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Vendemos nossa alma para o Capitalismo

Quando começou a briga entre Rede Globo e Rede Record, ficou difícil tomar partido. A Rede Record tem por base uma igreja criada por um homem de grande má fé, e a Rede Globo por anos manipulou as noticias, entre tantas outras coisas. Sempre pensei que o jornalismo e os meios de comunicação não poderiam ter fins lucrativos, porque só assim ficariam livres de sempre querer vender uma história, um político, uma religião, uma idéia.

No jornalismo de papel sempre foi a mesma coisa. Por mais que os jornalistas se considerem livres para falar de noticias, eles ainda estão sujeitos ao dono do jornal que trabalham, que podem vetar matérias, ou influenciar temas. Enfim, todo o meio de comunicação, pelo menos no Brasil, parece ser vendido, tem um pé na merda.

Em tempos de avanço da tecnologia, surgiram os blogs. Parecia ser a revolução da era da noticia, já que, uma vez que não tinham rabo preso, poderiam falar do que quisessem, quando quisessem e como quisessem. E ai muitos o fizeram, criticando abertamente produtos, empresas, idéias. Até que alguns perceberam que isso podia dar dinheiro, e a coisa voltou toda pro começo. Grandes bloggers blogueiros começaram a ser pagos para falar bem de produtos, ou começaram a colocar anúncios que, em 70% das vezes são anúncios de produtos que o próprio blog critica.

Falei de tudo isso pra chegar nesse ponto: pelo que parece, todos se vendem, em algum momento da vida. As pessoas “pequenas”, que poderiam fazer diferença, e tanto criticam os “grandes”, na primeira oportunidade de ganhar dinheiro fazem exatamente a mesma coisa que antes criticavam. Será que é tão utópico querer defender nossos valores pessoais, ou será que andamos tão preguiçosos para insistir no que acreditamos?

…

Na internet, as pessoas têm buscado cada vez mais ser relevantes naquilo que fazem, sejam elas boas ou não. E o que tem acontecido é que muitas pessoas sabem fazer marketing pessoal, ou seja, fazer com que outras pessoas pensem que ela realmente é aquilo tudo que ela quer ser. O problema disso é que, em geral, as pessoas que realmente são boas no que fazem não estão preocupadas em se vender como imagem. Elas estão preocupadas em fazer o seu trabalho direito. Porém, em terra de brasileiro, todo marqueteiro é rei. E dai que as pessoas que são consideradas relevantes, em geral não o são. Mas acabam convencendo a grande massa disso, e realmente passam a vender idéias como ninguém. E isso se torna um ciclo vicioso, porque, quanto mais marqueteiras são, mas são reconhecidas, e mas são vendidas. Enquanto que, quem está de fora vendo tudo isso, mais acha horrível e mais quer distância dessa realidade. Então hoje, o que temos na internet, é o mesmo movimento que já vinha acontecendo com a noticia: quem é responsável por noticiar, criticar, refletir, são pessoas que tem rabo preso.

(O próprio Lula, passou anos lutando por um ideal, e quando percebeu que não estava conseguindo a sua maneira, contratou pessoas de rabo preso para fazer sua campanha, e ao chegar na tão desejada presidência começou a fazer exatamente o que ele criticava. E pior, passou suas duas candidaturas não vendo as coisas a sua volta. Não querer ver o que está na nossa frente é pior do que ver e não fazer nada.)

Todos temos que pagar nossas contas do final do mês. Posso parecer utópica, mas acho que sempre é possível fazer isso com um mínimo de dignidade. Somos uma sociedade que padece de doenças da alma, afinal, como podemos ir dormir a noite, quando passamos o dia ganhando dinheiro indo contra aquilo que acreditamos? Ou pior, vendendo para outros algo que sabemos não ser bom. Enchemos nossos bolsos fazendo com que os outros gastem o seu em porcaria. Pagamos nossas contas com dinheiro de valores vendidos, morais tortas, e enganando pessoas que acreditam estar sendo bem influenciadas. Depois nos perguntamos por que nossa sociedade anda sofrendo tanto do psicológico.  São as doenças do ser, porque pelo ter, estamos deixando de ser.

Se parece não haver outra forma de pagar nossas contas, então estamos caminhando pro lado errado. É nossa obrigação achar uma forma nova, se a que existe obviamente não satisfaz. Qual? Bom, podemos começar dando o primeiro passo, que é não vender nossa alma por qualquer cem reais, por mais difícil que isso seja.

Não ao desenvolvimentismo

É muito mais difícil do que se imagina sair do ciclo vicioso que entramos na onda do capitalismo. Em geral, sou contra esse tipo de vídeo, pois costumam ter argumentos furados e ficam muito próximos daquela coisa de auto-ajuda, utópica. Mas esse vídeo, em particular, gostei bastante. Não é curtinho, mas assistam, vale a pena.

 

Síndrome de Tourette

Ainda falando do filme Phoebe in Wonderland, afinal o que ela tem é ST, aqui vão uns links muito bacanas sobre o assunto, pra quem quiser saber mais:

Aqui tem um artigo muito completo sobre o que é a ST, e abaixo um trailer de um documentário bacana sobre o assunto.

 

Phoebe in Wonderland

Phoebe in Wonderland é um filme daqueles de pega a gente pelo pé. Você pensa que vai assistir um filme simples, e se impressiona com a multiplicidade e complexidade dos assuntos abordados de uma só vez.

O filme conta a história de uma menina diferente, e como o modo de ser dela toca cada uma das pessoas a sua volta: seus pais, sua irmã, seus amigos e professores na escola. Dizer isso é simplificar demais o que está por traz do filme. No fundo, o filme fala do complexo de édipo. Fala da dificuldade dos pais em lidar com a castração, com a educação dos filhos, e como lidar com a relação de casal. Fala também de educação, da dificuldade em inserir as pessoas diferentes no meio social e escolar.

Enquanto uma mãe e um pai tentam desesperadamente entender porque sua filha é diferente, e que culpa eles tem nisso, também tentam ajudá-la na sua interação escolar, e tentam resolver as questões de casal entre eles. Assistam!

 

 

…

“ – BEM-VINDOS

– A próxima regra é: "’Jenny Bom Trabalho’ faz perguntas só quando for a hora de fazer perguntas".

– Como saberemos quando é a hora de fazer perguntas?

– O que acabei de dizer sobre fazer perguntas?

– Mas…

– Pode perguntar quando puder fazer perguntas quando for a hora de fazer perguntas.

– Hein?

– Nessa sala de aula, temos algumas regras. São as mesmas regras que tivemos ano passado.

– Isso é uma pergunta?

– Turma, qual é a regra sobre fazer perguntas?

– O que sabemos sobre ‘Jenny Bom Trabalho’?

– Ela merece uma morte lenta e dolorosa.”

…

 

“ – Se você quiser voltar ao trabalho, posso terminar aqui. Quanto ao que eu disse… No jantar.

– Não temos conversado, não de verdade.

– Me desculpe.

– Converse com ela.

– Eu conversei. E tenho conversado, e ela diz que está bem, mas eu não acho.

– O que você disse, aquelas palavras…

– Eu sei.

– Não quer conversar comigo agora.

– Peter, eu estou irritada, muito irritada.

– Entendo.

– É, estou irritada por você ter dito aquilo. Estou irritada porque você a magoou. Deus, eu só… Estou irritada porque eu queria que ela fosse diferente, e estou irritada porque ela é diferente. Estou irritada porque ela age daquele jeito, porque ela é infeliz, e eu sei porque ela é infeliz e eu não consigo fazê-la feliz, mas aquela professora
esquisita consegue.  E estou irritada por me culpar do jeito que ela age. Estou irritada porque penso em mães apenas como mães, e estou irritada por me importar se sou uma boa mãe. Estou irritada porque quando você disse aquilo para ela, eu sei que você estava certo. Eu não agüentaria outra como ela. Estou irritada porque não estou escrevendo, e estou irritada porque um dia terei 70 anos e só terei minhas filhas porque eu não terei mais nada porque eu não fiz nada importante. E estou irritada porque,
às vezes… não tenho medo de nada disso porque as minhas filhas me mantêm viva. Elas me mantêm viva.”

…

 

“ – Pensei que eu pudesse ajudá-la. Pensei que era eu, porque… Eu… não… Por favor, me deixe terminar, por favor. Porque eu me aborreço com elas… e fico com raiva, com tanta raiva, que tenho vontade de sacudi-las.

– E você acha que é a única mãe que se sente dessa forma? Nada disso é culpa sua. Mas por que você não me disse?

– Porque eu não queria que ela fosse…

– O quê?

– Inferior.”

Psicóloga é o cacete!

Estava pensando em escrever um texto sobre o bafafá da louca que se diz psicóloga que cura gays. Sim, louca, porque querendo “curar” gays, psicóloga não é. Não vou nem entrar no “curar”. Mas hoje li o texto do Jean Willys, do blog dele, e percebi que ali está tudo o que eu queria dizer, sem tirar nem por. Então acho que todos DEVEM ler, uma opinião realmente pertinente sobre o assunto.

http://bloglog.globo.com/blog/blog.do?act=loadSite&id=167&postId=18400&permalink=true

Carta aberta a Rozângela Justino, a psicóloga que afirma curar a homossexualidade

Enquanto a ampla maioria dos homossexuais (principalmente dos gays) se diverte em baladas e em paraísos artificiais, alienada das sérias questões político-sociais que envolvem o coletivo do qual faz parte, uma onda neoconservadora contra lésbicas e gays tem se levantado sorrateira e silenciosamente na mesma proporção do crescimento das paradas do orgulho gay. A mais recente expressão desta onda é a “psicóloga” Rozângela Justino, que está nas páginas amarelas de Veja desta semana. Há algum tempo ela vem fazendo barulho. A princípio, decidi ignorá-la por não querer gastar minhas poucas velas com um defunto tão barato. Porém, como os meios de comunicação vêm dando espaço para ela, ainda que para questioná-la, decidi escrever-lhe uma carta aberta:

Rozângela Justino, eu não a conheço pessoalmente e não faço a menor questão de conhecê-la. Mas, como a senhora fez ataques públicos ao coletivo do qual faço parte, logo, a mim, por meio da revista Veja, eu sou obrigado a responder aos mesmos também de forma pública. Vou começar pela comparação que a senhora fez entre militância gay e Nazismo. Ou a senhora é cínica ou é absolutamente ignorante acerca do mal que o Nazismo causou aos homossexuais. Prefiro apostar que a senhora seja cínica, uma vez que sua referência ao Nazismo e o esforço em associá-lo ao movimento homossexual são tentativas canhestras de conquistar a opinião pública, já que a senhora sabe que, no imaginário popular, o Nazismo se confunde com o mal. Não, minha cara, a militância gay não é Nazismo.

Se há algum nazista em questão, este é a senhora. Seus comentários referentes à homossexualidade materializam um moralismo e um puritanismo odioso em relação à sexualidade e a modos de vida gay. Logo, seus comentários são bem parecidos com o discurso dos detentores da ordem moral e social e dos apóstolos da religião, da família tradicional e da opressão às mulheres e aos homossexuais. Ou seja, seus comentários são bem parecidos com o discurso das “direitas” religiosas e com o discurso das demais “direitas” (entenda por “direita” os representantes do pensamento e/ou do movimento político que se afina com “restaurações” conservadoras, nacionalismos e fascismos). E qual o discurso das “direitas” religiosas? Ora, aquele que expressa um horror em relação aos homossexuais e certo nojo pela “promiscuidade sexual”, independente de qual seja a orientação sexual do “promíscuo” – um discurso que esteve presente no Nazismo (sim, a gente não pode esquecer jamais que o Nazismo e os fascismos se expandiram e fascinaram multidões também porque denunciaram as cidades grandes como o lugar dos excessos sexuais dos gays e lésbicas e, logo, como espaço de corrupção de corpos e almas; a gente não pode esquecer jamais que o Nazismo era uma empresa de “purificação” não só racial, mas, também sexual). Portanto, expressão do Nazismo ou retorno ao mesmo são suas idéias. Não queira convencer os ingênuos do contrário!

É possível que os oprimidos se identifiquem com a ideologia de seus opressores mesmo sem terem consciência disso. É por isso que podem existir negros racistas e homossexuais moralistas. E é por isso também, minha sé possível, que muitos homossexuais que não resistem às pressões e violências diversas impostas pela ordem em que vivemos tenham procurado seu “consultório” em busca de “cura” para a homossexualidade. A este comportamento nós chamamos de homofobia internalizada. Se a senhora fosse uma psicóloga competente e ética, saberia que os objetivos de uma terapia psicológica não podem ser definidos em termos de mudanças de comportamento do paciente. A cura no sentido de restabelecimento do estado anterior a uma doença é um privilégio da medicina e só existe para patologias provocadas por vírus, bactérias ou fungos ou por disfunções orgânicas e hormonais ou, ainda, para certos tipos de câncer. Homossexualidade não é doença, logo, não precisa de cura.

Sabe, Rozângela, faltam-lhe argumentos. Vocês, fanáticos fundamentalistas ou cínicos exploradores da fé e ignorância alheias, nunca têm argumentos consistentes além do dogmatismo. Seu bacharelado em Psicologia obtido no Centro Universitário Celso Lisboa de nada lhe serviu ou serve já que você recorre a “verdades” que contrariam os princípios das ciências, inclusive daquela que é a base de seu curso, a Psicologia. Aliás, a qual escola ou corrente teórica da Psicologia a senhora está associada? A senhora não diz, por quê? Ora, porque o que a senhora faz não é Psicologia, mas, doutrinação religiosa.

Chega a ser risível sua referência a Michel Foucault porque está claro que a senhora nem sua fonte – Claudemiro Soares – compreenderam o pensamento do filósofo francês, que morreria de infarto, se vivo estivesse, ao ver seu pensamento articulado por uma fascista psicótica (sim, qualquer psiquiatra concordará comigo de que sua crença de que recebeu um chamado de Deus por meio do disco de Chico Buarque é sintoma de um funcionamento mental psicótico, em que a senhora toma, como concretos ou reais, elementos apresentados por sua percepção; o chamado divino a que a senhora se refere não é efetivamente real, concreto, mas, a senhora o toma como tal assim como o fazem os psicóticos com seus delírios e alucinações). Sua referência a Focault macula um pensamento muito mais complexo e distante de suas posturas neoconservadoras e quer, por meio de uma aparente ilustração acadêmica, intimidar feministas e homossexuais orgulhosos de sua orientação a se calarem para não questionar o mundo comum no qual devemos viver.

O que eu posso lhe dizer – a partir das contribuições de Freud, Melanie Klein, Lacan, Foucault, Julia Kristeva, Didier Eribon, dos antropólogos e até dos psiquiatras, contribuições que você não deveria desprezar ou ignorar, já que se diz “psicóloga” – o que eu posso lhe dizer é que os instintos sexuais são naturais, mas, a sexualidade (incluindo, aí, as identidades sexuais) é cultural. Em se tratando de nós, humanos civilizados, pouca coisa em nossa subjetividade (caráter; “alma”; aquilo que nos faz sujeitos) é natural (vem da natureza), pois, ainda na barriga de nossas mães, recebemos o que ele chama de “banho de linguagem”. Desde recém-nascidos, começamos a ser forjados pela cultura. Uma identidade sexual é estruturada de maneira complexa e envolve muitos elementos: desde as experiências de prazer e desprazer na mais terra infância em relação aos pais ou a quem os represente até representações culturais (a maneira como as práticas sexuais aparecem e são qualificadas em tratados científicos; livros religiosos e didáticos; fotos: filmes; propagandas: novelas e etc.), passando por fatores biológicos. A identidade sexual não se confunde necessariamente com a prática sexual. Esta pode ser um componente da identidade sexual, que diz respeito mais a pertencimento; a um “lugar” no mundo. Deu pra entender?

Veja bem, Rozângela, se a senhora continuar defendendo que o sexo só serve à procriação e, por isso, a homossexualidade é antinatural, eu te sugiro que abra mão o cenário onde você costuma fazer sexo (seu quarto e cama confortáveis) se é que a senhora faz sexo, e vá transar no mato como o fazem os animais; aí, sim, a senhora estará de acordo com o que é “natural”. Sugiro que, por extensão, a senhora abra mão de todas as conquistas da cultura: habitação, educação, hábitos alimentares, meios de comunicação, tecnologias, regras de higiene, modos de festejar, artes e beijo na boca, sim, pois, a natureza fez a boca para comer e não para beijar. Abra mão da instituição “família” por que ela também é um fruto da cultura e não da natureza (nunca vi uma cadela de véu e grinalda nem ela ser fiel a um só cão até que a morte os separe; e, se não vi, é porque os cães e cadelas agem conforme a natureza, enquanto mulheres e homens agem conforme a cultura).

E saiba que o entendimento do que é “família” muda no tempo e no espaço. Ou a senhora nunca ouviu falar de que, no Oriente Médio, um homem pode ter dezenas de esposas ao mesmo tempo e contar com a proteção do estado e com a bênção divina? Parece que não… Então, faça isso e aí, sim, a senhora será coerente com o que prega. Se não o fizer, é só reconhecer que é uma fundamentalista fanática, psicótica e incapaz de questionar aquilo que te ensinaram como “verdade” e, por isso mesmo, causadora de infelicidade para si e para os homossexuais que acredita curar. Sem mais,

Jean Wyllys

Gêneros

A Psicanálise não é a ciência do homem, porque o homem não é um objeto. A Psicanálise trata do objeto ao qual o sujeito se reduz, mas não de uma ciência do objeto.

Falando de objetos, como uma mulher é escolhida por um homem? Eleita pelo desejo, pelo amor ou pelo gozo? C. Soler defende que ela é eleita pela função do inconsciente. Uma mulher é a realização do inconsciente, ela faz passar do simbólico ao real um termo do inconsciente. Isso não tem nada a ver se ela agrada ou não, se desfruta o não. Por isso Lacan já dizia que julgamos um homem por sua mulher, e a recíproca não é verdadeira.

Para o homem, a mulher é um sintoma, eleita pelo gozo, e é colocada em afinidade com o inconsciente do sujeito. Portanto na relação com a mulher, o homem encontra o objeto a, o mais-de-gozar. Ela é o seu próprio inconsciente, e serve para o homem gozar do seu próprio inconsciente. Na maioria das vezes serve de puta, no sentido dê servir de objeto que satisfaz o gozo, e não o amor. A vida amorosa, por outro lado, está no nível da castração, pois desde o momento em que um homem ama ele está na falta, ele não tem. (O homem obsessivo não fica com a mulher que deseja, fica com a mulher escolhida mentalmente. Por que ele não suporta a que deseja, é demais pra ele. Tem medo de ser atravessado pelo fantasma).

As mulheres, por sua vez, são conciliadoras, estão prontas para fazer concessões para um homem: de seu corpo, seus bens, sua alma, seu fantasma. Esses empréstimos deixam a parte, para a mulher, seus próprios fantasmas. Ela não é mestre de seu próprio fantasma, é mais fácil ser mestre do Outro. Ela tenta responder a pergunta ‘quem sou’ não pelo seu inconsciente, mas pelo inconsciente do homem.

O que é um homem para uma mulher? Pode se responder que o homem é o pai? O pai nomeado, o pai castrado, ou pai do gozo? Que pai? O homem pode também ser uma criança para a mulher. E assim ela lhe dá seu amor maternal, mas isso só traz paz e não paixão.

Para J. Lacan, o homem para a mulher é uma devastação. É uma redução do ser do sujeito ao ser do sintoma do que é para o Outro. Toda menina sabe que está destinada a ser possuída, porque são destinadas ao lugar de objeto. Por isso a mulher na relação com seu parceiro se presta ao lugar de objeto, visando ‘a hora da verdade’, que é o momento do fading do parceiro. Porque a mulher não sofre de ter, sofre de ser. Esse sacrifício implica em um mais-de-gozar. A mulher goza do sacrifício em si mesma, ela goza da privação.

A mulher tem um gozo a mais que o homem (ser mãe), por isso ela se caracteriza por um menos-de-falta, e não um mais-de-falta como os homens. No caso das histéricas, há o culto da falta, o desejo insatisfeito, que coincide com o gozo. A mulher é ultrapassada pelo gozo. O faltar um penis não se constitui um menos, e sim um mais, mais-de-gozo. Porem é um mais que equivale a um menos, menos de identidade. O gozo Outro faz uma mulher Outra.

O gozo masculino identifica o sujeito, mostra quem é, que valor tem para si próprio e seus parceiros. É uma afirmação narcísica de si mesmo. O gozo feminino, ao contrário, não identifica o sujeito, ultrapassa-o. Elas não se identificam sua feminilidade pelos orgasmos, por isso se esforçam para se identificar através do amor de um homem. A mulher exige ser única, espera que o amor do homem dê a ela o valor fálico, esse sim identificatório. Ela é sempre mulher, amante, musa de um homem.

Apesar de exigir ser amada como única, o gozo que o homem tem de uma mulher a divide. Porque o gozo que ele toma dela não a completa. O gozo que a divide, a deixa só. Aquilo que divide não completa, causa o desejo. O gozo do homem por ela causa seu desejo por ela, assim, o nível do gozo dela é o que ameaça o sujeito. No homem é diferente porque ele deseja A Mulher, e o fato de ela não existir não impede que ele a deseje. Todo homem, como é todo, deseja A Mulher, mas só pode encontrar uma, não A Mulher, porque ela não existe. Ele se engana, encontra uma, na verdade seu fantasma ou seu sintoma.

Para a mulher falta um impossível. Encontrar O Homem é possível, ele existe, mas só acontece na psicose. Todas elas desejam encontrar O Homem, aquele que faria delas A Mulher. Mas isso é loucura. Então isso não acontece porque é impossível, ou porque ela se interdita. Assim, no lugar dO Homem, ela coloca um homem, e está pronta para sacrificar tudo pelo amor dele. Na falha em ser A Mulher, na falha em ser louca, ela pelo menos deseja ser, para um homem, aquela que o permite satisfazer seu fantasma. E essa posição é sintomática, porque ela é suplente na relação da falta. Por isso a exigência de amor parece satisfeita, mas isso não dura.

A análise, na mulher e no homem vai trabalhar com a demanda. Já que não dá pra mudar nossa estrutura e nosso inconsciente, muda-se a demanda. No homem, mudar a demanda não necessariamente toca o sintoma, mas na mulher a demanda é o sintoma. A análise pode levar a mulher a parar de reprovar no homem a não satisfação da própria loucura da loucura de sonhar com um Homem. E ainda pode levar a mulher a ceder de aceitar o impossível da estrutura, aceitar ser somente um sintoma para o outro, e isso cessa a recriminação, que dá lugar justamente ao amor. Mas está claro que cada caso é um caso.

O homem heterossexual coloca uma mulher equivalente ao objeto a na relação de gozo, no lugar em que A mulher não existe. O homem celibatário (homem homossexual) evita A Mulher barrada e coloca no lugar dela um ou vários homens. O falo faz função de objeto, é a relação de fora-do-sexo.

O homossexual adora exaltar a posição feminina, coloca a mulher como uma imagem fálica. Ela é servente do ideal feminino e do gozo feminino. Pode se fazer analogia com o perverso, que se faz instrumento do gozo do Outro. A mulher homossexual rivaliza com o homem como causa do gozo feminino. A relação homossexual feminina implica um terceiro, o homem, algo como ‘veja o que é amar’, isso dito para o homem.

Na análise se trabalha nessa inconsistência do Outro, que afetará o homossexual. Mas isso em nada tem a ver com o seu gosto erótico. Ai está a confusão de que se pode “curar” homossexuais.

Outro caso, a mulher só, não é celibatária nem fora-do-sexo. Ela é uma resposta ao não na relação sexual. Uma mulher só encontra O Homem na psicose, mas elas não são loucas de todo. Então, toda mulher só vê a solidão como solução. Elas não dizem isso, dizem que não suportam um homem por perto porque eles enchem o saco. A verdade é que elas não podem suportar um homem pois nenhum deles seria ao-menos-um, com o qual desapareceria o limite. Ela prefere homens que passam e quanto mais houver, maior será a distância deles, e o sonho dO Homem se manterá. A mulher só goza do homem que falta, a sedutora goza do despertar do amor. A mulher só recusa os homens em nome de um sonho de homem.

…

Pra saber mais, leia “Variaveis do Fim de Análise” de Collete Soler

Por que julgamos o tempo todo?

Quando começamos a estudar psicologia, uma das primeiras lições é que não devemos julgar nossos pacientes. Não nos cabe julgar se o que ele faz é certo ou errado, melhor ou pior, até porque nossos parâmetros podem ser completamente diferentes do deles. Para julgar, partimos da nossa realidade, da nossa criação, da nossa moral, e como isso tudo varia muito de pessoa pra pessoa, ninguém melhor do que o próprio paciente para ser juiz de sua vida.

Mas a realidade é outra. O habito de julgar está tão enraizado nas pessoas, que elas fazem isso o tempo todo. Em nenhum momento se para pensar que nossa realidade é única, portanto as outras pessoas podem ser completamente diferentes daquilo que passam ser. Então a gente julga o tempo todo: julgamos a gostosa que passa na rua porque ela está aparecendo demais; julgamos a religiosa porque ela é fanática demais; julgamos as feministas porque elas devem ser mulheres mal amadas; enfim, julgar se tornou uma coisa tão trivial e fácil, que a gente faz o tempo todo, sem perceber.

Julgar é fácil. A gente analisa a vida e as escolhas dos outros baseados na nossa história, nas nossas escolhas. Difícil é parar para tentar entender as escolhas dos outros baseados na história de vida deles. Se colocar no lugar do outro e tentar entender porque cada um escolhe o que fazer com sua vida, isso é complicado porque exige que nos retiremos do conforto da nossa vida para tentar entender outra realidade completamente diferente da nossa. É fácil achar semelhanças, difícil é lidar com as diferenças.

No fundo não aceitamos bem as diferenças, sejam elas enormes ou pequenos detalhes. É muito difícil tentar entender porque o diferente no outro mexe comigo, me ataca, me afronta, me retira do conforto do meu lugar. E esse é um dos objetivos da análise. Não estamos lá para julgar, estamos lá para tentar entender de onde partem as escolhas de um sujeito, por que e como aquilo o afeta diariamente. Mas o mesmo vale para o convívio em sociedade. Se as escolhas de uma pessoa me afrontam, me incomodam a ponto de eu sair apontando dedos e julgando, então está na hora de me perguntar o que em mim aquilo está afetando. É só quando voltamos o olhar para o nosso próprio umbigo que começamos a ser um pouco mais tolerantes, e um pouco mais abertos as diferenças. Quando a gente tem muita certeza e julga demais, estamos no caminho errado. Quando a gente começa a ter mais duvidas, quando começamos a ser mais ponderados, isso é um sinal de empatia.

Die Another Day

O número de pessoas que tenta se matar, todo dia, é enorme. A maioria dessas pessoas acaba indo parar em PS, com médicos plantonistas e Clínicos Gerais despreparados. E ai é que a coisa piora.

Na faculdade de medicina, nos cursos de enfermagem e auxiliar de enfermagem, a disciplina psicologia parece só ainda estar presente por insistência dos conselhos de Psicologia espalhados pelo Brasil. A verdade é que 99% dos estudantes da área de saúde hospitalar ou não entendem ou não gostam de estudar “as coisas da psique”. O mais perto que chegam dessa área são aqueles que vão para a psiquiatria ou para neurociências. Mas quem está no PS para receber esses muitos depressivos que chegam ao hospital, depois de uma tentativa de suicídio, estão longe das especialidades acima.

Por outro lado, temos muitos tipos de suicidas, e nem que eu quisesse poderia falar de todos eles. Mas, basicamente, os de primeira viagem são os que costumam ir parar no PS. Esses depressivos estão tentando se matar, mas ainda não sabem bem como ou por que. Então eles tentam aquelas coisas “famosas”, como beber remédios, cortar os pulsos, e afins. Em geral dá errado, porque eles não morrem, e vão parar no hospital, onde são recebidos pelo pessoal que eu falei no parágrafo acima. Esse “pessoal” tem na cabeça que gente depressiva é gente que não tem mais o que fazer, e o correto é fazê-los sofrer bastante, para que eles parem de encher a fila do hospital, que tem gente doente “de verdade”, com “problemas de verdade”, “morrendo de verdade”. Dai todos os funcionários (desde o médico à auxiliar) tratam o depressivo da pior forma possível: se for fazer lavagem, usam o tubo mais grosso, se tiver que fazer qualquer procedimento, fazem da forma mais dolorida. Enfim, fazem de tudo para o depressivo sofrer bastante, pensando que isso vai resolver alguma coisa.

Não quero aqui crucificar ninguém! Eu realmente acho que as pessoas que fazem isso, no hospital, acreditam ajudar o depressivo. E por outro lado o depressivo passa por questões que são realmente difíceis para uma pessoa, que não tem um pouco mais de conhecimento em psicologia, entender. Então qual a solução?

Em primeiro lugar, vale dizer tudo isso, e passar adiante. Tudo isso que vocês, pessoal do hospital, fazem com o depressivo, não adianta. Só vai ensinar pra ele que, numa próxima tentativa de suicídio, ele faça direito. Dali do hospital ele vai sair 99% das vezes se sentindo pior ainda, e vai então fazer o que não fez antes: estudar como se matar direito. Vai entrar na internet, em sites que ensinam como se matar, sem erro, e vai conseguir o que não conseguiu das primeiras vezes. E mesmo que ele não faça isso, mesmo que ele não tenha tanta coragem assim para levar a fundo um suicídio, no mínimo vai voltar pra casa e continuar pensando nisso, se sentindo mal, e mais depressivo.

Outro caso que em geral acontece, é que quando o depressivo vai ao PS, e ainda não chegou ao ponto de tentar o suicídio, ele dá de cara com um médico, que rapidamente lhe prescreve um antidepressivo. Em alguns casos o remédio serve, o paciente fica então anestesiado pelo efeito do remédio, e só joga o problema mais pra frente, que é quando o remédio acabar. Das duas uma: ou ele fica viciado no remédio, ou vai ficar mais deprimido ainda depois que o remédio acabar. Uma outra hipótese é que o paciente não esteja simplesmente deprimido, pode ser bipolar, e o antidepressivo prescrito pelo médico só vai piorar sua situação, acelerando a depressão ou mania.

Resumindo: depressivo que vai parar no hospital em 99% dos casos tá fudido. E obviamente os hospitais não estão preparados pra receber “doentes da alma” no hospital. Então, qual solução?

…

Para ler:

Modernidade líquida de Z. Bauman

Mais do mesmo

A psicologia, colocando-se como ciência que estuda o comportamento humano, (…) apoia-se muito numa postura pragmática e experimentalista. (…) O psicólogo se investe da posição de mestre, fazendo-se dono de teorias e técnicas que lhe permitam um saber a respeito do que ocorre com o paciente, e de qual melhor forma de avaliar seus sofrimentos.

A postura do psicanalista é bastante diversa. Trata-se de criar uma situação de escuta que permite remeter o sujeito à sua verdade, à sua palavra. O sujeito da psicanálise não é o sujeito biológico ou epistêmico, mas sim o sujeito do inconsciente. Trata-se, então, para o psicanalista, de dirigir o tratamento numa práxis que permita a emergência desse sujeito do inconsciente. (…) O enfoque está na subjetividade, na singularidade do sujeito. (…) É a clínica do particular.

Psicanálise – Introduçao à praxis – Freud e Lacan

Coord. Clara Regina Rappaport

Pais e Filhos

Eu estava vendo um filme, e inspirada por ele, e por uma discussão no twitter, decidi fazer este texto. Provavelmente será um texto incompleto, porque já assumi a postura de incompletude, no sentido lacaniano de que sempre falta algo a se dizer, a se estudar, a se discutir.

O filme se chama “Mommas Man” http://www.imdb.com/title/tt1122599/ , muito bem resenhado aqui http://cinerama.blogs.sapo.pt/200806.html . Conta a história de um homem casado, pai de família, que vai visitar os pais, e não volta mais para casa.

A discussão ocorreu esta noite no twitter, iniciada por esse tema do @DoisEspressos http://doisespressos.wordpress.com/2009/07/16/qualquer-pai-sabe-o-que-e-melhor-pros-filhos/.

Outro filme que marca esta discussão é o I am Sam, http://www.imdb.com/title/tt0277027/ , a história de um Deficiente Mental que têm uma filha, e ao fazer sete anos o Conselho Tutelar decide retirá-la do lar por considerar o pai incapaz de cuidar dela.

O que é ser pai? Ser responsável por uma criança, ter responsabilidades diversas, entre elas a de assegurar o bem estar dessa criança no mundo. Dar educação, protegê-la de perigos, amá-la e respeitá-la incondicionalmente.

Como já falaram muitos psicólogos, os pais (ou criadores da criança) exercem grande influência sobre ela. Que influência? Não sabemos ao certo. Há crianças que se tornam quase cópias de seus pais, outras que se tornam seus opostos extremos. Então, como saber que influência daremos, e o que é certo ensinar aos nossos filhos? No geral, fazemos aquilo que achamos correto. Ensinamos valores, regras e leis que correspondem a aquilo que particularmente acreditamos. Ensinamos também as leis do local onde vivemos para que isso facilite a vida em sociedade da criança. Mas o fato é que, dentro de nossas casas, podemos ensinar e influenciar nossos filhos da forma como acharmos melhor.

Ai temos dois problemas: 1. Quando não concordamos com as regras morais da sociedade que vivemos, e desejamos fazer algo diferente. Por exemplo, se não queremos vacinar nossos filhos, ou mesmo educá-los em casa, podemos até ser presos, acusado de mil crimes contra a criança. Isso é correto? Eu particularmente não acho. Ou também, no caso do filme, quando querem tirar uma criança de uma família (que, de acordo com a lei, não consegue cuidar da criança) e a colocam num orfanato em que ela vai ser menos cuidada ainda. 2. Quando os pais usam de seu poder nos filhos para ensinar valores obviamente tortos, como os nazistas, os preconceituosos, os ladrões. Outro dia apareceu na internet um vídeo de um pai ensinando seu filho de menos de três anos a roubar. E ai a sociedade se vê no direito de interferir e tirar essa criança dessa família.

Mas a questão está no fato de que nem sempre as coisas são tão claras assim. Em casos extremos, como esses citados acima, fica claro e fácil distinguir quando a sociedade deve tomar partido da criança e agir. Mas e quando não é possível saber essa diferença assim tão claramente? E quando o que achamos ser melhor para a criança pode não ser? Já ouvimos muitos casos em que a intervenção da sociedade só piorou a história da criança. Então, como agir nesses casos?

Escuto histórias envolvendo o Conselho tutelar quase todo mês. Em uma delas, na TV, duas crianças morreram, depois de procurar o Conselho mais de três vezes, para dizer que seus pais os espancavam. O conselho não deu atenção, e as crianças finalmente morreram espancadas pelos pais. Em outros casos o conselho tira a criança dos pais, pois esta não está indo a escola, já que tem que ajudar a mãe  solteira a criar os irmãos. Há ainda o caso do juiz que deu a guarda de uma criança para as tias, e não para o pai (depois que a mãe faleceu), e essa tia espancava a criança todos os dias. Então, entramos numa questão mais profunda, que é como dar e para quem dar o poder de decidir quando e como interferir na relação pais-filho. E para fazer parte do Conselho tutelar o processo chega a dar vergonha pra quem estudar a vida toda psicologia, pedagogia, ou qualquer ciência social e humana. A mesma coisa para os Juizes, muitas vezes despreparados para lidar com seres humanos, aplicam regras e leis sem analisar cada caso, e tudo isso que o tempo todo se vê nos noticiários.

Devemos proteger as crianças, mas já dizia Winiccot que proteger demais também faz mal. Há males que vem pro bem sim, pois a criança cria calos, aprende a se proteger, aprende o que é melhor pra ela, aprende a ser independente. Ninguém melhor para proteger uma criança do que ela mesma, e pra isso ela precisa ir aprendendo aos poucos. Quantos adultos sofrem por não ter tido um contato “real” com a vida, pois os pais sempre se antecipavam, protegiam, escondiam a realidade, e depois esses adultos sofrem para viver suas vidas e a dura realidade que é estar vivo. Se partirmos do principio que todo pai traumatiza seus filhos, o que é necessário e natural, quando esse “trauma” passa dos limites e devemos atuar para o bem da criança? A linha que divide essas realidades é tênue, e pode variar de acordo com quem analisar a situação. Então como delegar essa posição a terceiros? Como colocar a vida de uma família nas mãos de outra pessoa, que em muitos casos não é formada e preparada para isso?

Tendemos a analisar as situações de acordo com a nossa realidade, e isso pode muitas vezes ser injusto para a realidade dos outros, nem boa nem ruim, somente diferente. É necessário ter limites, regras, leis? Com certeza. A questão é quem vai estabelecer, como vai estabelecer, porque o mundo é muito grande, e as regras tendem a nos diminuir e enquadrar numa mesmice que não é a realidade geral do mundo das pessoas.

O que é correto ou não ensinar aos filhos? De acordo com cada região, cada cultura, cada sociedade, ou mesmo religião, a resposta a essa pergunta varia. Um tema pode ser considerado muito ofensivo para alguns, mas essencial para outros. E há os temais morais, que no geral são considerados banidos mundialmente. Mas a verdade é que existe o livre arbítrio. Uma pessoa pode pensar e falar o que quiser, mesmo que isso ofenda a outros. Dessa forma pode criar seus filhos como bem quiser, contato que siga algumas regras básicas impostas pela sociedade onde está inserido. Por exemplo, no Brasil, que vá a escola, que seja levado ao médico, que tome vacinas.

Quantos adultos culpam seus pais por suas características pessoais, ou mesmo escolhas infelizes que fizeram em suas vidas? Os pais têm culpa de tudo? Os pais são totalmente responsáveis por aquilo que o filho se torna quando cresce? Não, porque em certa altura da vida a pessoa pode fazer escolhas. Ela pode escolher aceitar, ou pode escolher ser diferente. Mesmo um pedófilo, criado por um pai pedófilo, que só sabe amar desse jeito torto, mesmo ele pode escolher tentar se controlar, tentar lutar contra seus instintos mais íntimos. Mas para que ele faça isso, é preciso que ele minimamente saiba que tenha essa opção. Se o adulto não sabe que tem a opção de escolher, ele acabará preso nos desejos de seus pais, e naquilo que ele acha que tem que ser.

Quando se fala em políticas sociais, acho mesmo que temos que criar regras, estabelecer leis, normas, tabus, etc. Mas falando no singular, no um a um defendido pela psicanálise lacaniana, sabemos que é utopia pensar no geral, na massa como todos iguais. E mais ainda, pensando no singular, podemos pegar aquele ser humano mais monstruoso e tentar entender sua história, seus motivos, suas batalhas. Com certeza ele será mais humanizado, mas será que conseguiria ser outra coisa? E o que a sociedade faz com eles? Lava as mãos! É fácil crucificar, difícil é nos perguntarmos que responsabilidade temos, como sociedade, na criação desses monstros. Por isso termino minha reflexão mostrando a importância de sempre voltarmos a nós mesmos a pergunta: No que EU sou responsável pelo que está acontecendo na minha volta? No que eu, quando crio meus filhos, reforço o preconceito? Será que minha postura em relação às leis regras é a mais correta, será que não sou muito irredutível com aquilo que acredito? Se todo mundo se voltasse para si, com certeza viveríamos melhor. Mas é muito mais fácil julgar, apontar dedos, crucificar monstros, sair por ai dizendo o que é certo e o que é errado. Difícil é tentar se colocar no lugar do outro, fazer as pessoas pensarem, e mudar a forma de agir dentro de sua própria casa.

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