Categoria: Psicanálise (Page 12 of 13)

Funny Games – Violência Gratuita

Estou passando por aqui rapidamente só pra falar de um filme sensacional que eu assisti ontem a noite. Funny Games US, http://www.imdb.com/title/tt0808279/ do diretor Michael Haneke, é uma refilmagem de um filme dele mesmo, Funny Games, de 1997. Esse mesmo diretor fez também o filme Caché, outro filme muito bom. Violência Gratuita, (http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=19243) fala de dois rapazes, psicopatas, que pegam familias como reféns de seus planos mais sórdidos. Se eu falar mais estraga.

O filme é pesado, apesar de não ter cenas de violências, a violência e o suspense ficam no ar do filme o tempo todo. E pra quem gosta de histórias de psicopatas, essa é uma ótima história. E acho um ótimo gancho para discutir a diferença entre Psicóticos e Psicopatas, pois os dois não são a mesma coisa, apesar de haver uma certa confusão com as definições de cada um deles. Não estou com tempo para desenvolver essa discussão agora, em um próximo post o farei, mas já fica aqui escrito que, para a Psicanálise, os Psicopatas estariam mais próximos das estruturas Perversas do que das estruturas Psicóticas. O psicopata tem um transtorno de personalidade que o impede de ser sensível ao outro. Assim, pode cometer crimes e até matar sem demonstrar emoção sobre isso, e, durante os atos, está consciente do que faz.

Bom, fica aqui o trailer do filme e também um link de um texto muito interessante sobre a psicopatia. http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/o_que_e_um_psicopata__imprimir.html

E pra quem quer saber mais, leia também o livro Psicopatia – Sidney Kiyoshi Shine

PS: E, não, psicopatas não só são pessoas extremamente violentas e loucas, filmes como “O Talentoso Ripley” já mostraram que eles podem ser bem discretos e contidos, vivem entre nós e nem sabemos.

Mais pesquisas

Eu tinha terminado o post abaixo, mas não resisti depois de ver esse frase de pesquisa: “quando achamos que sabemos todas as respostas vem a vida e muda todas as perguntas”. Não é ótimo? E não estou sendo engraçadinha. É ótimo mesmo. Essa pessoa estaria mesmo fazendo uma pesquisa, ou pensando “alto”?

Eu diria que essa frase define muita coisa que se busca em uma análise. Será que devemos sempre responder todas as perguntas? A gente sempre acha que sabe as respostas pra tudo, mas será que sabemos mesmo? Será que um dia saberemos tudo sobre tudo, e conseguiremos responder todas as perguntas?

 

Essa outra: “arrependimento traição amor paixao casamento”. A pessoa praticamente consegue mostrar o caminho que fez do seu sentimento, nessa pesquisa. Está arrependida porque traiu, mas virou amor, paixão, e agora casamento, e dai, o que fazer? E o que espera encontrar como resposta na internet? Ela está procurando respostas, mas só ela pode decidir o que vai fazer.

 

“sintomas quando nao se gosta mais de alguem”: bom, se você já está procurando por isso, é porque alguma coisa errada está acontecendo, não é mesmo?

 

“minha menstruação não desce o que eu faço” (?????)

 

“porque a psicologia tem diversas areas de estudos”: Porque, assim como a Medicina, que tem diversas áreas de estudo e trabalho (Oftalmologia, Urologia, Ginecologia etc), a Psicologia também têm, não só diversos sujeitos de estudo (Individual, Familiar, Casal), como muitas abordagens (Psianálise, Fenomenologia, Behavorismo), e dentro de cada abordagem ainda existem mais divisões, que seguiram determinadas linhas de pesquisas distintas (Kleinianos, Freudianos, Lacanianos, etc). Essa é uma resposta bem resumida. Só pra dar uma idéia da complexidade.

 

Já viram que eu adoro ver como as pessoas vêm parar no meu blog né? Eu acho ótimo.

Respondendo sem ter perguntas

Hoje eu estava olhando o GetClicky, programa que serve pra nos ensinar muito coisa do nosso blog. Ali podemos ver quantas visitas temos por dia, de onde essas pessoas são, e como elas foram parar ali. Sempre dou uma olhada, quando as pessoas vêm de sites de pesquisa, quais foram as frases e\ou palavras digitadas que as trouxeram aqui. As coisas mais interessantes e mais bizarras acontecem. Mas hoje uma me chamou atenção.

Pesquisaram: “fazer pisicanalise pela internet de graça”. Assim mesmo psicanálise escrito errado mesmo. Mas enfim, isso me chamou atenção, porque sei que existem muitas pessoas por ai que tem interesse em fazer Psicanálise ou mesmo ir a um psicólogo, mas não tem condições financeiras de arcar com tal despesa.

Em geral, as pessoas tendem a achar que ir a um psicólogo e\ou ir a um psicanalista é caro e inacessível. Sim, existem psicólogos e psicanalistas que cobram preços altos, mas na minha opinião sempre justos ao trabalho que fazem. Mas também existem muitos que cobram preços muito acessíveis, por muitos motivos. Por estar iniciando a carreira, por trabalhar com pesquisa na área, e necessitar de pacientes para sua pesquisa (e ai os dois se beneficiam), ou mesmo porque sim, o dinheiro é importante, mas mais importante ainda é conseguir atender a população geral, inclusive quem não pode pagar tanto dinheiro por isso, no caso dos estudantes, por exemplo, entre outros. Enfim, muitos psicanalistas e psicólogos cobram preços mais acessíveis. Em geral, podemos considerar como média R$ 80,00 por sessão, sendo que o ideal é uma vez por semana, no mínimo. Dai tem os que cobram mais que isso, R$ 100,00 R$ 150,00, e os que cobram mais barato. Desses que cobram mais barato, dá pra encontrar na faixa de R$ 50,00 e até na faixa dos R$ 30,00. Ai você vai me dizer que os que cobram barato são porque são ruins ou têm alguma coisa de errado. Pode ser. Mas no que eu conheço, não são não. Geralmente são recém-formados, ou mesmo pessoas que optam a cobrar mais barato para conseguir atender mais pessoas de todas as classes sociais. Então, se você tá ai pensando que ir a um psicanalista é um absurdo de caro, ou se é barato é ruim, não é não.

O que acontece é que eu não recomendo que a escolha de um psicanalista seja aleatória. O ideal é que ele seja recomendado por alguém que conheça seu trabalho e saiba que se trata de uma pessoa séria, seja lá o que preço que cobra. Afinal, pessoas que fazem coisas erradas estão em todos os lugares e profissões, cobrando o preço que quiserem.

Há ainda a opção de procurar um psicólogo no plano de saúde. Não sei muito como funciona, mas sei que as sessões, pelo plano de saúde, só podem ser uma por mês, num máximo de 12 por ano, pelo menos essa é a lei. Então acho que fica um pouco complicado trabalhar assim, com encontros tão distantes e com data de término. Nem sempre é possível datar o fim do tratamento.

E para aqueles que realmente não podem gastar um real com isso, mas ainda tem interesse, existem os locais que oferecem atendimentos de forma gratuita. Faculdades que têm Psicologia como curso, geralmente têm centros de psicologia, pois oferecem atendimento ao publico geral, de graça, e ao mesmo tempo treinam seus estudantes. Sei que aqui em SP isso acontece em muitas faculdades, como a Universidade São Judas Tadeu, que fica na Mooca, e tem o CPA: Centro de Psicologia aplicada. Lá a pessoa tem direito a se inscrever para atendimento individual, familiar, de grupo, de casal, e também para crianças. A questão é que, por se tratar de um bom serviço gratuito (esse eu recomendo) sempre tem fila de espera, e no caso do núcleo de psicanálise, a fila de espera chega as vezes a passar de um ano, se o caso não for considerado urgente. Ah, e não sei até que ponto o paciente pode escolher a abordagem que será atendido, pois lá trabalham Psicanalistas e também Psicólogos Behavioristas.

Ainda na parte gratuita, muitos hospitais da rede pública e postos de saúde também oferecem atendimento gratuito, basta ir lá se inscrever. Entramos aqui na mesma questão da fila de espera, mas se a pessoa tem muito interesse, acho que vale a pena se inscrever e esperar. E por último, temos diversas OGN’s de psicologia, que também oferecem serviços gratuitos de psicologia.

O que eu quero dizer, com esse post, é que se a pessoa tem interesse, lugar tem, de graça, barato, caro, hoje qualquer pessoa que queira pode ir a um psicólogo. Muitos estão dispostos a negociar valores que possam ser acessíveis pra quem paga e satisfatórios pra quem recebe. Então, se você tem vontade, indico que vá pesquisar e vá sim buscar a ajuda que precisa.

Ainda não é permitido fazer Psicologia pela internet. Então se alguém estiver oferecendo isso, desconfie. O atendimento pela internet ainda está em fase de estudos e pesquisas, então a não ser que você tenha visto um grupo de internet ligado a uma universidade ou pesquisa, desconfie.

Deixo também ai meu cartão.

Aline – 11 – 5082-4215

PS: tinha outro termo de pesquisa que era “o que fazer com a mente do marido complicada que não admite seus erros” Achei hilário, hahhaa. Percebem o ato falho? O que Freud diria dos atos falhos agora na era da digitação? Será um simples erro?

PS2: Por último, havia mais uma que dizia “como fazer psicanálise clínica”. Essa pergunta achei interessante, mas dificil pensar que existirá uma resposta a altura dessa pergunta assim rapidamente na internet. Psicanálise já é um campo enorme, no qual existem diversas formas de clinicar. Por isso farei outro post sobre isso outro dia.

Podcast

Desde semana passada acordei pensando em fazer um podcast de Psicologia. Explico. Sempre critiquei a forma como a Psicanálise deixa de lado a internet e a tecnologia de forma geral. Entendo as dificuldades de fazer tal inclusão, mas como já disse em post anteriores, enquanto não aprendemos a usar nosso lugar, outros usam para outras coisas nem sempre boas. Cito o caso que postei do menino que estava em análise, mas usou a internet para se suicidar.

Pensando nisso, estou há meses tentanto achar uma forma de entrar na internet. Escrever um blog sobre isso é interessante, mas já existem muitos bons blogs sobre o assunto, e nos dias de hoje as pessoas não tem tanto tempo assim pra parar todas as semanas e ler um blog. Meu marido sempre fala muito de podcast, ele mesmo tem uma vida agitada, nunca consegue parar pra ler um livro, ou mesmo ler os textos interessantes que estão nos feeds dele. Mas ele escuta sempre podcast, toda semana, porque pode escutar enquanto vai e volta do trabalho, até mesmo quando vai no banheiro ou faz outras atividades. Por isso comecei a pensar que fazer um podcast pode ser uma coisa interessante para entrar com a Psicanálise na internet.

A idéia é fazer uma coisa aberta, não só pra quem é psicanalista, mas com um foco maior para estudantes de psicologia, ou mesmo pessoas que não sabem o que é psicologia e psicanalise e tem interesse de saber.

Procurando no google para ver se já havia alguma coisa nesse sentido, não achei nada (pode??), só achei esse post falando sobre um assunto, de alguém que também está pensando em fazer algo do gênero. http://kanzlermelo.com/2008/05/25/voce-conhece-um-podcast-brasileiro-sobre-psicologia/#comment-125

Bom, vou amadurecer esta idéia, mas se alguém tiver uma sugestão, será bem vinda.

Pesquisa em Psicologia

A pesquisa em Psicologia tem hoje diversas áreas, e nessas áreas diversas abordagens muito diferentes. Falando em áreas, temos a hospitalar/psiquiátrica ou não, clínica, social, escolar e do desenvolvimento humano, de recursos humanos, do esporte, jurídica, da sexualidade e muitas outras que cada dia surgem mais. As mais populares nas universidades costumam ser social, escolar/desenvolvimento humano e clínica. Nas universidades em hospitais ficam as pesquisas na área hospitalar.

Além desse ramo gigantesco de áreas, ainda temos outra divisão, dentro de cada uma delas, quando a abordagem. As três grandes áreas são Cognitivo-Comportamental, Fenomenológica e a Psicanálise. Ainda, dentro de cada uma delas existe outro leque gigante de subdivisões. No caso da Psicanálise, as pesquisas acadêmicas não têm muito tempo, até por certa dificuldade em se fazer pesquisa sobre a clínica. Mas já algum tempo as pesquisas em psicanálise são feitas não só na clínica, como também nas outras áreas, como social, escolar e hospitalar. Na área hospitalar a dificuldade é maior, pois existe uma prevalência da linha Cognitivo-Comportamental, que combina mais com a forma de pesquisar dos médicos.

Em Psicanálise, as duas grandes subdivisões sãos as abordagens de origem Inglesa e Francesa. Quem faz psicanálise inglesa está acostumado com autores como Melanie Klein e Winnicot. Já na Psicanálise Francesa estuda-se Jacques Lacan e os muitos outros que seguiram suas idéias. Freud é comum a todas as linhas psicanalíticas, mas cada um destes autores abriu novos modos de trabalhar a partir daquilo que Freud deixou. Além dessas duas grandes linhas, temos também os Jungianos, que muitos não consideram e nem chamam de psicanálise pela forma como este abriu portas a idéias que misturavam um pouco de religião e coisas místicas. Mas a contribuição dele no começo do estudo da psicanálise é sempre reconhecida.

As pesquisas em Psicanálise Clínica são hoje as mais disputadas nas universidades de SP, mas antes eram as menos requisitadas. Essa mudança ocorreu porque, no começo, a área clinica estava mais preocupada em atender do que em produzir textos, artigos, e com isso as pesquisas ficaram defasadas em relação as outras áreas, social e escolar. Mas há cerca de dez anos a área vem mudando, e produzindo muitos doutores, mestres, e assim artigos e teses, e por isso hoje é muito disputada nas universidades. Porém, para que se faça pesquisa em clinica, é necessário experiência na clinica, como analista. A exigência do tempo varia de universidade para universidade, mas gira em torno de dois anos. Nessa área também se exige muito um conhecimento do autor a ser usado como base para pesquisa, e por isso a seleção para este área costuma ser considerada mais difícil.

Na área de social, a psicanálise costuma desenvolver os trabalhos junto com a filosofia. As pesquisas costumam fazer um diálogo entre um autor psicanalítico e um filósofo, independente do tema. Alias, a presença da filosofia no estudo e na pesquisa em psicanálise está sempre muito presente. Na área social, a idéia de pesquisa é um pouco diferente da clínica, que pensa no singular, pois aqui a idéia é pensar, na sociedade, nos grupos, nos sujeitos como um todo. Exatamente por caminhar junto com a filosofia, também se vê aqui estudos com a metapsicologia, sobre a história da psicanálise, e sobre os movimentos contemporâneos da sociedade, como capitalismo, globalização, entre outros.

Na área escolar e do desenvolvimento humano, os trabalhos tem temas mais amplos, já que a realidade escolar também é muito ampla. Podem ser feitos trabalhos e discussões sobre a escola, sobre os professores, sobre a construção do saber, enfim, muitos são os temas possíveis. O mesmo vale para a área de desenvolvimento humano, que tem projetos da infância, de todas as fases da vida, e com as abordagens de autores desenvolvimentistas, mas também psicanalíticos.

É importante destacar que, na área hospitalar e/ou na linha Cognitivo-Comportamental, é grande ainda o número de pesquisas quantitativas, mas existe uma luta das outras áreas para que isso mude, principalmente da psicanálise clinica, para que as pesquisas sejam qualitativas. Isso porque se defende a idéia de que, o sujeito, sendo único, a e pesquisa também será única. Esse talvez seja um dos grandes desafios da pesquisa em psicanálise clínica. Na área hospitalar também é grande o estudo da psicossomática. A psicossomática tem diversas abordagens, e ai também está presente a psicanálise, mas com outro olhar, diferente do olhar da medicina.

Diante de tanta diversidade, acredito que, antes de escolher um tema de pesquisa e área, é preciso que o aluno escolha a abordagem e o autor que mais combinem com suas características pessoais de estudo.

Estou errada em alguma coisa? Vamos discutir!

Psicanálise e História

O que a psicanálise faz é com que a gente revisite ( tá certo?) nossa própria história. Já fazemos isso o tempo todo, durante a vida, contando e recontando, ou ouvindo as histórias que vivemos. O que a psicanálise faz é tentar encontrar um sentido para as histórias, deixar de lado a busca pela verdade do fato, mas sim da verdade de cada um em suas histórias. Não existe a verdade, e sim o que cada um viveu como verdade. Dessa forma, em Psicanálise, a verdade pode ter muitos lados, então pouco importa. O que importa é como o sujeito revive e ressignifica sua história enquanto reconta para si mesmo.

Mas porque tanto passado? Porque muitas pessoas sofrem no presente e não conseguem pensar seu futuro por causa de um passado mal resolvido. Então tentamos dar conta do passado, no presente, no que importa no presente para que o futuro não seja miserável, e sim cheio de possibilidades boas para o sujeito, que ele entenda que não precisa sofrer sempre das mesmas coisas ou errar sempre do mesmo jeito. É possivel fazer diferente. Mas ninguém disse que é fácil…

Meu Consultório

Depois de muito tempo desejando, finalmente tenho meu próprio consultório. Pra quem não sabe, sou Psicólga e Psicanalista, e estou desde 2005 na luta que todo mundo passa no começo de carreira. Pois então, apresento a vocês agora meu consultório (na verdade só uma parte dele), que fica na Vila Mariana.

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Nós e a internet II

Coloca abaixo o link de uma reportagem maravilhosa da Revista Época. Nunca vi algo tão bem escrito e profundo.

A reportagem fala sobre jovens que querem se suicidar e conseguem todo tipo de ajuda e assitência na internet, e talvez um empurrãozinho a mais. Fiquei chocada lendo, apesar de já saber da existência de tudo que li. E fiquei mais tocada ainda com a entrevista do Psicanalista Mario Corso, que atendia um dos meninos que se matou, porque esse tipo de coisa pode acontecer com qualquer um de nos.

Essa reportagem nos ensina o quanto a Internet está impregnada em nossas vidas, e o quanto ela pode ser boa, mas também muito ruim. E como o Brasil está atrasado para o efeito que a internet tem em nossa sociedade!!!

Leiam, são quatro páginas de entrevista mas vale muito a pena.

A entrevista: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG81603-6014-508-1,00-SUICIDIOCOM.html

A entrevista do Mario Corso: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG81582-9556,00.html

Uma mente brilhante

Eu choro toda vez que assisto esse filme. Alias, chega uma hora que não paro mais de me emocionar. É muito bonito ver o trabalho de uma pessoa tentando se livrar de seu sintoma, de suas loucuras.

O filme fala de uma esquizofrenia, mas é possivel fazer um paralelo com o trabalho de análise. Como ele, chegamos num ponto em que sabemos do nosso sintoma, mas simplesmente não conseguimos nos livrar dele. Porque sempre tem algo bom junto. A cena que ele se despede do amigo e da menina e diz: Olha, você foi um grande amigo, mas não vou mais conversar com você. Essa cena mostra o exato momento no qual ele decide não mais se deixar levar pelas coisas boas do seu sintoma. Mas o sintoma não o deixa. Continua com ele ate o fim da vida. E assim é também a análise. O Sintoma nunca nos deixa, fica sempre junto com a gente. O que fazemos e não nos deixar enloquecer por ele.

Uma outra cena, em que ele insistentemente vai para a faculdade, e todos o acham estranho, todos tiram sarro dele. Mas mesmo assim ele persiste. E não é assim com todos nós, quando vamos procurar um psicólogo, as pessoas a nossa volta não entendem, não concordam e acham isso estranho. Mas insistimos para que algo de bom aconteca no final.

Me emociono toda vez que vejo esse filme porque acho bonita a luta dele contra ele mesmo. E isso também é muito bonito de se ver em análise. Brigramos o tempo inteiro com coisas que estão dentro de nós mesmos. E como é dificil essa luta. E como é bonita e recompensante no final.

Os relacionamentos e o Sintoma

Quando recebemos um sujeito em análise, este vem com um pedido. Por exemplo: Quero aprender a não ser tão dependente das pessoas; Tenho muito medo de andar sozinho na rua de noite e isso me prejudica, quero não ser mais assim; Sou muito ciumento e isso preudica meus relacionamentos, quero aprender a me controlar. Enfim, muitos são os pedidos dos sujeitos quando estes procuram uma análise. Se procuram uma análise é porque algo os incomoda e eles querem fazer algo a respeito daquilo. Assim, dizemos que todo sujeito vem com uma demanda, um pedido. Isso é o sintoma, o que se apresenta no inicio de uma análise endereçada como um pedido ao analista, na forma de uma demanda.

Mas nada é assim tão simples. Por que, Freud ja dizia isso a cem anos, nem sempre a demanda é o problema de verdade. Nem sempre o sintoma coincide com aquilo de que o sujeito se queixa. Em 99% dos casos é preciso investigar, ir mais além da queixa inicial pra realmente se descobrir qual é o sintoma, que é onde tudo começou. Por exemplo, um sujeito que vai buscar análise porque tem medo de andar sozinho a noite. O Sintoma principal deste sujeito não está em andar a noite, o medo de andar a noite é só a forma como o sintoma aparece. Mas dai precisamos entender de onde vem isso, como começou, e muitas vezes vamos lá longe na infância pra descobrir uma coisa que hoje aparece no medo de andar a noite. E muita vezes encontramos muitos outros sintomas atrelados a este, que também precisam ser trabalhados.

Todo sujeito tem um sintoma mestre. Aquele sintoma que é responsável por todos os pequenos sintomas em sua vida. Esse é dificil de trabalhar, porque geralmente tem um bem secundário muito grande. Freud dizia que, se o sintoma é tão ruim, então porque os sujeitos os levam por uma vida toda? Porque não conseguem sozinhos se livrar deles? Porque junto como sintoma, está o bem secundário. É como se toda coisa ruim tivesse atrelada a uma coisa boa, e por isso ficaria tão dificil se livrar do ruim. Por exemplo: Se tenho medo de andar de noite no escuro, então meu marido sempre me busca de carro no trabalho. Isso era a mesma coisa que meus pais faziam, me buscavam na escola, na casa dos amigos, e é tão bom porque me sinto protegida, querida, e também porque ficamos mais tempo juntos, já que em casa a gente nunca tem tempo de conversar. Entenderam o exemplo? Esse simples exemplo as vezes leva meses pro sujeito perceber o que de bom tem no seu sintoma, e por isso também não quer se livrar dele. Todo sintoma tem seu bem secudário. Por isso damos mil desculpas pra não deixar de ter o sintoma, mas no fundo o bem secundário é uma das grandes dificuldades, entre outras claro, de se livrar de um sintoma.

Alias, o sujeito se livra de seu sintoma? Segunda Lacan, não. O sintoma estã tão atrelado a nossa vida e existência que não existe uma forma de extingui-lo. Então pra que servem os anos e anos de analise? Pois é, servem pra muitas coisas. Primeiro pra identificar o sintoma e o bem secundário, e esse trabalho já demora, porque até você chegar no seu sintoma mestre, você passa por varios pequenos sintomas antes, e dai vai descobrindo que ainda sempre o buraco é mais embaixo. E quando você finalmente chega no seu sintoma mestre (se chega, porque o caminho é doloroso e muitas pessoas abandonam a análise), dai sim você vai pensar como dar conta dele. Lacan defende que, o que o sujeito pode fazer com seu sintoma é torná-lo um estilo de vida, fazer dele algo de bom, ou seja, continua-se com o sintoma mas se aprende a lidar com ele na vida, de forma que isso não pejudique mais o sujeito, e sim se torne algo construtivo para ele. Dificil né? Eu sei, nada é fácil mesmo.

Mas porque estou falando tudo isso? Porque isso se aplica nos relacionamentos. Quando escolhemos alguém para namorar ou casar, escolhemos alguém baseados no nosso sintoma. É um casamento de sintomas, na verdade. E por isso ocorrem muitas separações, ou muitos namoros não dão certo. Dando um exemplo bem simples (nada é tão simplista como escrevo aqui, só o faço para ilustrar as situaçãos ok?) Maria gosta de cuidar de pessoas, tipo maternalmente mesmo. Gosta de mandar e ser obedecida. É obcecada por estudos e gosta de ensinar o tempo todo. Paulo é um eterno bebê, sempre esteve embaixo das asas da mãe, essa que fez tudo pra ele, nao o ensinou a ser adulto e assim Paulo tem grande dificuldade em tomar decisões e ir atras de um futuro pra si. Maria e Paulo se conhecem e se apaixonam loucamente. Um completa o sintoma do outro. ´Tudo vai dando certo, e pode dar certo até o fim da vida. Ou em certo momento da vida, Maria ou Paulo não estão mais satisfeitos com a pessoa que são. Maria percebe que os beneficios de ser mãezona e de cuidar são poucos em comparação com o cansaço que ela fica por ter que decidir tudo sempre. Ou se não ela, Paulo percebe que é muito imaturo, e acha que está na hora de cuidar de si mesmo, e assim não deseja mais alguém que cuide dele. Conflito. Os sintomas não se completam mais!!!

Isso acontece bastante quando um do casal faz análise, mas nem precisa fazer analise pra isso acontecer, muitas vezes acontece de forma natural na vida dos sujeitos mesmo. Os sintomas acabam não se mostrando suficientes para viver. Os bens secundários não são assim tão bons, e o sujeito quer mudar. Muitas vezes simplesmente muda o sintoma de lugar, ou, no caso da analise, dá outro caminho pra seu sintoma, e ai?

(É por isso que tendemos a escolher sempre o mesmo tipo de parceiro na nossa vida, já pararam pra perceber que, no fundo, todos nossos parceiras eram muito parecidos em pelo menos uma coisa?)

Bom, dai que se o casal ainda quiser ficar junto, é preciso se ajustar. Se o sintoma que os prendia já não cabe mais, não serve mais porque nao esta mais presente pra uni-los, é preciso que esse casal consiga achar outras formas de continuar unido, de continuar juntos. Eles podem se adaptar a um relacionamento diferente do que tinham antes, e pode dar muito certo, pode dar mais certo do que antes. Porque pode se tornar um relacionamento no qual de fato ambos estão juntos por um sentimento, e não só por um sintoma. Mas o que acontece em grande maioria dos casos é que só um consegue lidar com a mudança, e o outro, ainda preso em seu sintoma, não entende porque tudo mudou, e continua sua jornada buscando outras pessoas que possam preencher seu sintoma.

Por isso relacionar-se é tão complicado. Porque além de ter um sentimento que os una, o casal precisa ver também a quantas anda seu sintoma, que de fato está o tempo todo mudando, então o casal tem que ir se adaptando o tempo todo. E nem todo casal consegue isso. E não só nos casais, mas em todo tipo de relacionamento, como os familiares, pais e filhos, como também no trabalho, amigos de trabalhos e seus chefes, enfim, essa questão do sintoma cabe a tudo isso.

Sou uma pessoa muito a favor dos relacionamentos. Acredito que relacionar-se é uma necessidade fundamental dos seres humanos. Aprendemos muito nos relacionamentos, não só de nos mesmos, mas dos outros também. E vejo a beleza que é as pessoas sempre tentando superar suas dificuldades, sempre acreditando que encontrarão alguém a quem se sentirão mais próximas, as vezes casando vários vezes pra isso, outras vezes casando com um só homem e tentando dar conta das mudanças, enfim, relacionar-se não é pra qualquer um. É belo, e dificil, um caminho que vai se construindo ao mesmo tempo em que se vai vivendo.

Por isso defendo tanto a bandeira contra o excesso de tecnologia e seus vicios atrelados, porque ela, quando usada de forma errada (como acontece hoje em 90% dos casos) tira e encurta isso que temos de melhor em nós: a capacidade de se relacionar de forma profunda com outros seres humanos.

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