Categoria: Psicologia (Page 7 of 9)

Web Therapy

Com tantas séries abordando as diversas terapias que existem pelo mundo da psicologia, Web Therapy me chamou atenção pelo humor. Com Lisa Kudrow (Friends), e já com a primeira temporada completa, a série fala de uma terapia nada convencional, de apenas 3 minutos, online. E o melhor, é de graça e podemos assistir online.

 

http://www.lstudio.com/

 

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Os paradoxos da identidade – Colette Soller

Esse é um post que comecei a escrever no mês de junho de 2008 e até hoje não terminei. É um rascunho de post, na verdade. Mas fiquei com dó de apagar, e também fiquei com dó de não continuar. Mas, honestamente, um ano depois, nem me lembro mais o que eu queria com ele. Então vou postar só porque… Só pra não dizer que não fiz nada com ele. Só pra ele não entrar na lista dos textos nunca publicados. Desculpem a cara de texto mal acabado, sem correções gramaticais, e por vezes sem sentido, mas é exatamente isso que ele é, um texto não acabado.

 

 

Os problemas da identidade se resumem em dois eixos: da polícia, em identificar os culpados e indesejados; da ciência, nos progressos, como o dna, na busca de quem somos no dna; e dos indivíduos que se interrogam cada vez mais sobre sua identidade, por se inserir socialmente estar cada vez mais difícil para os sujeitos.

Na psicanálise o caminho é diferente. A identidade em psicanalise foi por algum tempo não considerado psicanalitico. Mas identidade é uma questão psicanalitica por exelencia. Se interroga o inconsciente, o sujeito do inconsciente, que é um sujeito desconhecido, significado pelas formações iconscientes, mas não sabemos quem e o que é. Desde o inicio em Freud, visava identificar o desejo do sujeito do inconsciente por isso essa questão é sim pertinente a psicanalise.

O cogito cartesiano não diz o que sou, não fala sobre identidade, fala sobre existência. Na sequencia que ele, Descartes se pergunta quem é.

Na psicanálise a questão está no inicio, senão não é psicanalise. Para fazer analise é preciso de um sujeito com sintomas, sintomas que representam um entrave. Portanto a questão latente na entrada é “o que sou enquanto esses sintomas?” Quem está em harmonia com seus sintomas (isso existe hoje?) este sim não tem questionamentos e não vai a analise.

“O que sou” essa é a questão de entrada de analise. O sujeito que vai a analise, conhece sua identidade social, mas o sintoma não está previsto na identidade social, e a analise começa questionando esse sujeito do sintoma, não ha paradoxos. O paradoxo vem depois, o sujeito é convidado a falar, que ele se represente pela fala e esse falar do analisando na verdade se procura o outro, a fala do sujeito do inconsciente. O paradoxo é que aquele que fala não pode fixar identidade pq não se fala sem estrutura da linguagem, e a propria linguagem é impropria para identificar, um significante só se determina em relação a um outro significante. E isso conduz que o significante representa o sujeito. “Vc diz isso, não há como retirar o dito, vc pode até negar o dito, mas não consegue desdizer”. Mas o significante dito so se presenta para outro significante, portanto o sujeito falante não está unificado na cadeia falante. Ele é sempre dois, e até mais que dois. E como unificar a identidade?

Paradoxo: procuramos a identidade com o instrumento improprio. Assim, os psicanalistas insistem no fato: o sujeito enquanto falta de identidade. É um sujeito que fala não identificado. O sujeito é um ser que é evanescente, está sempre em outro lugar. Está sempre correndo atras de uma identidade. Se vê na clinica, o analisante nunca sabe o que é e o que quer, as vezes vagamente tem uma noção que quer, as vezes vagamente tem uma noção do seu gozo. A análise pode dizer isso a ele? É o que ele espera.

Na vida, a questão da identidade também está na criança, no incio. Ela é acolhida no discurso dos pais, familiares, mas tem dois traços importantes: o discurso do Outro transmite prescrições, diz o que ela deveria ser para agradá-los, satisfazer os pais. Mas ao mesmo tempo os pais questionam “quem será que ele vai ser quando crescer?”

A questão da identidade está presente ja ai, desde criança, na forma de uma questão. Portanto na analise, esse ser sem identidade acaba se identificando, é natural. O que é uma identificação? É um substitutir da identidade, na identificação tomamos emprestados do outro caracteristicas que nos identificamos mais ou menos. Tomamos emprestados siginificantes do Outro. As primeiras identificações, imaginarias, de um modo geral nas neuroses são comandadas pela segunda. Pelo Outro, que orienta as identificações imaginarias. Essas identificações do Outro sao as identidades de alienação. Dá uma identidade por emprestimo, e o sujeito sabe disso, isso é o que Lacan chama de eu. Isso começa com o estadio do espelho, e em seguida vai se vestindo com emprestimos dos ideais do outro, do Outro.

As identificações de alienação são conformizantes? Podem ser, mas existem tbém as identificações em oposição ao significante do outro e essas são anti-conformizantes, mas são sempre de alienação.

O sujeito em analise, que se pergunta quem é, o que ele faz com suas identificações na analise? Ele as descobre, em parte, e as enumera. Algumas sao inconscientes e ele as declina. Lacan diz que na analise nos denunciamos essas identificações, percebemos que sao muito mais do Outro do que de si. Por isso a queda dos semblantes na analise, o que resta quando tiramos essas identificações do sujeito? Resta o vazio da questão da identidade, “o que sou”. Somente o vazio. O sujeito barrado. Essa é a resposta da analise , mas não é só isso. A analise nao termina ai com o vazio do sujeito. Onde encontrar o principio da identidade? Se existe uma resposta a essa pergunta, é porque na experiencia não ha só linguagemm e o sujeito nao é todo o individuo, mas o individuo é o corpo, que sustenta o suejito. Ele é um corpo que tem uma imagem, om orgnismo vivo, o proprio lugar e condição de gozo, e é dai que pode vir a resposta.

Qual é a relação do sujeito que está sempre em outro lugar, e do corpo que está sempre presente? Lacan responde hipotetizando que a substancia gozante do individuo é afetada pela linguagem, a linguagem é o operador que tem duplo efeito. Um efeito de sujeito suposto e efeito de modificação do que supomos ser nossas necessidades animais. O mesmo operador é causa do sujeito e do gozo do ser falante.

A linguagem tem duplo efeito sobre o gozo: a perda …

 

 

É acaba assim, pode? Vai saber como eu ia terminar isso… Enfim, esse texto foi baseado numa palestra que escutei da C. Soler aqui no Brasil, na USP, em julho de 2008.

Psicanálise e Narrativa

O livro do antigo (e eterno) super homem me inspirou a voltar a escrever. Cada inconsciente tem seus caminhos… Meu super herói favorito sempre foi o super homem, e até hoje assisto Smallville. Mas não foi só por isso que fiquei inspirada. O livro, “Ainda sou eu”, do C. Reeve mexeu comigo porque me mostrou o heroi que passou a existir nele depois que ele se tornou um deficiente físico.

 

Não vou contar aqui a história do livro, pois acho que todos deveriam ler. Acompanhar a narrativa da vida de uma pessoa que era “normal” e passou a ser alguém que nem respirar sozinho conseguia, essa narrativa todos precisam ter o prazer de acompanhar. Poderia ficar aqui horas falando sobre isso, porque me toca em outro assunto, das deficiências. Tenho uma teoria que só é inclusivo de verdade, na nossa sociedade, quem é deficiente ou quem tem um em casa. E lendo o livro dele tive mais essa confirmação. Mas essa assunto fica pra outro dia. Estou aqui hoje para falar da importância da narrativa na vida de uma pessoa.

 

Eu sempre disse que todas as vidas dariam um livro, um filme, uma novela. Porque todas as vidas são interessantes, cada uma na sua unicidade. Talvez esse tenha sido um dos motivos pelos quais eu escolhi ser psicanalista. Porque toda história, todo paciente é diferente do outro. As histórias podem ter nuances ou situações similares, mas nunca, nunca mesmo são iguais. E por isso são sempre interessantes. Por isso, acredito que a narrativa é importante na vida das pessoas, porque ao falar de si, de suas dificuldades, de tudo que passa, a pessoa consegue nomear suas dores, suas ansiedades, seus desejos, e organizar isso para si mesma. Mas, mas importante do que narrar sua propria história, está em escutar aquilo que narra. E ai entra a importância da psicanálise.

 

Quando contamos a nossa história, na verdade contamos a nossa versão de uma história. Por isso toda narrativa é uma ficção, porque não há de fato como saber como foram as situações passadas. Cada um que viveu um mesmo momento, anos depois, dias depois, ao recontar esse momento, reconta de formas completamente diferentes, dá até pra pensar que não é a mesma situação! É como se tivessemos dez cameras em focos diferentes numa festa, cada uma filmando uma cena completamente de um angulo diferente da outra, chega nem parecer tudo a mesma festa! Portanto, contamos, narramos a nossa vida por um perspecitiva só nossa, de como nós passamos pela situação x. Na análise, o primeiro passo é criar essa narrativa, dar espaço para o sujeito contar sua história, ou, em outras palavras, criar sua ficção pessoal de si mesmo. Um segundo passo, que vai para além do narrar, é fazer com que o sujeito consigo olhar a sua própria narrativa de outros ângulos, escutar o que diz de si, e perceber que certas coisas podem ser vistas e vividas de outras formas, tudo isso para que ele possa pensar seu presente e seu futuro de uma outra maneira.

 

Sinto que foi isso que C.Reeves fez em seu livro, e sinto que é isso que muitas pessoas fazem, todo dia, quando contam de si e de suas vidas. Elas tentam entender as dificuldades, e dar um sentido a isso na sua vida. Tentam se organizar, entender o seu passado e seu presente para poder viver melhor um futuro. Não é a toa que entramos em contato com as narrativas desde crianças. Lembram-se como as crianças adoram escutar histórias? E mesmo depois, quando crescemos, quando alguém conta algo de sua vida, adoramos encontrar similiaridades da nossa própria história com a história contada pelo outro, não é mesmo?

 

Mas a necessidade de criar uma narrativa de si não ocorre para todos. Em geral nos mais velhos, com a proximidade com a morte, que se veêm com tempo para repensar a vida, e, nesse caso, recontar pode significar reviver tudo que se conta. Mas a necessidade de criar uma narrativa também está em todos aqueles que passam por algum momento chocante na vida. Nesse momento, em geral, existe uma mudança de paradigma que balança as certezas das pessoas, fazendo com que elas se apeguem a sua história para descobrir quem são, para achar respostas, Doentes terminais, acidentados, parentes que perderam alguém, enfim pessoas em momentos específicos em que algo deixa de ter sentido. Que, aliás, são os motivos que, em geral, as pessoas procuram uma análise. Na grande maioria dos casos, não se procura uma análise quando tudo está bem.

 

A Narrativa, já ha algum tempo é campo de pesquisa acadêmica. Há polêmicas quanto a isso, assim como até hoje existem polêmicas quando se fala em Psicanálise no campo acadêmico. Deixando a polêmica de lado, para quem quiser saber um pouco mais sobre isso, recomendo o livro “Narrative Inquiry” organizado por J. Clandinin. Em muito o processo da pesquisa narrativa se assemelha ao processo clínico da psicanálise, mas em outras tantas elas se afastam. Estou conhecendo mais sobre a narrativa e volto quando tiver mais novidades.

 

Acabei de ler o livro do I.Yalom, “Mentiras no divã“, e, apesar de ser uma ficção, toca em pontos importantes do meio psicanalítico. Os psicanalistas devem se remexer em suas tumbas, ou melhor, em seus consultórios, quando leêm, e isso é ótimo! “Esqueça aquela bobagem sobre o paciente não estar pronto para a terapia! É a terapia que não está pronta para o paciente!” Pg. 18

Recomendações

Saí um pouco das férias familiares só para recomendar dois artigos muito interessantes que li hoje. Um deles fala sobre a discussão do que é ou não é ciência, que aliás, é uma discussão que sempre envolve a psicanálise, que não se encaixa nos métodos ditos empíricos. http://www.ieppi.org.br/artigosint.asp?id=57 O outro fala um pouco da neurociência, a nova moda do momento. http://www.ieppi.org.br/artigosint.asp?id=59

Me lembrei também de recomendar o livro da Roudinesco, “Por que a Psicanálise”, para aqueles que querem conhecer um pouco de psicanálise, e também para aqueles que se perguntam se a psicanálise ainda é pertinente num mundo cheio de remédios e outras “soluções”.

Em agosto estou de volta! Até mais.

Revista SuperInteressante – Não recomendo

Bom, como uma boa psicanalista, me sinto na obrigação de ler tudo que sai sobre análise, Freud, terapias, enfim, o que a mídia fala sobre o assunto. Volta e meia temos revistas abordando esse assunto, sejam as terapias em geral, seja a própria psicanálise, seja Freud, enfim, os assuntos estão sempre pipocando por ai na “boca” das revistas. E hoje vou dar dois exemplos do que pode ser bom e do que pode ser ruim, muito ruim.

A revista Cult do mês de junho, praticamente esgotada antes do final do mês, fala sobre Lacan. Com artigos escritos por grandes nomes da Psicanálise no Brasil, faz um Dossiê muito bem escrito e repleto de informações acerca da psicanálise Lacaniana. A reportagem pode ser lida tanto por psicanalistas, quando por leigos, interessados ou curiosos, o que costuma ser difícil de conseguir em poucas páginas. Recomendo a leitura.

Agora me envergonha uma revista do porte da SuperInteressante fazer um tamanho mal uso de suas páginas, em uma reportagem muito mal escrita. Muito se fala sobre psicanálise no popular, e muito termos psicanalíticos ganharam a boca do povo. Mas a psicanálise de fato fica bem distante desses ditos populares. O que se diz que é a psicanálise e o que de fato ela é, é o mínimo que poderíamos esperar de uma reportagem que se propõe a pesquisar se uma terapia funciona. Qualquer pessoa um pouco mais interessada em saber sobre psicanálise tem a sua disposição milhares de livros, artigos científicos, e até mesmo boas explicações em sites facilmente achados pelo Google. Além disso, muitos psicanalistas ficariam contentes em explicar, desmistificar e colaborar com a reportagem, Por isso me admira uma jornalista não se dar ao mínimo trabalho de pesquisar para falar sobre psicanálise, na reportagem central da revista SuperInteressante, porque é isso que parece.

Primeiro, a reportagem não fala só sobre psicanálise, se propõe a falar sobre “terapias”, e não poderia ser mais geral. Até o dicionário fala melhor sobre terapia do que essa reportagem. Segundo o dicionário Houaiss, terapia pode ser:

1    tratamento de doentes; terapêutica
2    toda intervenção que visa tratar problemas somáticos, psíquicos ou psicossomáticos, suas causas e seus sintomas, com o fim de obter um restabelecimento da saúde ou do bem-estar; terapêutica

Ou seja, a jornalista foi um pouco otimista achando que poderia falar de todas as terapias que se propõem a tratar o humano ou a doença, e ainda verificar se elas funcionam. E é lógico que não foi isso que ela fez. Pesquisadores passam anos tentando fazer isso e não são tão arrogantes a ponto de se pretender a achar a resposta definitiva para essa questão. Então o título da reportagem só deixa uma ilusão de que poderia ser lido.

Assim, da forma mais superficial possível, a jornalista fala sobre Freud e psicanálise sem ter um mínimo aprofundamento, e comete erros primários nas informações que passa na revista. Claramente defende como melhor possibilidade a neurociência, e chega a nos dar a idéia que a reportagem possa ter sido “financiada” por um neurocientista.

Em um momento da entrevista, depois de falar um pouco de psicoterapias influenciadas por Freud, a jornalista diz que o processo de terapia pode ser longo e não dá garantias. Ora, e que tratamento dá garantias reais de “cura”. Primeiro que a psicanálise não propõe “cura”, e não vou aqui no momento desenvolver isso, em outro texto o farei, mas mesmo a medicina com suas cirurgias, a farmacologia com seus remédios e a neurociência com todo seu aparato também não garantem cura! Na hora H, olhando no olho de um médico antes de aceitar um tratamento, ele nunca garante cura. Uma pessoa pode passar por horas de cirurgia, e ainda descobrir que não adiantou, a doença continua, e terá que passar por outros procedimentos. Um paciente pode passar anos tomando um remédio para um TOC, por exemplo, e esse remédio não só não resolve seu problema, só ameniza, como também acaba tendo que ter doses aumentadas de tempos em tempos, ou mesmo uma série de trocas de remédios para ver qual funciona com cada paciente. A neurociência que se diz agora tão dona da nossa cabeça, também não é capaz de prometer curas, e quanto mais avança, mas se percebe que sempre falta algo que ainda é impossível de medir.

Em outro momento a jornalista desmerece o trabalho de Freud, dizendo que muita coisa que ele concluiu, ele mesmo descartou com o passar do tempo, e que a neurociência já descobriu que os sonhos têm é a ver com as memórias do dia anterior. Todo pesquisador tem o intuito de avançar em sua pesquisa, e de fato, qualquer bom pesquisador, ao perceber que algo não funciona ou não é do jeito que ele havia experimentado antes, ele mesmo descartará suas hipóteses. E isso não é considerado um bom pesquisador? Aquele capaz de não aceitar qualquer resposta as suas perguntas, só pra provar uma hipótese, e sim estar sempre investigando o que de mais ainda pode haver sobre a mesma coisa, criando hipóteses, e assim evoluindo com suas teorias e ciência? Por que então Freud é apontado por descartar hipóteses que obviamente ele substituiu com outras ainda melhores? E de que forma tão absoluta a neurociência se autoriza para absolutizar por medição do que os sonhos se tratam?

Adiante, a reportagem continua dizendo que Freud perde lugar na atualidade por dar valor “aos conflitos interiores do individuo”, sem dar importância ao social. Completa dizendo que a raiz do problema está no social, portanto não é possível prosseguir um tratamento baseado somente na psicanálise. De fato, em muitos casos os pacientes utilizam diversos tratamentos associados. A psicanálise entra num trabalho em equipe, mas nesse trabalho em equipe, um profissional não desmerece o trabalho do outro e é exatamente por isso que o paciente se beneficia. Ficar pregando que só “sua ciência” é capaz de eficácia, isso sim é não visar como centro de tudo o paciente. E não, o centro de todos os problemas de um sujeito não é o meio como ele vive. Os problemas só mudam de nome, mas os conflitos nos seres humanos se fazem presente desde sempre. O social interfere? Lógico, interfere muito, mas os conflitos são do sujeito. E cada sujeito tem um conflito. E por isso a psicanálise enfatiza o sujeito e não o tempo em que ele vive. Atenção, nada é deixado de lado, então dizer que a psicanálise não considera o social, é um erro. Agora dizer também que o social é a raiz do problema é outro erro.

Mas a frente, a jornalista descrever vastos experimentos, usando a neurociência, na busca de comprovar se as terapias funcionam. Ao perceber que 80% das pessoas que fazem terapia saem dos tratamentos melhores do que quem não faz, ela afirma que isso não se deve a Freud, já que suas teorias estão ultrapassadas. Não sei nem por onde começar a debater essa afirmação. Não concordo com a afirmação de que Freud está ultrapassado, mas mesmo se estivesse, com cem anos de existência, a psicanálise não se resume a Freud. E por isso ela não é ultrapassada, pois grandes nomes que vieram depois de Freud conseguiram validar diversas de suas teorias e ainda acrescentar muitas coisas a clínica. E muitas coisas que Freud disse há muito tempo ainda são válidas em pleno ano 2008. Não entendo porque o apego da reportagem a figura de Freud, já que a psicanálise tem nomes importantíssimos que a complementam. Faltou ai ampliar um pouco os horizontes, afinal, muito coisa já aconteceu na psicanálise depois de Freud e com Freud.

Para continuar cutucando Freud, a reportagem comenta sobre o fato de que a eficácia de diversas terapias são tão similares quanto a da psicanálise. Algumas pessoas se tratam com terapias diversas, outras com a psicanálise, e o resultado de “cura” é na mesma proporção. E novamente eu pergunto: quem disse que a psicanálise se pretende a “curar” todo mundo? Quem disse que a psicanálise é para todos? Para fazer um paralelo, é só pensar em quantos remédios existem no mercado para tratar de uma mesma doença? Alguns pacientes não podem tomar um tipo, tomam de outro tipo, e se curam. Cada paciente se cura com um remédio diferente, não necessariamente com o mesmo. Porque seria diferente com as terapias? Cada terapia pode ser boa e adequada a cada situação e paciente, oras! Parece-me mais que a jornalista tem uma visão “endeusada” da psicanálise, que ela mesma desenvolveu, e ela mesma pretende retirar. Não, a psicanálise não se pretende a curar tudo e todos. Até porque isso é impossível. Então sim, o mais normal é que todas as terapias tenham sua eficácia, naquilo em que se propõem a cuidar. Agora, partir disso para dizer que a terapia tem efeito placebo, já é um longo salto…

Para finalizar, e na minha opinião assassinar a idéia de terapia, ela diz que a única vantagem de tudo isso, é que hoje as terapias podem ser mais focadas no resultado. Claro, o paciente agora é produto, o analista um empresário, e eles precisam dar resultado. Era só o que me faltava. Dar resultado pra quem? Se já não bastasse o mundo todo nessa forma capitalista em que só busca o produto, o chamado foco no resultado, ainda querem que a terapia, que se pretende a sair desse esquema, ficar focada em resultado!

Posso dizer que a única coisa boa dessa reportagem foi mencionar que cada vez mais se formam psicólogos de forma “porca” e por isso temos um enxame de psicólogos de meia tigela, sem sua própria terapia, sem formação especifica, enfim, mal sabem de si e da psicologia e se propõem a tratar dos outros. Mas uma pena que folhas e folhas de uma revista antes muito bem prestigiada, tenho sido gasta com uma reportagem tão superficial. Faltou pesquisar, faltou aprofundar, falou saber mais para poder criticar. Foi muito geral e ao mesmo tempo cheia de estereótipos. Basta ser um pouco mais conhecedor para ler e saber que se trata de uma reportagem muito simplória.

Pesquisando um pouco mais sobre isso, percebi que a reclamação não é só minha. E não precisa ser psicanalista pra estar indignado. No próprio site da revista, existe um fórum onde todos podem opinar sobre a reportagem, e lá podemos ver que as indignações foram muitas, de todo tipo de pessoas. http://super.abril.com.br/forum/92357_assunto.shtml

Adicionada a reclamação da reportagem, há uma reclamação por reportagens de meses anteriores, que os leitores categoricamente dizem ser simplórias e sem aprofundamento, digno de vergonha em revista de tal nome. Alguns ainda mencionam que a possível queda tenha algo a ver com a troca de diretoria da revista. Não tenho detalhes acerca de tudo isso, então pouco posso dizer, mas fica a questão a saber, o que está acontecendo com nosso jornalismo. Sabemos que muitas reportagens hoje são financiadas por patrocinadores, e ficamos sempre suspeitos com reportagens como essa, que sem nem ao menos disfarçar, defendem a ferro e fogo uma só ciência. Afinal, não seria o intuito da reportagem mostrar todos os lados da moeda, e deixar as conclusões e decisões para o leitor? Como o leitor pode escolher entre uma coisa tão mal-explicada e outra tão bem-vendida?

Outro dia, na livraria Cultura, quando fui adquirir a revista Cult, e não encontrava, a responsável pela seção de revistas, me disse “que a cult acaba logo, porque é a única revista séria entre as que existem, pois a outra que tinha, Entrelivros, acabou”. Pois é, acabou por falta de anunciante, já que hoje tudo se compra, e tudo se quer vender, e em momento nenhum se pergunta o que queremos adquirir, e muito menos se mostram as possibilidades de escolha. Então qual interesse de anunciar numa revista onde as pessoas têm critica e pensam? Fica realmente mais fácil colocar anúncios em revistas onde as informações são só absorvidas, sem critica. E a psicanálise, que se propõe a não entrar nesse jogo, é atacada tão claramente na figura de Freud, fica a se pensar…

(Quer discutir a psicanálise e saber seus pontos fracos? Ok, existem muitos ótimos autores que o fazem e livros diversos que fazem isso com muita pertinência. Porque até pra falar mal é preciso conhecer a fundo do que se fala.) E é exatamente por isso que não posso comentar muito sobre a autora desta reportagem, pois não consegui descobrir nada sobre ela, nem mesmo reportagens anteriores escritas por ela, o que é uma pena.

E como uma boa reportagem se contrasta com essa. Lembram da reportagem por mim indicada, da revista época, sobre o suicídio? http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG81603-6014-508-1,00-SUICIDIOCOM.html

A reportagem, super bem escrita fala de um assunto super delicado, o suicido, aborda um assunto mais delicado ainda, a entrevista com um psicanalista do menino que se suicidou, e ainda sim consegue ser ótima, pertinente e interessante.

Deixo para vocês minha visão, e espero que possamos partir daqui para dialogar sobre o tema. Leiam as reportagens e tirem vocês mesmo suas conclusões…

Manual de uso

É de causar espanto o número de pessoas que entram no meu blog procurando coisas como: “como clinicar”, “como ser psicanalista clínico”, “como atender em psicanálise”, coisas desse tipo. Acho importante falar um pouco disso porque eu mesma já passei por isso. Acho que a gente sai da faculdade com um pensamento, que tem muito esse formato de “receita de bolo”, e ai começamos a estudar um pouco mais a psicanálise e também achamos que vamos encontrar um “modo de usar”.

 

Bom, se você procura uma profissão que tenha um manual de utilização, então a psicanálise não é a profissão para você. Digo isso, porque a psicanálise é muito subjetiva. Não vou aprofundar essa questão, pois poderia ficar horas discutindo aqui sobre a subjetividade. Posso até estar exagerando, pois algumas linhas psicanalíticas até tem algo próximo a uma “receita de bolo”. Mas falando aqui da psicanálise lacaniana, que não deixa de ser freudiana, entramos novamente na história da subjetividade.

 

Sim, a gente estuda muito, aprende muito sobre coisas gerais. Mas tudo pra servir de base para o singular. Basicamente se defende que casa pessoa é única em sua história e experiências pessoais, e apesar de algumas histórias serem bem parecidas com as de outras pessoas, ainda sim é singular, porque ainda sim terá sua especificidade nos detalhes (redundante, mas é para enfatizar!). Partindo daí, não dá pra fazer um manual de instruções. Não dá pra criar uma receita de como ser psicanalista, ou de como atender psicanaliticamente. Cada caso é um caso. O que a teoria faz é te dar suporte e te preparar na medida do possível (ou do impossível!) para o que você pode encontrar na clínica.

 

Por isso que a formação de um psicanalista é tão demorada e tão complexa. Porque não é exata, ela está baseada, acima de tudo, na própria analise pessoal do analista, e isso não tem data de começo e fim, e não tem fórmula. E é por isso que existem tantos falsos psicanalistas, porque uma área tão subjetiva dá margem a bagunça, e esse talvez seja nosso calcanhar de Aquiles. É verdade, e admito isto aqui. Mas a formação do psicanalista não é oba-oba, e cada psicanalista não faz o que quer no seu consultório, isso já é bagunça. A formação, que inclui a analise pessoal, supervisão dos casos e grupos de estudo é exatamente desta forma para ser o mais completa possível. A análise pessoal nos permite estar aptos a cuidar dos outros, porque primeiro já cuidamos de nós mesmos. Como cuidar da especificidade do outro, como dar conta das questões do outro, quando não cuidamos nem das nossas?

 

Os estudos e a supervisão tentam dar conta e embasar o que é a psicanálise, o que ela se propõe, como ela tenta trabalhar, como as estruturas clínicas existem e operam, e como tudo isso pode acontecer na singularidade de cada caso. Como lidar com tudo isso na prática, como estar sempre preparado para o diferente, enfim, tudo isso é levado em conta na formação. É importante poder estudar casos já atendidos, que servem de exemplo do que pode acontecer na clínica. Esses exemplos servem de base para reformular teorias, ou reafirmá-las, enfim, vai se construindo ao longo da formação uma base pessoal de como estar preparado para receber pacientes.

 

Esse é um assunto muito discutido, daria pra desenvolver muitos tópicos e subtópicos. A questão central deste post, é que não existe manual de instruções para ser psicanalista, não existe um modo de fazer. [Talvez exista um manual do que não fazer (hahaha)!] Mas isso não significa que é bagunça, que é farra, e que se faz qualquer coisa no consultório, pelo contrário, significa que temos que estudar muito pra dar conta dessa enorme subjetividade que nos prestamos a dar conta quando escolhemos a psicanálise por profissão.

 

Por isso, se você se interessa pela psicanálise, o ideal é procurar um local especializado ou grupos de estudos sobre o assunto. Em São Paulo temos escolas ligadas a várias linhas e abordagens, que fazem especializações, ou mesmo grupos de estudos e cartéis. Para quem é iniciante, conhece pouco de psicanálise e quer conhecer mais, tem o CEP – Centro de Estudos Psicanalíticos, que têm vários mini-cursos, palestras, e até mesmo a especialização em psicanálise. O Clin-a também tem um curso de formação em psicanálise, para quem está começando a ler Freud. Já o Fórum do Campo Lacaniano também tem formação, cartéis, cursos e palestras, mas para quem já tem um conhecimento um pouco mais avançado de Freud e Lacan. Joga no Google que você acha os sites!

 

Ah, e claro, antes de tudo, leiam Calligaris, Cartas a um jovem terapeuta, dá uma idéia boa pra quem está interessado e não sabe bem por onde começar, e também pra quem já começou e não sabe bem o que fazer.

A respeito dos atendimentos on-line

Bom, estou pensando em desenvolver um projeto de pesquisa sobre Internet e Psicanálise, estudar um pouco as possibilidades de um contato inicial on-line e perguntas nesse sentido, e ai fui pesquisar sobre o que anda sendo feito nesta questão. É impressionante o número de coisas erradas que a gente encontra na internet.

O CFP fez uma resolução 012/2005, que diz o seguinte, em resumo: 

“(…) CONSIDERANDO que os efeitos do atendimento psicoterapêutico mediado
pelo computador ainda não são suficientemente conhecidos nem comprovados cientificamente e podem trazer riscos aos usuários; (…) Resolve:

CAPÍTULO I – DO ATENDIMENTO PSICOTERAPÊUTICO
Artigo 01: O atendimento psicoterapêutico mediado pelo computador, por ser uma prática ainda não reconhecida pela Psicologia, pode ser utilizado em caráter
experimental, desde que sejam garantidas as seguintes condições: (…)

IV – O psicólogo pesquisador não receba, a qualquer título, honorários da população pesquisada; sendo também vedada qualquer forma de remuneração do usuário
pesquisado; 
   V – O usuário atendido na pesquisa dê seu consentimento e declare expressamente, em formulário em que conste o texto integral desta Resolução, ter
conhecimento do caráter experimental do atendimento psicoterapêutico mediado pelo computador, e dos riscos relativos à privacidade das comunicações inerentes ao meio utilizado;  (…)

Artigo 02: O reconhecimento da validade dos resultados das pesquisas em atendimento psicológico mediado pelo computador depende de ampla divulgação dos resultados e reconhecimento da comunidade científica e não apenas da conclusão de pesquisas isoladas.

Artigo 03: Os psicólogos, ao se manifestarem sobre o atendimento psicoterapêutico mediado pelo computador, em pronunciamentos públicos de qualquer tipo,
nos meios de comunicação de massa ou na Internet, devem explicitar a natureza  experimental desse tipo de prática, e que como tal, não pode haver cobrança de honorários. (…)”

Que eu saiba, não existe nenhuma outra resolução feita depois dessa, se eu estiver enganada, por favor me digam. Assim, partindo desta resolução, fiz uma pesquisa na internet, e levei um susto! Assim, pergunto:

http://www.psicologiaevoce.com/

1. Esse site não tem o selo de aprovação do CFP. È cobrada uma taxa de R$ 40,00 por sessão. No site não tem em lugar nenhum o artigo 03, ou seja, a informação de que o serviço não pode ser cobrado. E ainda, o site está na ar já desde 2006, e onde estão os resultados das pesquisas feitas até hoje, que deveriam ser amplas conforme artigo 02? O site faz questão de informar que as ferramentas usadas não oferecem segurança ao “paciente”, e na resolução existe uma cláusula que obriga o psicólogo a garantir a segurança das informações do paciente. E ai?

http://www.psicologiaaplicada.com.br/atendimentoonline.html

2. Nesse outro site, eles têm o selo de aprovação do CFP, o que torna as coisas ainda mais graves, porque como o CFP dá um selo e não confere? Eles cobram R$ 25,00 por sessão, também não divulgam que o serviço não pode ser cobrado, e apesar de existir um espaço para artigos no site, não ha nada que fale sobre a pesquisa na internet, já que o site está no ar desde 2004, onde estão os resultados das pesquisas feitas até hoje?

http://www.psiconlinechat.com/

3. Esse outro site não coloca valores, mas também não faz nenhuma das outras coisas necessárias, e está no ar desde 2006, onde estão os resultados das pesquisas?

http://www.angelfire.com/ego2/psicanalise_on_line/

4. Esse site cobra R$ 50,00, e se diz fazer psicanálise on line. Está no ar desde 2006, e não tem selo, não divulga que é parte de uma pesquisa, e onde estão os resultados das pesquisas feitas até então?

Se eu continuasse aqui não ia terminar hoje… Gostaria mesmo que pessoas que estiverem fazendo trabalhos sérios na internet apareçam, mostrem suas caras, porque até agora só vi coisas que deixam muitas interrogações e poucas respostas acerca de seus trabalhos. E onde fica o trabalho do CFP em tudo isso, pois ao que parece essa regulamentação só abriu espaço para aqueles que usam a pesquisa como desculpa para ganhar dinheiro em cima de pessoas que precisam de ajuda e não entendem onde estão se metendo. Se algum dos sites mencionados por acaso quiser responder as minhas interrogações, acharei ótimo dialogar e voltar atrás, caso eu esteja errada em alguma coisa.

E para terminar, fiquem atentos aos serviços que procuram na internet!!! Na internet tem muita coisa boa, mas muita coisa ruim também.

Cartas a um jovem terapeuta

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Para quem quer saber um pouquinho da profissão, estudantes ou simples curiosos, esse livro do Calligaris ajuda a dar uma idéia do que é ser psicólogo. É um livro super pequeno e barato, recomendo a leitura para aqueles que estão um pouco confusos sobre a psicologia. Lembrei dele depois de terminar meu último post sobre a formação, e acho uma boa recomendação pra quem quer conhecer um pouco mais.

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