Categoria: Psicologia (Page 9 of 9)

Nós e os mistérios

Por que gostamos tanto de um mistério? Me perguntei isso pensando em Lost, a febre dos ultimos anos. E quando temos algumas respostas, em grande maioria, não ficamos satisfeitos com elas.

Os mistérios despertam em nós a imaginação e criatividade. Então é natural que a decepção aconteça quando a resolução do mistério não vai conforme nossas expectativas. Só costumamos gostar da solução quando esta ultrapassa qualquer idéia que já possamos ter tido.

O grande mistério da vida humana é a morte. Dessa, não sabemos como é, o que é, e o que acontece quando vem. Não é a toa que os filmes acerca desta assunto fazem sucesso. Uma variante são os que tratam sobre sumiço, desaparecimento, que é o caso de Lost. Ninguém sabe da onde vieram e nem pra onde vão. O não saber do mistério nos instiga, e nos afronta. Somos narcisicos, e achamos que, por sermos os mais inteligentes dos animais, devemos saber tudo sempre. E os mistérios vem pra nos mostrar o quanto não somos assim tão poderosos, e também para nos colocar de frente com nossos limites.

Qual o mistério da vida? Qual o mistério da morte? De onde vim e pra onde vou? Então, na ausencia de resposta e na inquietação que isso nos traz, melhor pensar em Lost.

Vicio

Quando escrevi meu Tcc, na faculdade, já lá eu estava brigando com a modernidade e o pacote que vem com ela. E quem diz que é porque sou conservadora e antiga, está engando. Eu simplesmente adoro a maioria das coisas que o pacote da modernidade trouxe. Incluindo o capitalismo que tanto critico. Mas hoje eu vou só falar da tecnologia.

Eu adoro a tecnologia. Sempre achei um absurdo a gente ter que sair do carro, ou de casa, comprar uma ficha e andar até o orelhão mais próximo para simplesmente fazer uma ligação de emergência. o celular não poderia ter vindo em melhor hora. E você ter que datilograr um texto, uma hitória, e se errasse bem no final, tinha que começar tudo de novo? Pra fazer uma pesquisa tinha que fazer uma andança entre três ou quatro bibliotecas, pegar enciclopédias pesadíssimas e durante as horas de leitura não podia nem comer ou beber algo porque era proibido. O computador resolveu isso e mais um monte de outras coisas.

Sim, a tecnologia veio pra facilitar nossa vida. E eu sou a pessoa mais a favor disso. Adoro a agilidade do email, do utorrent, do acesso as noticias, enfim tudo. Mas você conhece os seres humanos? Quando nego dá a mão, a gente quer o que? O braço! E quando a gente dá o braço nego quer o que? O corpo todo.

Nós, como seres humanos somos eternos insatisfeitos por natureza. Queremos sempre melhorar tudo, mesmo aquilo que nem precisa de melhora. Estamos sempre em busca de facilitar tudo na vida. E isso é muito bom em diversos momentos. Mas tudo em exagero não faz bem. Não é a toa que vivemos o momento mais sedentário da história. As pessoas são gordas mas desnutridas! As doenças psicossomáticas nunca pipocaram tanto entre os jovens e novos adultos. As doenças do humor são uma febre, entre elas a ansiedade, depressão, transtorno do défict de atenção, bipolaridade, entre outros. Mas porque, porque se a tecnologia é tão boa pra gente???

Primeiramente porque os seres humanos se esquecem do básico. Cada animal tem as suas necessidades básicas, como alimentação, procriação, etc. E uma entre as necessiades básicas dos seres humanos está o relacionamento. Mas ai, diz você, a tecnologia incentiva e facilita os relacionamentos, certo? Certo, em termos. Porque ela também ajuda a ilusão de relacionamento. E porque tudo em exagero não é bom.

Você tem lá cem pessoas na sua lista do Msn, mais de mil amigos no orkut, quinhetos seguidores no twiter, mas, com quem de fato você se relaciona ou só tem a sensação de que se relaciona? Quantas dessas pessoas você é intimo para dividir não so as alegrias e noticias, mas também as tristezas e lamurias? Pra responder essa pergunta, basta pensar: se você morresse hoje, quem iria no seu funeral? Muito funesto? Ok, se você se casasse hoje, quem dessas pessoas convidaria para seu casamento? A lista de repente ficou bem pequena né?

É ai que entra o vicio. Usamos a tecnologia porque ela facilita a nossa vida e porque é gostoso, ou porque sentimos necessidade de usá-la?

Lacan estudou muito a questão do vazio. Nós como seres humanos lidamos a priori com o vazio da vida. Pra que nascemos e vivemos se morreremos? Simplificando, algo nesse caminho. Onde achar sentido pra fazer as coisas do dia-a-dia, dividir o que é chato e o que é gostoso fazer, sem ficar sempre de cara com o vazio? Onde encontrar sentido pro que fazemos, desde a hora que acordamos até a hora que dormimos. Pois ai entra a internet. Ela preencheu um vazio gigantesco de muitas pessoas. Se você é timido, não precisa mais ser só, não precisa mais se esforçar para fazer amizades, não precisa nem se relacionar diretamente com ninguém, a internet preenche teu vazio de N maneiras. Se você é ansioso e não aguenta ficar um minuto “sem fazer nada” (conversando, estando em compania da familia ou de amigos, isso entre outras coisas hoje é considerado não fazer nada) a internet tá ai, pra vc ficar horas com mil coisas pra fazer ao mesmo tempo. Se você não tem paciencia pra conversar porque vc nunca consegue falar e ainda tem ouvir, ao invéz de aprender a dialogar, aprender a escutar, não, usa o msn que vc tagarela a vontade e o outro também, e isso se torna uma diálogo.

Estou sendo muito radical? Não, porque acho que essas ferramentas todas também ajudam e muito. Alguns timidos começam a se relacionar pela internet, mas depois conhecem as pessoas, vão atrás do contato intimo. Muitas pessoas usam o msn para estudar, conversar com pessoas que estão longe, enfim, existem N usos bons para a tecnologia em geral. Mas chega um momento quando, duas crianças combinam de se encontrar numa lan house pra bater papo, e uma senta do lado da outra no computador, ligam o msn e começam a conversar, ai você se pergunta pra onde estamos indo…
Ou ainda uma familia que cada um tem um computador em um comodo da casa, e eles conversam mais via rede do que pessoalmente…

Em seu estudo, o Instituto de Psicologia Educacional da Universidade Humboldt, de Berlim, cita as seguintes características para se detectar a dependência da rede mundial:

1-Estreitamento da margem de comportamento

Quase todo o tempo disponível é empregado em atividades relacionadas à Internet. (Neste aspecto, contam também as muitas atividades além do tempo em que se está online, como por exemplo consertos e instalações no computador).

2- Perda de controle

Tentativas de restringir as atividades na rede fracassam. Intenções de mudar o comportamento não são concretizadas, apesar da firme vontade.

3- Perda da sensação de tempo

A expansão temporal das atividades online aumenta constantemente até ocupar completamente a cota de tempo diária que a pessoa tem à sua disposição. Com o aumento da dose, perde-se a sensação de tempo.

4-Desintoxicação psíquica

Em caso de uma interrupção temporária do uso da Internet, aparecem sintomas de desequilíbrio psíquico (nervosismo, irritação, agressividade). A isto se acrescenta um forte desejo de retomar as atividades online.

5- Conseqüências sociais negativas

Especialmente nos setores sociais “trabalho/rendimento”, bem como nas relações sociais (problemas com o patrão, na escola, família, namorada, etc…)

Para o especialista O’Neill, um sinal de que uma pessoa pode estar viciada nesse tipo de coisa é o fato de ela escolher conversar por MSN, e-mail ou por correio de voz, por exemplo, em situações nas quais o contato físico, “cara a cara”, seria mais apropriado.

Ele também cita como um comportamento preocupante o hábito de deixar de passar tempo com a família ou os amigos para checar o correio eletrônico, telefonar, ou usar a internet. Ou ainda a incapacidade de sair de casa sem o celular, ficar relaxado sem checar o e-mail constantemente ou parar de usar a rede.

Pra que estou escrevendo isso? Porque acho os seres humanos adoram um vicio. Quem não é viciado em alguma coisa?? Não estou aqui para radicalizar nem defender os extremos. Estou aqui propondo uma discussão acerca das tecnologias e do nosso futuro. Será que precisamos de um celular que tem camera, mp3, gps, acesso ao email, video, tv, etc etc? Será que precisamos checar nosso email incessantemente inclusive de noite e nos finais de semana? Será que precisamos comprar tudo que lança se o que temos já nos serve? Será que é certo ensinar nossos filhos a usar o msn, para depois larga-los numa lan house, enquanto poderiamos chamar os amigos para passar a noite em nossas casas? Será que precisamos comprar um video game individual pra cada um deles, ao invés de comprar um que sirva pra toda familia junta? Será que todos os nossos projetos de futuro, de dinheiro e de vida precisam depender de algum programa do computador?

A psique

Pessoal pensa que só porque é psicólogo ou psiquiatra que é perfeito. Ser um desses siginifica que a pessoa é perfeita, não tem nenhum problema, não tem nenhum trauma, não tem nenhuma questão pessoal sem resolução. Ou ainda não tem direito de dar ataque, ter ciumes, ter medo, ter inveja, gritar, desabelar, enloquecer de vez em quando.

Sinto informar que, FELIZMENTE, quando somos psicólogos continuamos sendo seres humanos, ou seja, continuamos sentindo e vivendo tudo como os outros. Se a psicologia muda alguma coisa? Muda, e muuuito, mas não porque a estudamos só, e sim porque geralmente quem estuda faz sua própria análise, e assim passa a lidar melhor com suas proprias questões e afins, e assim se torna apto, em certo momento, a atender outras pessoas e ajudá-las com suas questões.

Então, o que faz um bom psicólogo? Não é um ser humano perfeito, curado, porque isso não existe, tenho certeza. Mas com certeza alguém que está sempre apto a aprender muito de si mesmo e dos outros, com os outros, sempre.

Digo isso porque essa semana vi o psiquiatra do BBB “enlouquecer” e um dos participantes, e metade do Brasil dizia “nossa, mas quem vai querer ser paciente desse cara, que deu esse ataque?” Junto a isso, eu mesma essas ultimas semanas estou as voltas com minha parte exibicionista, no ensaio nu da revista. E ai que acho importante reforçar que todos, TODOS mesmo temos nossas questões, e continuaremos a ter, sempre, porque somos seres humanos, sempre, independente da profissão.

Juventude

Onde vai parar a força e a energia que a gente tem quando é jovem? Jovem, o que é ser jovem?

Ser jovem é um conceito que não tem nada a ver com idade. Muitas pessoas passam pela juventude em momentos diferentes da vida. As pessoas ficam tentando determinar o momento certo de ser jovem, mas a verdade é que isso não existe. Tem pessoas que conseguem ser jovens logo cedo, enquanto outros demoram um pouco pra curtir essa fase da vida. Então o que define ser jovem? É só uma fase ou acontece em diversos momentos diferentes da vida?

Até pouco tempo não existia juventude. Ou você era criança, ou você era adulto e velho. Não existia um momento para curtir sem pensar nas responsabilidades, pra agir sem pensar, pra acreditar no abstrato e pra sempre ter certeza que tudo ia dar certo.Viver a sensação de que o mundo é pequeno pra você, a vontade de devorar tudo que passa pela frente, o principio do prazer a toda, permitindo com que a pessoa não veja obstáculos na sua frente. Será que isso é juventude?

É uma energia que nunca termina. Você acorda querendo algo mais, e vai dormir quando o corpo não aguenta mais ficar em pé. São as baladas intermináveis, os mil amigos, as paixões avassaladoras de uma semana, as bebidas, os cigarros, as voltas de carro, as músicas frenéticas, o sexo que transforma dois em um, a sensação de infinitude do momento, o tempo paralisado para que tudo isso aconteça…

E no fim, tudo isso é ser Jovem? É a sensação de ainda ter uma vida inteira pela frente, em qualquer idade?

A história de Eros e Psique

Há muito, muito tempo, quando os deuses ainda viviam entre os homens, havia na Grécia um rei que tinha três filhas. Todas belíssimas, todas em idade de casar, que, por favor, recordem-se, casar naqueles tempos era o mais importante ritual de passagem, e não só para as mulheres…

Falei que as filhas do rei eram belas, mas a mais nova delas, Psiquê, era mais do que bela. As palavras humanas não davam conta de descrever seus encantos e os milhares de pretendentes que chegavam ao reino, atraídos pela fama das irmãs, sentiam-se indignos diante dela e sequer ousavam pedi-la em casamento. O reino fervilhava, gente de todos os lugares vinham em romarias e se deixavam ficar pela cidade, apenas esperando ver a jovem princesa passar; músicas e poemas eram escritos em sua homenagem, mas Psiquê, no alto do castelo de seu pai, continuava solitária: nenhum homem podia se apaixonar por uma mulher bela como uma deusa…

A fúria de Afrodite E como os deuses não costumam tolerar os arroubos divinos dos humanos…Afrodite estava mais do que furiosa! Como ousava uma mortal ser mais bela do que a própria Deusa da Beleza? “Vê, Grande Mãe da Natureza, origem de todos os elementos, observa como tu, que és a alma de todo o universo, estás dividindo as honras da majestade com uma simples mortal e como teu nome está sendo profanado pelos humanos!”, resmungava a deusa para si mesma. Chamou seu filho, quem senão Eros, o Deus do Amor e mandou, como só mandam as mães: Psiquê deveria se apaixonar perdidamente pelo mais horrendo dos homens. E mal disse, partiu, deixando o filho com a imagem da princesa. Partiu Afrodite, solene, para o mar, onde nascera, e que se abria, encantado a cada vez que a deusa tocava os pés nas brancas espumas…

O destino de Psiquê Enquanto isso, desesperado com a situação da filha mais nova, o rei havia decidido buscar os conselhos do oráculo do deus Apolo: “Vista a princesa de luto, leve-a à mais alta rocha à beira do mar. Lá, uma serpente alada virá buscá-la e a transformará em sua esposa!”. Terrível profecia! Mas como os gregos não costumavam discutir os conselhos dos deuses, a bela Psiquê foi levada em cortejo pelas ruas para cumprir seu destino, em meio às lágrimas e à tristeza de todos.

Mas qual seria o destino de Psiquê? Sem querer — ops, como pode uma deusa fazer algo sem querer? — Afrodite não tinha apenas alterado o futuro de sua rival. Sozinho com a imagem da jovem, Eros, havia se apaixonado, irremediavelmente…Uma pausa, só para perguntar se você reconhece por detrás do cenário os temas universais que tornam esta história fascinante ainda hoje?

Mas espere só para ver…é claro que será Eros em forma de “monstro alado” que vai resgatar Psiquê acorrentada no alto do rochedo. É ele que vai tornar-se seu esposo, com uma única condição: a princesa jamais poderia ver o rosto do marido! Parece fácil, não é? Mas todas as mulheres que um dia tentaram manter casamentos ou relações à custa de varrer para baixo do tapete os aspectos sombrios do parceiro ou da relação sabem que esta é realmente uma tarefa impossível.

Curiosidade e revelaçãoE foi impossível mesmo para Psiquê. Embora feliz como um gato (parênteses: quer dizer, vivendo como uma rainha, rodeada de todo luxo de que precisava e com um marido amoroso que só via à noite e no escuro…) algo incomodava. Um dia, alimentada pelas suspeitas das irmãs invejosas de sua riqueza, ela decide descobrir com quem estava realmente casada. Aproximou-se do marido e, pela primeira vez ousou olhar. E, imediatamente, apaixonou-se pelo Deus do Amor…Psiquê, aflitíssima, queria voltar atrás, fingir que nada havia acontecido, continuar sua vidinha, mas não era mais possível. A cera da lâmpada escorreu e pingou no rosto do deus adormecido…

E lá está a pobre Psiquê em prantos… Eros, indignado, vai embora sem ouvir as desculpas nem ligar para as lágrimas da esposa. E, de certa forma, é neste momento que a história começa de verdade. Porque, para recuperar o amor e a confiança do marido, Psiquê precisa percorrer um longuíssimo caminho.

A longa viagem da almaEm grego, Psiquê significa “alma”. No momento em que conhece o esposo, a jovem se transforma em mulher, apaixona-se e precisa sair em busca de si mesmo. A história de Psiquê foi usada pelos estudiosos como analogia para a história do desenvolvimento da alma. E não são fáceis estes movimentos da alma. Assim como a jornada de Psiquê, o caminho do autoconhecimento e do amor verdadeiro é cheio de perigos, cheio de armadilhas. Nenhum herói se faz sem provar sua coragem e sua competência. Psiquê é uma história de heróis, feminina…

Quando parte em busca do amado, Psiquê está absolutamente só…mas grávida (talvez porque as mulheres, quando decidem percorrer seu caminho feminino, nunca estejam de fato sós; talvez porque toda decisão de mudança faça germinar uma semente de possibilidades) Mesmo assim, nem os outros deuses se atrevem a ajudá-la. Finalmente, é levada até a própria Afrodite que, como não poderia deixar de ser, uma vez que este é um legítimo conto de fadas, impõe à moça várias tarefas, para testá-la ou para destruí-la. As tarefas de PsiquêSeu primeiro trabalho é separar um gigantesco monte de grãos variados em pilhas organizadas. E como não podia pedir ajuda aos deuses, Psiquê, chama pelas pequenas criaturas da terra e as formigas veêm em seu auxílio. Depois desta, Afrodite manda a nora trazer a penugem de ouro que cobria a pele de uns carneiros ferozes que vagavam pelos campos. Mais uma vez, quem salva a moça é uma criatura da terra, um junco que lhe dá bons conselhos: “seja paciente, menina, aguarde o momento certo. Quando cair a noite, os ferozes carneiros não vão parecer tão ferozes, nem tão ameaçadores para quem traz em si a semente do feminino…”

Para completar a terceira tarefa, Psiquê deve trazer a água da fonte que alimenta os rios infernais, no cume de um rochedo. Desta vez, quem vem ajudar a jovem é a águia de Zeus, a pedido de Eros, que começava a sentir saudades da esposa. Afrodite dá ainda à moça uma última tarefa. A mais difícil. E se você, que está lendo é mulher vai concordar…Psiquê deve descer até as profundezas do mundo subterrâneo e pedir o creme de beleza de Perséfone, a rainha do Hades. Quando a moça já vem vindo de volta, quase chegando, quase vitoriosa, não resiste e abre a caixinha, na esperança de passar na pele um pouquinho só do creme mágico e tornar-se mais bela…para Eros. E no mesmo instante, é envolvida pelo sono da morte! Não, nem adianta se impacientar com a vaidade da moça. Vaidade e “fracasso”Erich Neumann, que conta a história no belo livro Eros e Psiquê, comenta: no momento em que escolhe o fracasso de forma tão paradoxal, Psiquê realiza seu destino feminino (lembram que eu falei que esta é uma aventura, com heróis e tudo, mas heróis femininos…). E obtém o perdão de Afrodite, que reconhece na moça que desiste de tudo por amor um pouco de si mesma. E é um Eros que não tem mais nada do menino ferido, que busca abrigo nas pregas da saia da mãe, quem vai acordar Psiquê. Ele devolve o sono à caixinha, toca a mulher com a ponta de suas asas e diz a ela para ir cumprir sua tarefa até o final, sem medo…É ele que vai ao Olimpo, solicitar a benção dos deuses para o casamento. E é ele que pede a Hermes, o deus-guia que conduza Psiquê à sua nova e eterna morada. Final feliz e recomeçosA história acaba como devem acabar todas as histórias: os deuses comemoram as núpcias de Psiquê e Eros com um grande banquete. Zeus oferece à jovem o néctar da imortalidade. Afrodite, a Grande-Mãe, ora terrível, ora bela, apaziguada, recebe sua nora. E juntas celebram o mistério do nascimento e do renascimento, quando Psiquê dá à luz uma menina, Volúpia…que vai ser chamada também, Deleite ou Bem-aventurança. Expressão mais do que feminina da união entre o humano e o divino…

Perfume: The story of a murderer

Perfume: the story of a murderer é um filme fantástico. A história é fantástica. O cara é um psicótico, mas tem uma lógica própria de funcionar e entender o mundo. E mostra como tem importância sim o momento do nascimento e os primeiros anos de vida.

 

Ele nasceu no meio dos peixes, na sujeira, na imundice. E cheiro de peixe a gente sabe bem o quanto horrivel é, imagina num lugar que já não é nada limpo. E não é que ele cresce tentando descobrir a essencia das coisas? É um duplo sentido, pois ele quer sentir a essência, o cheiro das coisas (e não do peixe), e quer descobrir aquilo que ele sente que não tem, a essencia de si mesmo.

 

Obcecado pelos cheiros, e com uma facilidade imensa de distinguir uma essencia da outra, finalmente tem contato com aquilo que é belo, bonito, uma essência bonita. E na sua ansia de manter aquilo nele, mata a primeira coisa que poderia dispertar nele algo de bom. O primeiro cheiro que talvez o fizesse valorizar a vida e esquecer o (maldito) cheiro de peixe, cheiro do desprezo. E a linha tênue entre vida e morte então, pra ele não existe, já que pra ele viver foi simplesmente algo que aconteceu ao acaso, sua vida não foi desejada. Tão próximo da morte, ele entende que deve ser nesse ultimo momento que a essencia de uma pessoa pode ser preservada pra sempre. E é quando percebe que ele mesmo não tem cheiro, ele mesmo não tem essência, ele já está morto. Passa então a buscar loucamente uma essencia primeira, aquela que seria capaz de devolver-lhe a vida, de colocar-lhe numa posição desejavel, e pela primeira vez ser desejado por alguem. Mas ele não percebe que quer ser desejado e visto como sujeito pelas essencias que ele não tem, são as essencias de outros!!! E, de fato esse dia chega, o dia em que ele capta essa essencia capaz de tornar uma pessoa desejavel, sujeito, alguem, tudo que ele nunca foi. Mas, qual é sua surpresa, pois, depois que ele se dá conta que chegou onde queria, ele continua se sentindo o mesmo. Ele continua sendo visto por todos da mesma forma como sua mãe o viu, como alguém desprezivel. Ele ainda não é ninguem, ele ainda não se encontrou, porque afinal, estava procurando no lugar errado.

 

O impressionante desse filme, além da história em si, é ver como funciona a mente dele. Nada é obstáculo para o seu objetivo, e ele não vê a morte como algo horrivel, primeiro porque ele já se sente morto-vivo, segundo porque a pessoa-copro morria, mas sua essencia era preservada viva.

 

E porque estou falando de tudo isso hoje? Porque a gente passa a vida procurando essa essencia de nós mesmos. E é uma busca que não tem fim, e é necessária porque é assim que nos conhecemos. Mas a verdade é que esse caminho é infinito. Não chega um dia no qual encontramos de fato a verdade absoluta de nós mesmos. Porque isso não existe! Essa verdade é inconstante, está sempre em movimento. Hoje está em ir ao cinema, amanha está em trabalhar, depois está em ser mãe, e mais a frente estará em outra coisa qualquer. E as pessoas deprimem muito hoje em dia porque, ao perceber a impossibilidade de encontrar-nos a nos mesmos de forma absoluta, ficamos presos, estagnados, sem conseguir nos mexer. E ficamos nos sentido como estátuas, presos numa impossibilidade, e sem ser capaz de criar outros caminhos para o futuro. E enquanto isso assistimos a vida passar, e assim o sofrimento só aumenta. Ou chega a tal ponto de anestasiar, e não sentimos mais nada em relação a nada. Que perigo!!!

 

Estar sempre em movimento, esse é o segredo, e talvez essa seja algo mais próximo da verdade absoluta. O nosso desejo tem que estar sempre em movimento, sempre atrás de possibilidades de realização. Assim não nos fixamos nas impossibilidades e podemos ser criativos e livres para sermos sujeitos de nós mesmos.

Mais uma vez o capitalismo contemporâneo

As pessoas estao estão cada vez mais individualistas.Ontem eu estava andando “em familia”, tinhamos ido na farmacia para dar uma volta, fazer um exercício. Atravessando um farol, lá estava uma moça num Gol velho, bem velho, tentando fazer o carro pegar, e nada do danado dar sinal de vida. Eu demorei pelo menos cinco minutos para conseguir atrevessar, e contando que ela ja estava ali antes de eu chegar, e continuou após eu ter ido embora, contem ai o tempo que ela deve ter afogado o carro de tanto tentar fazer o bichinho pegar. Mas a cena não está completa ainda. Nesse tempo todo, passou todo o tipo de gente perto dela: homens, mulheres, crianças, policiais, enfim, um mundo de gente que podia gentilmente se oferecer para dar um empurrãozinho no carro, mas ninguém nem dava bola pra ela. Eu até me senti mal com isso, por estar com um nenem no colo e não poder ter ajudado. Eu pensei que isso podia estar acontecendo comigo, e não estaria melhor do que ela naquele aperto.

E aconteceu.

Hoje estava eu indo pra faculdade de onibus e metro. Contei o dinheiro: eu tinha exatos oito reais. Isso dava pra pegar o onibus té o metro, o metro, e o onibus até a facu, e ainda tomar um sorvete. E lá fui eu com o Vinicius no canguru. O negócio já começou a dar errado na ida. Eu tava no primeiro onibus e começou a chover. Até ai tudo bem, porque o terminal é coberto, o metro também (pensei). Mas por qual motivo nao sei, o onibus não parava no terminal. Lá vai eu correndo garoa abaixo com um pano na cabeça do Vi. No metro, tudo bem, fui chupando meu sorvete feliz e contente, até porque não tinha almoçado ainda e já era cinco horas da tarde. Mas, parece que eu fiz as contas erradas, porque chegando no metro Bresser, meu ponto final, eu só tinha em mãos R$ 1,70. Sim faltava trinta centavos. E o pior, estava o maios toró. Sim, eu podia ir apé até a facu, meia hora andanda, mas e a chuva? E eu sem guarda chuva com o Vi a tira-colo?

Bom, “mendigar” trinta centavos estava completamente fora de cogitação. A chuva parar também estava completamente fora de cogitação. Então fui andando para ver se no meio do caminho alguem gentilmente cedia seu guarda chuva velho, afinal, eu estava com uma criança nos braços. Hahahha: doce ilusão. Cheguei a ficar uns dex minutos paradas em frente a uma doceria, onde o povo olhava, perguntava, mas nada de oferecer uma ajudinha. Até que, no meio do caminho, o dono de um bar que tocava forró ofereceu ajuda, mas o que ele tinha era simplesmente um saco, tipo uma estopa, fez de um jeito que ficou do tamanho do Vi. É claro que eu aceitei, porque já estava até atrasada pro compromisso (isso porque eu sai de casa com duas horas de antecedencia).

Bom, depois dessa aventura, aprendi que da próxima vez que eu achar “uma mulher que não consegue ligar o carro” (metafóricamente) eu vou ajudar, porque tudo volta pra gente. Tudo.

É o capitalismo contemporaneo.

Machismo – mais uma invenção feminina para a autopunição

A mulher acha que nasceu do pecado, ou que é o pecado, ou que cometeu um pecado muito feio quando era pequena. De um jeito ou de outro, quando cresce, acredita que deve pagar por ter sido uma menina ruim. E é ai que entra o sexo.

O sexo deveria ser algo bom na vida da mulher. Um movimento para produzir prazer, felicidade. Mas, nas mão dessas mulheres (senão de todas) se torna instrumento perverso de autopunição. É nele que as mulheres conseguem se punir sem ter que dar satisfação pros outros.

Assim, as mulheres se deixam violar, penetrar por homens que só sabem despertar nelas seu lado mais podre, frio, gélido. E cada homem mostra o como a mulher pode se distanciar de si mesma. A cada orgasmo fingido, a cada nojo escondido ela se torna estranha para si mesma. E isso causa um estranho prazer. É o prazer de se punir.

Mas essa punição nunca acaba. Não enquanto ela for viva. Então essa busca insana pelo sexo também não acaba. Cada homem ajuda a mulher a se punir de si mesma mais e mais. E quando a mulher chega em casa e mal consegue se olhar no espalho de tão vadia e usada, de tanto nojo de si mesma, e ai que vem o prazer macabro. O prazer da punição. Mais uma noite, mais uma missão cumprida, mais um dia de penalidade cumprida.

E quando a mulher acha um homem que não a faz sentir assim, provavelmente ela o matratará. Porque ela não é digna de alegria, ela precisa sofrer todos os dias. E muitos homens bons passam pela sua vida… podem passar a vida toda, até que um dia parem de passar. Mas podem passar, e por algum motivo, insistir em te fazer feliz. Em mostrar que você não precisa se punir, já se puniu o suficiente.

E ai você pode ser feliz, mas, volta e meia vai procurar um jeito de se punir de novo. Borderline total. Porque isso foi passado pra você pela sua mãe, que por sua vez recebeu isso da mãe dela, e assim por diante…

Da onde surgiu isso? Não sei. Mas se pararmos pra pensar, tudo prega que a mulher deve sofrer. Maria, mãe de Jesus viveu para sofrer (tanto por ter ficado grávida em uma história muito mal contada, tanto por ter que sofrer pelo filho na cruz). Joana darc teve que sofrer por saber demais e por querer ser mais do que a mulher podia ser em sua época. E assim por diante.

Então, a gente nunca deixa de se punir? A mulher nunca terá pago o preço suficiente para sua liberdade de si mesma? Gerações e gerações passam, mudam, mas isso nunca muda. Até quando?

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