Categoria: Educação (Page 7 of 8)
As pessoas têm seus limites. Acredito que elas fazem o que podem, diante das situações, e por isso sempre fazem o seu melhor. O melhor delas pode não ser o que se espera que façam, mas isso não siginifica que não estão se esforçando. Analisar as ações do outro baseados na nossa realidade e no nosso pré-julgamento não adianta nada nesses casos. O nosso máximo esforço pode ser muito diferente do máximo esforço do outro, e ao nossos olhos pode parecer que os outros não se esforçam. Mas isso é sempre um engano. As pessoas sempre dão o melhor de si, mas o melhor de cada um é sempre muito diferente.
Quando lidamos com criancas com deficiências, rapidamente entramos em contato com os nossos limites, e nossa habilidade de julgar o outro baseado na nossa realidade. E por isso que a inclusão é tão dificil, e por isso tem sido tão falha. Como podemos entender a realidade do deficiente visual, quando enxergamos perfeitamente? Como podemos entender as dificuldades diárias, nas atividades do dia-a-dia, nas atividades escolares, quando nossa vida é completamente diferente?
Alguns profissionais desenvolveram cursos e materiais que possibilitam uma espécie de vivência. Os pais, professores e interessados passam o dia com olhos vendados ou com um óculos que simula a forma como eles enxergam. Se colocarmos no papel o número de interessados em fazer esse curso, em relação as pessas que trabalham com educação e deficiência visual, o número desanima. A verdade é que nem todos estão dispostos a sair de seus confortáveis lugares e passar um dia que seja vivendo a realidade de outro, e suas dificuldades. Isso tudo mexe muito na psiquê de cada um, e nem todos aguentam o tranco.
Tudo isso nos faz voltar ao início de tudo, que é, cada um faz o que pode, cada um faz o seu melhor, mas não necessariamente esse melhor é o melhor para o outro. As minorias têm que se adequar a todo um mundo diferente e muito mais difícil do que a realidade delas.
A inclusão não funciona, porque ela não é só externa. Não é só a forma como o professor age com o aluno, como a escola disponibiliza ou não material didático para os alunos. A inclusão começa dentro de cada um. E isso não é fácil pra ninguém. Abandonar concepções que muitas vezez acompanham a pessoa por toda uma vida não é nada fácil, quando se tem tantas certezas, e poucas dúvidas, questionar parece muito dolorido e desnecessário.
Para incluir, temos que julgar menos, temos que sair da nossa zona de conforto, sofrer um pouco, questionar mais, se colocar mais no lugar do outro, mas não partindo da nossa realidade, e sim partindo da realidade do outro. Quando fazemos esse movimento, não obtemos muitas respostas, mas construimos mais perguntas, e assim começamos vagarosamente a mudar algo dentro de nós mesmos. Essa é a pequena semente, do começo de um processo que poderá se tornar inclusivo.
Utópico? Na realidade social de hoje parece que sim. Mas quando olhamos o trabalho de centenas de pessoas que lidam com a questão da inclusao por paixão (ou necessidade), ai percebemos que nada é impossível quando se quer. O duro é querer. E ainda não temos a capacidade de fazer o outro desejar os nossos desejos. E isso também não nos dá direito de julgá-lo. Só nos coloca numa posição delicada. Ter empatia é muito difícil, super delicado, e por vezes frustante, porque não tem nada a ver com justiça.
Tenham em mente: incluir não é só encher a escola de materiais novos. também não é somente aumentar letras e disponilibizar livros em braile. Não se trata de empurrar para frente o aluno deficiente, no sentido de fazer menos para que ele passe mais fácil. O aluno deficiente visual é tão inteligente quanto qualquer outro aluno, só precisa de uma outra realidade para se desenvolver. A inclusão começa quando nos interessamos em descobrir quais são as diferenças do outro, como eles lidam com isso, e se tenho interesse em ser algum tipo de facilitador para seu processo de aprendizagem/desenvolvimento.
.: Há este livro chamado Senhorita Else, escrito por Arthur Schnitzler e publicado em 1924. Não é um romance, exatamente, pois sua forma condensada o aproxima mais da novela. Trata-se de um relato, em primeira pessoa, de uma jovem, Else, que está numa espécie de hotel (ou colônia de férias, já não me lembro dos detalhes), onde se reúne a alta burguesia austríaca, e recebe uma carta de seus pais com um pedido e algumas instruções. Seu pai está falido e precisa de dinheiro, e cabe a ela recorrer a um homem rico, conhecido de seu pai. Else obedece, procura o homem, e ele impõe uma condição: que ela se mostre nua para ele. Estou prestes a contar o final: ela aceita, porque se vê completamente sem saída, com o futuro da família nas mãos, e entre o êxtase, a raiva, o desespero, ela vai salão de festas, onde estão todos – inclusive seu "salvador" – , vestida apenas com um casaco de peles, e despe-se. Escândalo, susto, horror
Continue lendo aqui.
É muito mais difícil do que se imagina sair do ciclo vicioso que entramos na onda do capitalismo. Em geral, sou contra esse tipo de vídeo, pois costumam ter argumentos furados e ficam muito próximos daquela coisa de auto-ajuda, utópica. Mas esse vídeo, em particular, gostei bastante. Não é curtinho, mas assistam, vale a pena.
Ainda falando do filme Phoebe in Wonderland, afinal o que ela tem é ST, aqui vão uns links muito bacanas sobre o assunto, pra quem quiser saber mais:
– Aqui tem um artigo muito completo sobre o que é a ST, e abaixo um trailer de um documentário bacana sobre o assunto.
Phoebe in Wonderland é um filme daqueles de pega a gente pelo pé. Você pensa que vai assistir um filme simples, e se impressiona com a multiplicidade e complexidade dos assuntos abordados de uma só vez.
O filme conta a história de uma menina diferente, e como o modo de ser dela toca cada uma das pessoas a sua volta: seus pais, sua irmã, seus amigos e professores na escola. Dizer isso é simplificar demais o que está por traz do filme. No fundo, o filme fala do complexo de édipo. Fala da dificuldade dos pais em lidar com a castração, com a educação dos filhos, e como lidar com a relação de casal. Fala também de educação, da dificuldade em inserir as pessoas diferentes no meio social e escolar.
Enquanto uma mãe e um pai tentam desesperadamente entender porque sua filha é diferente, e que culpa eles tem nisso, também tentam ajudá-la na sua interação escolar, e tentam resolver as questões de casal entre eles. Assistam!
– BEM-VINDOS
– A próxima regra é: "’Jenny Bom Trabalho’ faz perguntas só quando for a hora de fazer perguntas".
– Como saberemos quando é a hora de fazer perguntas?
– O que acabei de dizer sobre fazer perguntas?
– Mas…
– Pode perguntar quando puder fazer perguntas quando for a hora de fazer perguntas.
– Hein?
– Nessa sala de aula, temos algumas regras. São as mesmas regras que tivemos ano passado.
– Isso é uma pergunta?
– Turma, qual é a regra sobre fazer perguntas?
– O que sabemos sobre ‘Jenny Bom Trabalho’?
– Ela merece uma morte lenta e dolorosa.
– Se você quiser voltar ao trabalho, posso terminar aqui. Quanto ao que eu disse… No jantar.
– Não temos conversado, não de verdade.
– Me desculpe.
– Converse com ela.
– Eu conversei. E tenho conversado, e ela diz que está bem, mas eu não acho.
– O que você disse, aquelas palavras…
– Eu sei.
– Não quer conversar comigo agora.
– Peter, eu estou irritada, muito irritada.
– Entendo.
– É, estou irritada por você ter dito aquilo. Estou irritada porque você a magoou. Deus, eu só… Estou irritada porque eu queria que ela fosse diferente, e estou irritada porque ela é diferente. Estou irritada porque ela age daquele jeito, porque ela é infeliz, e eu sei porque ela é infeliz e eu não consigo fazê-la feliz, mas aquela professora
esquisita consegue. E estou irritada por me culpar do jeito que ela age. Estou irritada porque penso em mães apenas como mães, e estou irritada por me importar se sou uma boa mãe. Estou irritada porque quando você disse aquilo para ela, eu sei que você estava certo. Eu não agüentaria outra como ela. Estou irritada porque não estou escrevendo, e estou irritada porque um dia terei 70 anos e só terei minhas filhas porque eu não terei mais nada porque eu não fiz nada importante. E estou irritada porque,
às vezes… não tenho medo de nada disso porque as minhas filhas me mantêm viva. Elas me mantêm viva.
– Pensei que eu pudesse ajudá-la. Pensei que era eu, porque… Eu… não… Por favor, me deixe terminar, por favor. Porque eu me aborreço com elas… e fico com raiva, com tanta raiva, que tenho vontade de sacudi-las.
– E você acha que é a única mãe que se sente dessa forma? Nada disso é culpa sua. Mas por que você não me disse?
– Porque eu não queria que ela fosse…
– O quê?
– Inferior.
De forma bem generalizada, dividimos as estruturas psíquicas a partir da castração, em Neurose, Psicose e Perversão. Todos somos algum desses, e o que chamamos de normal seria a Neurose. Todos então, no mínimo, somos neuróticos. Cada estrutura dessa tem seus subtipos, por exemplo no caso da neurose os obsessivos, no caso da psicose os esquizofrênicos, enfim, cada uma dessas estruturas tem suas características e subdivisões, que não vou me apegar aqui pois só um delas daria um livro.
A questão de hoje caminha pra outro lado, que são as estruturas na infância, e como a gente se torna uma coisa ou outra. Alguns autores defendem que somos uma estrutura dessas, e não existe cura pra isso. Seremos parte da estrutura durante todo vida, e o trabalho de análise seria aprender a não entrar em crise, ou lidar com as crises, cada um em sua estrutura, aprendendo a lidar com as dificuldades de cada uma delas ao longo da vida. Outro autores defendem que somos prioritariamente parte de uma estrutura, mas podemos também transitar por outras ao longo da vida, já que somos sujeitos, e por isso não estaríamos presos a estruturas assim tão enfaticamente, pois cada sujeito tem sua singularidade mesmo dentro de uma estrutura. Lacan acredita ser importante saber de qual estrutura o sujeito transita, para efeitos da análise, como proceder, como trabalhar, como ajudar.
Mas em uma coisa todos concordam: a estruturação do sujeito ocorre na infância. É nessa fase que a criança se encaminha para a neurose, para a psicose ou para a perversão. Muitos estudos se desenvolveram a partir disso, pensando em como os pais, o ambiente e a própria criança influenciam no desenvolvimento da estrutura. Alguns autores defendem que, uma vez que a criança tem características de psicose não deflagrada (fora de surto) ela não poderia mais ser neurótica. Outros defendem que se a infância é a fase de estruturação, então sim, é possível perceber certas caraterísticas, e mudar N coisas para que a criança mude de rumo.
Venho estudando a muito tempo sobre a questão das estruturas psicológicas na infância. Sempre me perguntei, assim como muitos autores, se uma vez que a criança é um sujeito em formação, se seria possível detectar psicoses não deflagradas, e mudar essa história para o futuro da criança, ajudando a se tornar neurótica, porque já é sabido que uma vez formado, não há como mudar o caminho. Se o adulto é esquizofrênico, por exemplo, não há como curá-lo, o que dá é pra ajudá-lo a lidar melhor com isso e com o mundo. Mas se é possível mudar isso ainda enquanto criança, porque não tentar? Mas será possível detectar comportamentos, atitudes psíquicas que mostrem em que estrutura a criança está caminhando?
Os autores em geral concordam que é possível perceber sim. É possível perceber as crianças diferentes, que tem dificuldades diversas de relacionamento, com o mundo, psíquicas ou não. Mas discordam na possibilidade de mudar essas características enquanto elas ainda não estão formadas em definitivo.
Muitas pesquisas vêm sendo feitas, mostrando que muitas histórias mudaram sim. Muitos sujeitos mudaram o caminho de formação de sua estrutura, uma vez feito um trabalho analítico em conjunto com os pais. No livro As psicoses não-decididas da infância: um estudo psicanalítico de Leda Mariza Fischer Bernardino, a autora trabalha exatamente dessa questão, como a criança vai se tornar uma coisa ou outra. Isso não depende só dela. Na primeira infância, depende muito de como ela é, olhada, cuidada e tratada pelos pais, principalmente pela mãe. O pai tem grande importância também no momento da passagem pelo complexo de édipo. Todos esses momentos vão definindo a estrutura da criança, e por isso é possível estarmos atentos a esses momentos, para poder agir ai, de modo a facilitar a relação da criança com esses pais, consigo mesma e com o mundo. “Assim, uma criança não é sem o que é dito dela, não sendo somente o que é dito dela. O que é dito da criança comporta muito mais do que o que se quer dizer. O que é dito dela também diz menos do que ela é.”
Se a psicose na infância ainda é um tempo em definição, se é só uma potencialidade do que pode vir a ser, ela poderia ser curável. (Tenho muito cuidado quando uso a palavra cura em psicanálise, porque a cura aqui usada em nada tem a ver com a cura medica, biológica. Mas em um outro sentido muito distante disso. Para entender melhor sobre o que é cura em psicanálise, leiam A psicanálise cura? de Roberto Girola.)
Para Lacan, a psicose se caracteriza pela inscrição do paterno, o-Nome-do-Pai. Assim, essa não inscrição seria então definitiva? Lacan também fala da existência das psicoses não deflagradas, que seria o estado anterior a uma psicose propriamente dita. Ele chega a dizer que só é possível perceber uma psicose não deflagrada após um surto psicótico, o que já seria tarde. Assim os psicanalistas lacanianos se dividem basicamente em dois grupos: os que acreditam que a psicose não tem cura, seja ela percebida na infância ou na fase adulta; e há os que acreditam que na analise da criança, ainda em fase de desenvolvimento e ainda passando pela castração, é possível mudar essa história.
Eu particularmenre acho que é possível mudar o rumo da história da criança em formaçao sim. E você?
…
Para ler também: Considerações sobre as especificidades na estruturação da psicose do adulto e da infância de Shnaider Alves Santos
Estava pensando em escrever um texto sobre o bafafá da louca que se diz psicóloga que cura gays. Sim, louca, porque querendo “curar” gays, psicóloga não é. Não vou nem entrar no “curar”. Mas hoje li o texto do Jean Willys, do blog dele, e percebi que ali está tudo o que eu queria dizer, sem tirar nem por. Então acho que todos DEVEM ler, uma opinião realmente pertinente sobre o assunto.
http://bloglog.globo.com/blog/blog.do?act=loadSite&id=167&postId=18400&permalink=true
Carta aberta a Rozângela Justino, a psicóloga que afirma curar a homossexualidade
Enquanto a ampla maioria dos homossexuais (principalmente dos gays) se diverte em baladas e em paraísos artificiais, alienada das sérias questões político-sociais que envolvem o coletivo do qual faz parte, uma onda neoconservadora contra lésbicas e gays tem se levantado sorrateira e silenciosamente na mesma proporção do crescimento das paradas do orgulho gay. A mais recente expressão desta onda é a psicóloga Rozângela Justino, que está nas páginas amarelas de Veja desta semana. Há algum tempo ela vem fazendo barulho. A princípio, decidi ignorá-la por não querer gastar minhas poucas velas com um defunto tão barato. Porém, como os meios de comunicação vêm dando espaço para ela, ainda que para questioná-la, decidi escrever-lhe uma carta aberta:
Rozângela Justino, eu não a conheço pessoalmente e não faço a menor questão de conhecê-la. Mas, como a senhora fez ataques públicos ao coletivo do qual faço parte, logo, a mim, por meio da revista Veja, eu sou obrigado a responder aos mesmos também de forma pública. Vou começar pela comparação que a senhora fez entre militância gay e Nazismo. Ou a senhora é cínica ou é absolutamente ignorante acerca do mal que o Nazismo causou aos homossexuais. Prefiro apostar que a senhora seja cínica, uma vez que sua referência ao Nazismo e o esforço em associá-lo ao movimento homossexual são tentativas canhestras de conquistar a opinião pública, já que a senhora sabe que, no imaginário popular, o Nazismo se confunde com o mal. Não, minha cara, a militância gay não é Nazismo.
Se há algum nazista em questão, este é a senhora. Seus comentários referentes à homossexualidade materializam um moralismo e um puritanismo odioso em relação à sexualidade e a modos de vida gay. Logo, seus comentários são bem parecidos com o discurso dos detentores da ordem moral e social e dos apóstolos da religião, da família tradicional e da opressão às mulheres e aos homossexuais. Ou seja, seus comentários são bem parecidos com o discurso das direitas religiosas e com o discurso das demais direitas (entenda por direita os representantes do pensamento e/ou do movimento político que se afina com restaurações conservadoras, nacionalismos e fascismos). E qual o discurso das direitas religiosas? Ora, aquele que expressa um horror em relação aos homossexuais e certo nojo pela promiscuidade sexual, independente de qual seja a orientação sexual do promíscuo – um discurso que esteve presente no Nazismo (sim, a gente não pode esquecer jamais que o Nazismo e os fascismos se expandiram e fascinaram multidões também porque denunciaram as cidades grandes como o lugar dos excessos sexuais dos gays e lésbicas e, logo, como espaço de corrupção de corpos e almas; a gente não pode esquecer jamais que o Nazismo era uma empresa de purificação não só racial, mas, também sexual). Portanto, expressão do Nazismo ou retorno ao mesmo são suas idéias. Não queira convencer os ingênuos do contrário!
É possível que os oprimidos se identifiquem com a ideologia de seus opressores mesmo sem terem consciência disso. É por isso que podem existir negros racistas e homossexuais moralistas. E é por isso também, minha sé possível, que muitos homossexuais que não resistem às pressões e violências diversas impostas pela ordem em que vivemos tenham procurado seu consultório em busca de cura para a homossexualidade. A este comportamento nós chamamos de homofobia internalizada. Se a senhora fosse uma psicóloga competente e ética, saberia que os objetivos de uma terapia psicológica não podem ser definidos em termos de mudanças de comportamento do paciente. A cura no sentido de restabelecimento do estado anterior a uma doença é um privilégio da medicina e só existe para patologias provocadas por vírus, bactérias ou fungos ou por disfunções orgânicas e hormonais ou, ainda, para certos tipos de câncer. Homossexualidade não é doença, logo, não precisa de cura.
Sabe, Rozângela, faltam-lhe argumentos. Vocês, fanáticos fundamentalistas ou cínicos exploradores da fé e ignorância alheias, nunca têm argumentos consistentes além do dogmatismo. Seu bacharelado em Psicologia obtido no Centro Universitário Celso Lisboa de nada lhe serviu ou serve já que você recorre a verdades que contrariam os princípios das ciências, inclusive daquela que é a base de seu curso, a Psicologia. Aliás, a qual escola ou corrente teórica da Psicologia a senhora está associada? A senhora não diz, por quê? Ora, porque o que a senhora faz não é Psicologia, mas, doutrinação religiosa.
Chega a ser risível sua referência a Michel Foucault porque está claro que a senhora nem sua fonte Claudemiro Soares – compreenderam o pensamento do filósofo francês, que morreria de infarto, se vivo estivesse, ao ver seu pensamento articulado por uma fascista psicótica (sim, qualquer psiquiatra concordará comigo de que sua crença de que recebeu um chamado de Deus por meio do disco de Chico Buarque é sintoma de um funcionamento mental psicótico, em que a senhora toma, como concretos ou reais, elementos apresentados por sua percepção; o chamado divino a que a senhora se refere não é efetivamente real, concreto, mas, a senhora o toma como tal assim como o fazem os psicóticos com seus delírios e alucinações). Sua referência a Focault macula um pensamento muito mais complexo e distante de suas posturas neoconservadoras e quer, por meio de uma aparente ilustração acadêmica, intimidar feministas e homossexuais orgulhosos de sua orientação a se calarem para não questionar o mundo comum no qual devemos viver.
O que eu posso lhe dizer – a partir das contribuições de Freud, Melanie Klein, Lacan, Foucault, Julia Kristeva, Didier Eribon, dos antropólogos e até dos psiquiatras, contribuições que você não deveria desprezar ou ignorar, já que se diz psicóloga – o que eu posso lhe dizer é que os instintos sexuais são naturais, mas, a sexualidade (incluindo, aí, as identidades sexuais) é cultural. Em se tratando de nós, humanos civilizados, pouca coisa em nossa subjetividade (caráter; alma; aquilo que nos faz sujeitos) é natural (vem da natureza), pois, ainda na barriga de nossas mães, recebemos o que ele chama de banho de linguagem. Desde recém-nascidos, começamos a ser forjados pela cultura. Uma identidade sexual é estruturada de maneira complexa e envolve muitos elementos: desde as experiências de prazer e desprazer na mais terra infância em relação aos pais ou a quem os represente até representações culturais (a maneira como as práticas sexuais aparecem e são qualificadas em tratados científicos; livros religiosos e didáticos; fotos: filmes; propagandas: novelas e etc.), passando por fatores biológicos. A identidade sexual não se confunde necessariamente com a prática sexual. Esta pode ser um componente da identidade sexual, que diz respeito mais a pertencimento; a um lugar no mundo. Deu pra entender?
Veja bem, Rozângela, se a senhora continuar defendendo que o sexo só serve à procriação e, por isso, a homossexualidade é antinatural, eu te sugiro que abra mão o cenário onde você costuma fazer sexo (seu quarto e cama confortáveis) se é que a senhora faz sexo, e vá transar no mato como o fazem os animais; aí, sim, a senhora estará de acordo com o que é “natural”. Sugiro que, por extensão, a senhora abra mão de todas as conquistas da cultura: habitação, educação, hábitos alimentares, meios de comunicação, tecnologias, regras de higiene, modos de festejar, artes e beijo na boca, sim, pois, a natureza fez a boca para comer e não para beijar. Abra mão da instituição “família” por que ela também é um fruto da cultura e não da natureza (nunca vi uma cadela de véu e grinalda nem ela ser fiel a um só cão até que a morte os separe; e, se não vi, é porque os cães e cadelas agem conforme a natureza, enquanto mulheres e homens agem conforme a cultura).
E saiba que o entendimento do que é família muda no tempo e no espaço. Ou a senhora nunca ouviu falar de que, no Oriente Médio, um homem pode ter dezenas de esposas ao mesmo tempo e contar com a proteção do estado e com a bênção divina? Parece que não… Então, faça isso e aí, sim, a senhora será coerente com o que prega. Se não o fizer, é só reconhecer que é uma fundamentalista fanática, psicótica e incapaz de questionar aquilo que te ensinaram como “verdade” e, por isso mesmo, causadora de infelicidade para si e para os homossexuais que acredita curar. Sem mais,
Jean Wyllys
Uma coisa que me irrita no meio acadêmico é a arrogância dos cientistas, pesquisadores e professores, que varia de acordo com o tempo e conhecimento que eles têm sobre de um assunto. Em geral, quanto mais estudamos, mais percebemos o quão pouco sabemos de um assunto. Por isso acho que a academia está infestada de pessoas que acham ter encontrado a resposta para tudo.
Mas não é só na academia que temos esse problema. Em todas as profissões encontramos aquelas pessoas que pensam ter o poder de resolver ou responder qualquer questão colocada. É uma pretensão de já ter chegado num ponto onde se sabe tudo, e se não sabe, diminui a importância do assunto.
Quando discuto com as pessoas, diversos assuntos, e percebo que estou discutindo com pessoas assim, fechadas no seu mundo de certezas, perco logo o interesse em discutir ou defender meus argumentos. Uma discussão serve para abrir novos caminhos e possibilidades naqueles que discutem, e não para alguém sair ganhando.
A Psicanálise não tem essa pretensão ingênua de saber tudo e de poder responder tudo. Isso é impossível, achar que uma ciência pode achar as respostas para todas as perguntas do mundo. O que a gente acaba achando são mais e mais perguntas, e algumas respostas. Por isso ciências como a neurociência, tão em moda nesse momento, me irritam, porque acham que todas as respostas estão no lado xyz do cérebro. É uma pretensão achar que um ramo de conhecimento humano possa responder questões tão amplas, tão abrangentes da nossa existência.
A Psicanálise não vai por esse caminho, e sustenta essa postura até hoje. Ter a coragem de seguir por esse caminho não é fácil, é escutar o tempo todo que não é válido, que não é pesquisa, que não mostra resultados, que é abstrato demais, etc. Rejeitar modelos prontos e aceitos pela sociedade e pela academia, já que eles não se mostram válidos em todos os casos, é um desafio constante. Mas, se propomos tudo isso, é porque queremos ir de fato a fundo nos temas, nas investigações, que, como falei anteriormente, geram mais e mais perguntas do que respostas.
Há os que dizem que para pesquisar de verdade é preciso deixar a academia. Hoje em dia a academia se vendeu a turbilhões de regras que mais fazem os pesquisadores e os temas de pesquisa entrar numa massa de concreto, tudo é igual, tudo caminha para o mesmo. Poucos são aqueles que conseguem se desviar desse caminho para trilhar novos desafios, já que isso dá trabalho demais.
É muito fácil se esconder atrás de um título, de uma pesquisa ultrapassada, de uma instituição, e achar que tudo isso te dá direito de fechar os olhos para a evolução, para as inquietações e perguntas constantes da sociedade e das pessoas. Difícil é se atualizar, estar o tempo todo questionando a si mesmo, aos outros, as conclusões de pesquisa e a verdades contestáveis. Principalmente num campo onde não há certo e errado, tudo pode mudar, o que vale pra um, não necessariamente vale para todos.
Se você acha que sabe tudo, é melhor pensar um pouco mais. Se você acha que têm todas as respostas para todas as questões, que bom para você.
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Off topic: Sempre achei essa coisa toda de vampiros chata, e a trilogia Crepúsculo pior ainda. A única coisa boa foi a trilha Sonora do primeiro filme. Mas, faço das palavras do @utops as minhas > http://www.utops.com.br/do-crepusculo-da-literatura-da-cinematografia-dos-criterios/
Eu estava vendo um filme, e inspirada por ele, e por uma discussão no twitter, decidi fazer este texto. Provavelmente será um texto incompleto, porque já assumi a postura de incompletude, no sentido lacaniano de que sempre falta algo a se dizer, a se estudar, a se discutir.
O filme se chama “Mommas Man” http://www.imdb.com/title/tt1122599/ , muito bem resenhado aqui http://cinerama.blogs.sapo.pt/200806.html . Conta a história de um homem casado, pai de família, que vai visitar os pais, e não volta mais para casa.
A discussão ocorreu esta noite no twitter, iniciada por esse tema do @DoisEspressos http://doisespressos.wordpress.com/2009/07/16/qualquer-pai-sabe-o-que-e-melhor-pros-filhos/.
Outro filme que marca esta discussão é o I am Sam, http://www.imdb.com/title/tt0277027/ , a história de um Deficiente Mental que têm uma filha, e ao fazer sete anos o Conselho Tutelar decide retirá-la do lar por considerar o pai incapaz de cuidar dela.
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O que é ser pai? Ser responsável por uma criança, ter responsabilidades diversas, entre elas a de assegurar o bem estar dessa criança no mundo. Dar educação, protegê-la de perigos, amá-la e respeitá-la incondicionalmente.
Como já falaram muitos psicólogos, os pais (ou criadores da criança) exercem grande influência sobre ela. Que influência? Não sabemos ao certo. Há crianças que se tornam quase cópias de seus pais, outras que se tornam seus opostos extremos. Então, como saber que influência daremos, e o que é certo ensinar aos nossos filhos? No geral, fazemos aquilo que achamos correto. Ensinamos valores, regras e leis que correspondem a aquilo que particularmente acreditamos. Ensinamos também as leis do local onde vivemos para que isso facilite a vida em sociedade da criança. Mas o fato é que, dentro de nossas casas, podemos ensinar e influenciar nossos filhos da forma como acharmos melhor.
Ai temos dois problemas: 1. Quando não concordamos com as regras morais da sociedade que vivemos, e desejamos fazer algo diferente. Por exemplo, se não queremos vacinar nossos filhos, ou mesmo educá-los em casa, podemos até ser presos, acusado de mil crimes contra a criança. Isso é correto? Eu particularmente não acho. Ou também, no caso do filme, quando querem tirar uma criança de uma família (que, de acordo com a lei, não consegue cuidar da criança) e a colocam num orfanato em que ela vai ser menos cuidada ainda. 2. Quando os pais usam de seu poder nos filhos para ensinar valores obviamente tortos, como os nazistas, os preconceituosos, os ladrões. Outro dia apareceu na internet um vídeo de um pai ensinando seu filho de menos de três anos a roubar. E ai a sociedade se vê no direito de interferir e tirar essa criança dessa família.
Mas a questão está no fato de que nem sempre as coisas são tão claras assim. Em casos extremos, como esses citados acima, fica claro e fácil distinguir quando a sociedade deve tomar partido da criança e agir. Mas e quando não é possível saber essa diferença assim tão claramente? E quando o que achamos ser melhor para a criança pode não ser? Já ouvimos muitos casos em que a intervenção da sociedade só piorou a história da criança. Então, como agir nesses casos?
Escuto histórias envolvendo o Conselho tutelar quase todo mês. Em uma delas, na TV, duas crianças morreram, depois de procurar o Conselho mais de três vezes, para dizer que seus pais os espancavam. O conselho não deu atenção, e as crianças finalmente morreram espancadas pelos pais. Em outros casos o conselho tira a criança dos pais, pois esta não está indo a escola, já que tem que ajudar a mãe solteira a criar os irmãos. Há ainda o caso do juiz que deu a guarda de uma criança para as tias, e não para o pai (depois que a mãe faleceu), e essa tia espancava a criança todos os dias. Então, entramos numa questão mais profunda, que é como dar e para quem dar o poder de decidir quando e como interferir na relação pais-filho. E para fazer parte do Conselho tutelar o processo chega a dar vergonha pra quem estudar a vida toda psicologia, pedagogia, ou qualquer ciência social e humana. A mesma coisa para os Juizes, muitas vezes despreparados para lidar com seres humanos, aplicam regras e leis sem analisar cada caso, e tudo isso que o tempo todo se vê nos noticiários.
Devemos proteger as crianças, mas já dizia Winiccot que proteger demais também faz mal. Há males que vem pro bem sim, pois a criança cria calos, aprende a se proteger, aprende o que é melhor pra ela, aprende a ser independente. Ninguém melhor para proteger uma criança do que ela mesma, e pra isso ela precisa ir aprendendo aos poucos. Quantos adultos sofrem por não ter tido um contato “real” com a vida, pois os pais sempre se antecipavam, protegiam, escondiam a realidade, e depois esses adultos sofrem para viver suas vidas e a dura realidade que é estar vivo. Se partirmos do principio que todo pai traumatiza seus filhos, o que é necessário e natural, quando esse “trauma” passa dos limites e devemos atuar para o bem da criança? A linha que divide essas realidades é tênue, e pode variar de acordo com quem analisar a situação. Então como delegar essa posição a terceiros? Como colocar a vida de uma família nas mãos de outra pessoa, que em muitos casos não é formada e preparada para isso?
Tendemos a analisar as situações de acordo com a nossa realidade, e isso pode muitas vezes ser injusto para a realidade dos outros, nem boa nem ruim, somente diferente. É necessário ter limites, regras, leis? Com certeza. A questão é quem vai estabelecer, como vai estabelecer, porque o mundo é muito grande, e as regras tendem a nos diminuir e enquadrar numa mesmice que não é a realidade geral do mundo das pessoas.
O que é correto ou não ensinar aos filhos? De acordo com cada região, cada cultura, cada sociedade, ou mesmo religião, a resposta a essa pergunta varia. Um tema pode ser considerado muito ofensivo para alguns, mas essencial para outros. E há os temais morais, que no geral são considerados banidos mundialmente. Mas a verdade é que existe o livre arbítrio. Uma pessoa pode pensar e falar o que quiser, mesmo que isso ofenda a outros. Dessa forma pode criar seus filhos como bem quiser, contato que siga algumas regras básicas impostas pela sociedade onde está inserido. Por exemplo, no Brasil, que vá a escola, que seja levado ao médico, que tome vacinas.
Quantos adultos culpam seus pais por suas características pessoais, ou mesmo escolhas infelizes que fizeram em suas vidas? Os pais têm culpa de tudo? Os pais são totalmente responsáveis por aquilo que o filho se torna quando cresce? Não, porque em certa altura da vida a pessoa pode fazer escolhas. Ela pode escolher aceitar, ou pode escolher ser diferente. Mesmo um pedófilo, criado por um pai pedófilo, que só sabe amar desse jeito torto, mesmo ele pode escolher tentar se controlar, tentar lutar contra seus instintos mais íntimos. Mas para que ele faça isso, é preciso que ele minimamente saiba que tenha essa opção. Se o adulto não sabe que tem a opção de escolher, ele acabará preso nos desejos de seus pais, e naquilo que ele acha que tem que ser.
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Quando se fala em políticas sociais, acho mesmo que temos que criar regras, estabelecer leis, normas, tabus, etc. Mas falando no singular, no um a um defendido pela psicanálise lacaniana, sabemos que é utopia pensar no geral, na massa como todos iguais. E mais ainda, pensando no singular, podemos pegar aquele ser humano mais monstruoso e tentar entender sua história, seus motivos, suas batalhas. Com certeza ele será mais humanizado, mas será que conseguiria ser outra coisa? E o que a sociedade faz com eles? Lava as mãos! É fácil crucificar, difícil é nos perguntarmos que responsabilidade temos, como sociedade, na criação desses monstros. Por isso termino minha reflexão mostrando a importância de sempre voltarmos a nós mesmos a pergunta: No que EU sou responsável pelo que está acontecendo na minha volta? No que eu, quando crio meus filhos, reforço o preconceito? Será que minha postura em relação às leis regras é a mais correta, será que não sou muito irredutível com aquilo que acredito? Se todo mundo se voltasse para si, com certeza viveríamos melhor. Mas é muito mais fácil julgar, apontar dedos, crucificar monstros, sair por ai dizendo o que é certo e o que é errado. Difícil é tentar se colocar no lugar do outro, fazer as pessoas pensarem, e mudar a forma de agir dentro de sua própria casa.