Se você tem algum envolvimento com o currículo lattes, esse texto é pra você. Pode pular para o item Proposta. Vou fazer um apelo e tenho certeza que você também vai gostar da idéia. Agora se você não conhece o Lattes, leia que o texto é grande mas muito interessante!
Mas o que é o Lattes?
Segundo o site do CNPq, a plataforma Lattes é a base de dados de currículos, instituições e grupos de pesquisa das áreas de Ciência e Tecnologia. Seu objetivo é compatibilizar e integrar as informações coletadas em diferentes momentos de interação da Agência (como Cnpq e Capes) com seus usuários, objetivando aprimorar a qualidade da sua base de dados e racionalizar o trabalho dos pesquisadores e estudantes no fornecimento das informações requeridas pelo Conselho.
Mas pra que tudo isso? Por que não um currículo simples?
O sistema de currículos Lattes surgiu da necessidade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) de gerenciar uma base de dados sobre pesquisadores em C&T para credenciamento de orientadores no país. Antes do Lattes, tudo isso era feito em papel, em um sistema de currículos específico para credenciamento de orientadores (MiniCurrículo). Nessa época, a Agência acumulou cerca de 35 mil registros curriculares da atividade de C&T no país. Embora esses instrumentos tenham viabilizado a operação de fomento da Agência, a natureza das informações dificultava uma plena utilização dessa base de dados em outros processos de gestão em C&T. Por exemplo, não era possível separar co-autores ou mesmo contabilizar índices de co-autoria nos currículos.
Tá, mas agora me explica como se eu tivesse 5 anos!
O currículo Lattes permite à Instituição uma fácil visão e avaliação curricular dos docentes e discentes contemplando os seguintes pontos (via Wikipedia):
- Estabelecer uma imagem institucional nos sensos;
- Formação de grupos de trabalho e pesquisa;
- Avaliar o seu trabalho enquanto pesquisador;
- Diagnosticar o perfil do pesquisador com outros dentro de sua área de atuação.
- possibilita a visibilidade da produção docente por grupos de pesquisa consulta em qualquer lugar do pais;
- possibilidade de concessão de passagens para eventos científicos;
- participação de projetos.
- Em geral os órgãos de fomento consultam o currículo Lattes tornando-se de suma importância para as avaliações de produção científica.
Resumindo até agora
Para avaliar com mais facilidade alunos e professores envolvidos no meio acadêmico bem como as instituições em que eles fazem parte, o Lattes foi criado para que existisse apenas um único modelo de apresentação de dados. A partir da análise do currículo Lattes as pessoas/instituições podem pedir bolsas, financiamentos e verbas das agências governamentais. A coisa funcionou tanto que ele virou referência para concursos e até mesmo para o mercado de trabalho (algumas empresas já se baseiam no Lattes para escolha de candidatos).
Problemas
Mas nem tudo é lindo como parece. O lattes é cheio de problemas técnicos, problemas que os usuários reclamam desde o começo mas são obrigados a continuar usando. Para exemplificar um deles, você não pode simplesmente entrar e inserir os dados, digitando. É preciso escolher os dados num banco de dados da plataforma. Caso ainda não tenha cadastrado aquilo que você quer escrever, então primeiramente você precisa cadastrar para depois inserir o dado no seu currículo. Imagina fazer isso todo mês e com mil dados diferentes (do Brasil inteiro!)!!! Muitas pessoas passam meses com o Lattes desatualizado, exatamente pelo trabalho que é mantê-lo em dia. Mas se essa pessoa está em contato permanente com o meio acadêmico, é preciso deixar o Lattes sempre atualizado. Isso significa inserir toda e qualquer produção que esta pessoa esteja fazendo (apresentações, publicações, artigos e por ai vai). Quando você é inciante isso parece simples. Mas imagine depois de 10 anos de academia. A coisa vai ficando tensa.
Todo mundo que se preze no meio acadêmico tem um lattes. É a primeira coisa que a gente pesquisa quando quer saber mais (profissionalmente) sobre uma pessoa e sua formação. Lendo seu lattes eu sei “de onde você vem” e o que você tem feito. Dou aqui alguns exemplos de Lattes para que vocês entendem do que se trata: o meu, o da minha mãe e do meu orientador.
Outro grande problema está na tal comprovação. Aqui no Brasil confiança não é uma coisa que a gente tenha de sobra. E as pessoas começaram a mentir, inventar dados na hora de preencher o lattes. Então todas as instituições que utilizam o lattes começaram a pedir os documentos que comprovam que aquelas informações digitadas são verdadeiras. Ah, então você apresentou trabalho em evento? Onde está o certificado? Ah, então você publicou um artigo? Onde está a cópia dele na revista científica ou no livro? Ah, então você foi convidado pra dar aula ou ganhou um prêmio? Onde está o comprovante disso?
Agora você imagina o tamanho da pasta de documentos comprobatórios para uma pessoa como a minha mãe ou o meu orientador? Vocês deram lá uma olhada no currículos deles? Pois é, tem que comprovar CADA UM daqueles itens. Com papéis (xerox). O meu que ainda é curto já dá um trabalhão!!! E quem está envolvido com o meio acadêmico acaba tendo que fazer essa comprovação (documentos xerocados entregues e não devolvidos) muitas vezes no ano. As agências e instituições dizem que isso é necessário pois tudo precisa ficar devidamente comprovado e arquivado. Então o que fazer para não enlouquecer cada vez que for preciso comprovar os dados do lattes?
Proposta
Se os documentos são sempre os mesmos e só vão sendo acrescentados, por que não digitalizá-los e montar um arquivo digital e/ou online? No momento em que surgir a necessidade de comprovação, basta enviar um email com todos os arquivos (no formato desejado pela instituição, PDF por exemplo) ou colocar toda documentação em um CD. Assim não seria necessário gastar árvores e mais árvores com os papéis de xerox, além da economia de tempo e dinheiro.
1. Ah, mas as instituições precisam guardar toda documentação em arquivo para que no futuro tenham como comprovar, caso ocorram problemas.
Ok, se entregamos toda a documentação em CD, esse CD pode ser arquivado tanto quanto eram arquivados os papéis. Ainda ocupando menos espaço em armários. Se as informações forem enviadas por email a instituição pode criar um banco de dados online com direito a backup – que aliás é muito mais seguro.
2. Ah, mas CD estraga!
E papel não? Papel mofa, é comido por cupim e pode pegar fogo.
3. Ah, mas ai cada um vai entregar em um formato diferente, em um CD ou programa diferente e teremos problemas para abrir os arquivos, vai dar muito trabalho.
Uma adaptação será necessária, isso é fato. Toda mudança exige adaptações e problemas não previstos podem acontecer no caminho. Mas é possivel começar instituindo em que formato os arquivos serão aceitos e criando regras a respeito dessa entrega.
4. As pessoas podem alterar documentos no formato digital. Como vamos no precaver contra falsificações? Só o papel tem esse poder. (Tá essa última frase foi irônica!)
Quando as pessoas querem falsificar um documento elas falsificam no formato digital, no papel e em qualquer lugar. Problemas com falsificações ocorrem em qualquer formato. Até porque as xerox que entregamos não são autenticadas em cartório e mesmo se fossem também seriam passíveis de falsificação. Sempre existirão pessoas tentando enganar o sistema, isso independe do formato.
Bom, eu poderia ficar aqui descrevendo os mil problemas que as agências e as instituições vão criar. Mas ao invés disso vou gastar o final do meu texto fazendo um apelo:
Se você é professor e está envolvido em bancas de concursos, escritas de textos dos editais ou é funcionário das agências de fomento, esse apelo é para você. Sabe quando dizem que não é possível mudar o mundo mas é possível mudar nossa realidade? Então, essa é hora. Proponha essa idéia ai no seu campo de trabalho. No próximo edital de concurso, vagas, bolsas ou qualquer um deles, peça a comprovação do lattes em formato digital. Se quiser eu ajudo você a pensar melhor nessa idéia. Mas vamos mudar essa forma caquética e antiquada de fazer as coisas na academia. Essa é a hora!
Os alunos agradecem, as árvores agradecem, o nosso bolso agradece e tenho certeza que você também vai agradecer depois de perceber os benefícios.