessoas com moradia fixa podem, quando elas dispõem dos meios necessários, adquirir uma passagem de ida e volta e sair de seu lar seguindo um programa pré-estabelecido -ou seja, podem ser, ocasionalmente, turistas.
Escárnio: prefere-se que os turistas sejam otários, pagando de antemão. Há uma pousada melhor da que estava prevista? Você quer encurtar a viagem? Pena, você já pagou. Mas isso é o de menos. Importa o seguinte. A modernidade, que começou com a circulação (livre ou forçada) de todos os agentes econômicos, acaba parindo, nem mais nem menos, a proibição da viagem. Como assim? Pois é, viajar não tem nada a ver com férias num resort ou com ser transportado de cidade em cidade para que os cicerones nos mostrem as coisas “memoráveis”.
Para começar, viajar é usar uma passagem só de ida.
– Quanto tempo você vai ficar?
– Não faço a menor idéia. Um dia? Três meses? Um ano?
– E você vai para onde?
– Não sei. Talvez eu curta uma pequena enseada, alugue um quarto numa casa de pescadores e fique comendo caranguejos com os pés na areia. Talvez, já no avião ou pelas ruas de Barcelona, eu me apaixone por uma holandesa, um russo ou uma argelina e os siga até o país deles, por uma semana ou um mês.
Se a paixão durar, ficarei por lá.
– E o dinheiro?
– Não sei, meu amigo. Toco violão, posso ganhar um trocado numa esquina ou no metrô. Também posso lavar pratos, ajudar na colheita, cortar lenha, lavar carros e vender pulôveres. E, se a coisa apertar, tenho endereços de parentes e conhecidos que nem sabem que estou viajando, mas não me recusarão uma sopa e um banho quente. Além disso, em Paris, quando fecha o mercado da rua Saint Antoine, sobram na calçada as frutas e as saladas que não foram vendidas; em São Paulo, Londres e Nova York, conheço dezenas de igrejas que oferecem um pão com manteiga; em Varanasi, ao meio dia, distribuem riso com curry e carne aos peregrinos.
Cem anos depois da invenção do passaporte com fotografia, chegamos nisto: uma ordem que só permite se movimentar para consumir férias ou para se relocar segundo os imperativos da produção.
As regras que barram o viajante expressam nossa própria miséria coletiva: perdemos de vez o sentimento de que a vida é uma aventura. Preferimos a vida feita à vida para fazer.
Para quem quiser ler sobre a história da documentação de viagem, uma sugestão: “Invention of the Passport: Surveillance, Citizenship and the State” (invenção do passaporte: vigilância, cidadania e o Estado), de Torpey, Chanuk e Arup (Cambridge University Press).
Para quem quiser viajar, outra sugestão: a mentira, num mundo opressivo, é uma forma aceitável de resistência.

Tempo, Mano Velho

Eu tenho que escrever rápido porque já já tenho que sair. A vida tá corrida nessas últimas semanas.

Estou aqui pra dizer as boas novas dos últimos tempos, e as ruins também.

O Patrick – Dirty Dance- Swazye vai morrer. Tá, todos vamos morrer um dia, mas eu espero que não de cancer. E dai, você diz, noticia velha. É, pode ser velha, mas fiquei com peninha, gosto muito dele. Ainda mais depois que vi a foto dele, velhinho, coitado, no site do Ego. Olha lá, não dá tempo de colocar o link aqui.

O Marcelo do BBB saiu, coitado, eu tava torcendo por ele. Primeiro porque acho muito errado a Tv ver que o cara tá paranoico de verdade, tipo, precisando de remédio, mas tudo pela audiência, deixa o cara lá passando a maior vergonha. Segundo porque todo Psiquiatra, Psicologo e afins já teve seus momentos de loucura profunda, o que pra mim só ajuda o cara a ser um melhor profissional no futuro. Terceiro porque o resto é tudo sem graça, bando de paga pau, gentinha que não se decide e fica lá dando uma de bom.

Comecei minha formação psicanalista essa semana. É pra quem não sabe, vida de psicologo també, não é mole. Assim como um médico, que se forma e ainda tem que fazer uma especialização da área que ele quer trabalhar, a gente também, termina a faculdade e somos meros nada gerais, e dai que a gente tem que escolher nossa especialidade e continuar estudando. Mas o importante é que eu adoro então tô saltitante.

Hoje me inscrevi pra começar a aprender Frances. É, porque além de continuar estudando, a gente tem que falar ou Frances ou Alemão, além do Português e Inglês. Vocês já conhecem esse site? É bom e de graça. www.sharredtalk.com

Assisti o novo filme do Woody Allen essa semana, o Cassandras dream, que eu tinha comentado em algum post anterior. Ótimo filme, recomendo.

Não aguento mais escutar as músicas do High School Musical 2, afinal, aqui em casa meus dois filhos escutam e cantam o dia inteiro, dá pra lancar o 3 logo??

O pior tipo de paciente pra se atender, na minha opinião, são os viciados. To dizendo isso porque essa é a deixa do meu próximo texto que vou escrever sabe-se lá quando. Até lá.

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